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200 anos da independência e da iniciação de D. Pedro I na Maçonaria

7 de setembro: 200 anos da independência do Brasil

Hamilton Mendes – Colaboração

Citada superficialmente nos livros de história, a participação da Maçonaria no movimento de independência do Brasil foi de fundamental importância para seu sucesso, e remete as figuras de Gonçalves Ledo e José Bonifácio. Dois maçons influentes junto ao príncipe regente Dom Pedro, mas que defendiam posições divergentes.

Homem de negócios, Gonçalves Ledo iniciou os estudos de Direito em Coimbra, porém não concluiu o curso para cuidar dos negócios da família.

Bonifácio estudou Ciências Naturais e Direito em Coimbra, morou mais de trinta anos na Europa, tendo passado dez anos de sua vida percorrendo aquele continente, e de volta ao Brasil (1819) foi Vice-Presidente da Junta Governativa de São Paulo (1821), e depois foi para o Rio de Janeiro onde foi nomeado ministro do príncipe regente D. Pedro.

Respeitados e diligentes, estes dois homens influenciaram os destinos do Brasil e da maçonaria há exatos 200 anos.

Com posições diferentes, Ledo e Bonifácio se enfrentaram na maçonaria, representada pelas correntes liberais que buscavam manter a união do Brasil com Portugal e outras que buscavam a separação total e até um regime republicano. No entanto, mesmo havendo diferenças internas, a maçonaria levou o príncipe a tomar decisões e por fim proclamar a independência do Brasil.

 200 anos da iniciação de D. Pedro

Com o país comemorando 200 anos do Grito do Ipiranga, neste dia 7 de setembro de 2022, é importante registrarmos uma outra data bastante significativa, e também com grande carga de simbolismo na história do movimento que culminou com a independência do Brasil.

Trata-se do dia 2 agosto de 1822, pouco mais de um mês antes do histórico evento, data em que D. Pedro, teve sua iniciação na Maçonaria, conforme registrado na ata do Grande Oriente do Brasil, onde consta “ter o Grão-Mestre da Ordem proposto para ser iniciado nos mistérios da Ordem, Sua Alteza D. Pedro de Alcântara, Príncipe Regente do Brasil e seu defensor perpétuo”.

Aprovada de forma unânime a proposta, D. Pedro foi teve sua iniciação conforme prescrevia a liturgia maçônica, prestou juramento e adotou o nome heroico de “Guatimozin”, em alusão a um dos nomes dados por cronistas espanhóis ao último imperador asteca.

Pressões, enfrentamentos e o “Dia do Fico”

Tendo como princípios Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a Maçonaria inspirou mudanças e revoluções sociais no mundo inteiro. No Brasil, vários movimentos sociais foram influenciados por sua atuação, notadamente o da independência.

Pode-se dizer que tudo começou em 1908, quando o Brasil foi alçado à condição de Reino Unido à Portugal e Algarves, em decorrência da fuga da família Real Portuguesa de sua terra natal, em função da ofensiva das tropas de Napoleão Bonaparte. Como o Brasil tornou-se a sede desse Reino Unido, muitas transformações políticas, econômicas, culturais e sociais, ocorreram por aqui nesse período.

A atuação política dos Brasileiros, desde os mais radicais até os mais moderados, passou a ter amplo destaque devido a presença do príncipe regente D. João VI com a família Real aqui. Entretanto, após a queda do Império Napoleônico, em 1815, uma onda de reconfiguração política deslanchou em toda a Europa, atingindo também Portugal.

Em 1820, houve a Revolução Liberal do Porto com grande apoio da população portuguesa, que passou a exigir a convocação das Côrtes para a elaboração de uma nova Constituição para o Reino de Portugal.

Os membros da Revolução também exigiram a volta da família Real Portuguesa, que ao sair do Brasil, deixa D. Pedro, filho de D. João VI, como príncipe regente do país. D. Pedro, no entanto, não ficou sozinho. Apoiado e aconselhado por homens de grande influência da época, o regente teve como amigo, ministro e conselheiro o maçom José Bonifácio de Andrada e Silva.

A situação política fervilhava, e o ano de 1821 foi permeado por intensas discussões nas Côrtes de Lisboa. O Brasil na condição de membro do Reino Unido, também enviou para as Côrtes seus representantes, entre eles Antônio Carlos de Andrada, irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva, um dos arquitetos do Império do Brasil.

Os portugueses desejavam a volta do Brasil à condição de Colônia de Portugal e, em face da resistência dos brasileiros a essa perspectiva, começam a exercer maior pressão.

Uma das manobras foi a tentativa de obrigar o príncipe D. Pedro a regressar a Portugal, a pretexto de concluir seus estudos, deixando então os brasileiros sem representante legítimo em seu solo.

O episódio mais emblemático que ilustra esta situação foi o envio de tropas portuguesas para levar o príncipe de volta e que, graças à pronta atuação dos maçons que o cercavam, resultou na decisão de D. Pedro por ficar no Brasil e proclamar, em 9 de janeiro de 1822: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto, diga ao povo que Fico”.

D. Pedro ainda fez mais, e ao visitar o navio UNIÃO, da Divisão Auxiliadora Portuguesa, esquadra que o viera resgatar, deu ordens para que retornassem a Portugal ou seriam hostilizados como inimigos.

Assim, apesar de revoltados, as tropas Portuguesas retornaram a Portugal, e outras que posteriormente foram para cá mandadas, foram proibidas de desembarcar no Brasil, posto que, acentuava-se o movimento pela Independência e, D. Pedro decretou inimigas as tropas Portuguesas que tentassem desembarcar no Brasil.

Os bastidores

Com o movimento pela Independência ganhando corpo, os maçons cuidaram de encaminhar ao Senado da Câmara uma sugestão que fortaleceria ainda mais a figura do futuro imperador: a 13 de maio de 1822, a instituição concedeu o Título de Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil, ao Príncipe Regente D. Pedro.

Pouco depois, em 13 de junho de 1822, na maçonaria, foi proposto e aceito o nome do candidato Príncipe D. Pedro. Em 17 de Junho de 1822, a Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro, desdobra-se em mais duas Lojas, “Esperança de Niterói” e “União e Tranquilidade”, tornando possível a criação do que viria a ser o Grande Oriente do Brasil, onde só se admitia para iniciação e filiação em suas Lojas, quem se comprometesse com o ideal da Independência do Brasil.

Finalmente, em 2 de agosto de 1822, o príncipe regente passou a fazer parte do Quadro da Loja “Comércio e Artes na Idade do Ouro”.

Em 05 de agosto de 1822, por proposta de Joaquim Gonçalves Lêdo, que presidia os trabalhos, foi aprovada e feita a exaltação de D. Pedro ao Grau de Mestre.

João Carlos Scardua Saade (2017), cita Assis Cintra, que relata “no livro de Atas das Sessões do Grande Oriente Brasileiro, ano 1, ata de 20 do mês maçônico (20 de agosto) de 1822, consta que, tendo sido convocados maçons membros das três lojas metropolitanas, em uma sessão extraordinária, presidida pelo primeiro Vigilante Joaquim Gonçalves Ledo, no impedimento do Grão Mestre José Bonifácio de Andrada e Silva, aquele proferiu do sólio veemente discurso, demonstrando com sólidas razões, que as circunstâncias políticas da pátria, do rico, fértil e poderoso Brasil, exigiam que a sua categoria fosse inabalavelmente firmada com a proclamação da independência.

Explicou o mesmo grande Vigilante, Gonçalves Lêdo, a necessidade de ser sua moção discutida, para que, aqueles que pudessem ter receio de ser precipitada a medida de segurança e engrandecimento da pátria, ficassem convencidos, pelo debate, de que a proclamação da Independência era a âncora da salvação do Brasil.

Passando a palavra à assembleia falaram diversos membros e todos aprovaram a moção reconhecendo a necessidade imperiosa de se fazer a Independência do Brasil. Ainda nessa sessão, foi fixada a data de 12 de outubro, aniversário do Príncipe Regente, para a solenidade da proclamação.

Na sessão de 23 do mês (23 de agosto) de 1822, ainda presidida por Gonçalves Lêdo, foram nomeados os comissários que deviam ir tratar da aclamação nas diferentes províncias entre elas: Minas, Pernambuco e Bahia. Vários maçons ofereceram as somas necessárias para as despesas de viagens dos comissários.

Nomeou-se também comissão para ir agradecer, respeitosamente, ao Augusto Grão-Mestre Guatemozim (D. Pedro), as fraternais felicitações que, de São Paulo, dirigira ao Grande Oriente”.

Independência ou Morte

O cenário político era tenso, e em 7 de setembro de 1822, D. Pedro ao receber dos emissários Paulo Bregaro e Antônio Cordeiro, sua correspondência, composta por cinco cartas, tudo se precipita.

João Carlos Scardua Saade relata em seu texto “A Maçonaria e a Independência do Brasil” – 2017 – o que narra para a história o maçom Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, vigário de Pitangui em Minas, e confidente de D. Pedro, que o acompanhava na viagem a São Paulo: “O Príncipe mandou-me ler alto as cartas trazidas pelos emissários. Eram elas: – 1) As Côrtes exigindo o regresso imediato do Príncipe, a prisão e processo de José Bonifácio; Princesa Leopoldina recomendava prudência e pedia que o Príncipe ouvisse seu Ministro; – 3) O Ministro José Bonifácio dizia ao Príncipe que só havia dois caminhos a seguir: partir para Portugal imediatamente e entregar-se prisioneiro das Côrtes, como estava D. João VI, ou ficar e proclamar a Independência do Brasil, ficando seu Imperador ou Rei; – 4) Chamberlain, agente secreto do Príncipe, informava que o partido de D. Miguel, em Portugal, estava vitorioso e que se falava abertamente da deserdação de D. Pedro em favor de D. Miguel; e 5) D. João aconselhava ao filho obediência à lei portuguesa. D. Pedro tremendo de raiva tomou os papéis de minhas mãos e os jogou no chão. Eu os apanhei e guardei.

Virou-se para mim e disse: E agora padre Belchior?

Eu disse: Se Vossa Alteza não se faz Rei do Brasil será prisioneiro das Côrtes e talvez deserdado por elas. Não há outro remédio senão a independência e a separação.

O que se seguiu a partir daí foram as declarações por nós conhecidas feitas por D. Pedro: *” De hoje em diante estão quebradas nossas relações, nada mais quero do governo Português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal!”; E diante de sua guarda de honra arranca do chapéu o laço azul e branco, símbolo da nação Portuguesa e atira-o ao chão dizendo:* “Laço fora soldados! Viva a Independência, a liberdade e a separação do Brasil!”; E assim foi imitado pelos que o rodeavam. Desembainhou sua espada e disse: * “Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a independência do Brasil”!; E erguendo-se de pé nos estribos diz: *”Brasileiros a nossa divisa de hoje em diante será INDEPENDÊNCIA OU MORTE!”. Estava agora proclamada oficialmente a Independência do Brasil.

Vale a pena relembrar que em 1822 a maçonaria Brasileira estava dividida em duas grandes correntes. Ambas favoráveis à independência! Uma delas, liderada por Joaquim Gonçalves Lêdo, defendia ideias republicanas. A outra de José Bonifácio de Andrada e Silva, acreditava que a solução era manter D. Pedro como Imperador em regime de monarquia constitucional.

João Carlos Scardua Saade explica que a passagem de D. Pedro pela maçonaria foi meteórica. Pelo menos oficialmente. Iniciado na Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro no dia 02 de agosto de 1822 com o nome de Guatimozim, foi promovido a Mestre 3 dias mais tarde e sagrado Grão Mestre 2 meses depois. Exerceu a função por apenas 17 dias.

Em 21 de outubro (uma semana após a aclamação como imperador), mandou fechar e investigar as Lojas que o haviam ajudado a proclamar a independência. E 4 dias mais tarde, sem que as investigações sequer tivessem começado, determinou a reabertura dos trabalhos com força e vigor. Mas os acontecimentos políticos impediram esta reinstalação, sendo o Grande Oriente do Brasil, fechado em 25 de outubro de 1822 e só ressurgindo em 1830.

Bibliografia:

1) A Maçonaria e a Independência do Brasil — A. Tenório D’Albuquerque – editora Aurora – 2) João, 1808 e 1822 — Laurentino Gomes — editora Nova Fronteira – 3) João Carlos Scardua Saade – “A Maçonaria e a Independência do Brasil” – Loja Grande Oriente do Brasil – 2017 – 4) A Maçonaria e a Independência do Brasil – Márcio Maciel Bandeira.

Redação

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