A nova direção do PSL de Araraquara foi nomeada diretamente por Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. Presidida por Rodrigo Ribeiro, afirmou ao O Imparcial que pretende identificar pessoas na cidade alinhadas com as ideias conservadoras defendidas pelo governo Bolsonaro, para que possam vestir a camisa da agremiação no pleito de 2020. A ideia é lançar uma chapa viável na disputa, além de, se possível, disputar o executivo. Se tudo der certo, e os nomes forem competitivos, a direção local do partido pensa em trazer o presidente Jair Bolsonaro para a cidade. “Brasília olha com muita atenção para Araraquara. Nossa cidade é notícia lá. Se tivermos uma chapa competitiva, acho que o presidente poderia ajudar a desequilibrar a eleição de Araraquara”, disse Rodrigo.
Ideia seria desequilibrar o pleito
O raciocínio de Ribeiro é baseado em números. Ele cita os 63% de votos que o presidente levou de Araraquara nas últimas eleições presidenciais para justificar a tese. O resultado, de acordo com sua avaliação, demonstraria claramente o perfil conservador do eleitor araraquarense, que somente estaria sendo administrado por um governo do PT devido à falta de confiança que a cidade tem nas opções que se apresentam ao Executivo. Para ele, o eleitor não confia plenamente nos nomes construídos pelos partidos locais nos últimos anos, e é isso o que provoca o racha. É nesse contexto, portanto, que ele enxerga a possibilidade de Bolsonaro ajudar a decidir o pleito local.
Moro, Damares….
O novo presidente do PSL local disse mais: se a ideia de viabilizar um partido forte na cidade der certo em tempo recorde (já para o ano que vem), o partido pensa em se mobilizar e trazer para a cidade nomes como o de Eduardo Bolsonaro, Sérgio Moro e da ministra Damares Alves. “Tenho certeza de que todos seriam abraçados por toda a nossa região”, disse.
Não combinaram com os russos
Ainda falando de Araraquara, a cidade recebeu a visita no último sábado do deputado Júnior Bozella. O parlamentar garantiu que o grupo alijado do poder no PSL local estaria em condições de voltar a fazer sua política em poucos meses. Bozella integrou, juntamente com o deputado Alexandre Frota, um movimento que tentou impedir Eduardo Bolsonaro de assumir o PSL em São Paulo. Eduardo assumiu e ontem foi anunciado que Frota foi expulso do partido.
Convite
Falando sobre Bozella, Rodrigo Ribeiro disse que ele já estava no partido antes de Bolsonaro entrar. “Ele é ligado aos antigos nomes do PSL local e teve um trabalho feito pelo grupo em prol de sua candidatura. Bozella tem sua postura, sua forma de trabalho. É legítimo, mas o conclamamos a trabalhar pelo governo Bolsonaro, a se alinhar conosco”, disse.
Dentre outras afirmações, Ribeiro explicou que quem assumiu o partido em São Paulo foi Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, e que, por isso mesmo, o projeto do PSL é maior do que apenas preparar o partido para as eleições municipais de 2020. Os planos seriam encontrar nomes alinhados com as ideias de sociedade do presidente, construir o partido de baixo para cima e viabilizar no país uma agremiação forte, que não apenas garanta sustentação ao governo Bolsonaro, como o viabilize para futuras eleições.
Conversa, sim, mas com limites
Perguntado pela reportagem se aceitaria sentar com as lideranças políticas de Araraquara para construir uma frente contra o PT na cidade, o novo presidente do PSL afirmou que “conversar é importante”, mas que tudo tem limite. De acordo com ele, é importante deixar claro as diferenças, mesmo quando o diálogo acontecer. “Nós não poderemos nunca criar uma frente com o PSL colado na Edna Martins ou no Barbieri, por exemplo. Quando vereadora, em 2015, a Edna trouxe uma professora para ensinar ideologia de gênero para professores na Rede Pública, e o Marcelo Barbieri foi militante do MR-8. Então não dá”, disse.
Canetada
Apenas para ilustrar o assunto, a coluna lembra ter colado em pauta na última semana alguns pormenores da política, e dentre os assuntos abordados falamos sobre canetadas e intervenções que Executivas municipais estão propensas a sofrer. Isso não é novidade alguma para quem milita na política, mas não é que nem bem soltamos o texto e o PSL local sofreu a tal intervenção? Pois é! E foi, mesmo, daquelas grandes, de cima para baixo. Mas cabe aqui uma consideração. Foi novidade? Ninguém esperava por ela? Honestamente, entendemos que ela já era esperada, sim…
Partido era de aluguel
O episódio envolvendo o PSL de Araraquara é resultado de tudo o que representou a construção do processo eleitoral envolvendo a candidatura de Bolsonaro em 2018, e reflete o momento vivido do ‘bolsonarismo’ no país. Partido tido como de aluguel nos bastidores da política, o PSL nunca foi protagonista em eleição alguma, e serviu sempre, e apenas para somar míseros segundos de TV para coligações majoritárias pelo Brasil afora.
Movimento pela direita
No caso do processo eleitoral de 2018, Bolsonaro defendeu colocar fim na velha política de trocas de favores e mensalões, combateu as antigas e nocivas práticas da política tradicional, mas entregou, em algumas ocasiões e estados, o partido para parceiros já inseridos nesse mesmo processo político. No caso específico de são Paulo, o que está acontecendo agora é que Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, homem bastante alinhado com Edson Salomão (líder da antiga Direita São Paulo, hoje Movimento Conservador), decidiu tomar o controle do PSL no estado e tratar de alinhar suas ações com o pensamento do presidente. Ou seja: o movimento parece definitivo, não tem volta.
Pensamentos de direita estão se disseminando
Pensadores como Olavo de Carvalho ajudaram, com seus questionamentos e ideias, a formar uma legião de jovens militantes de direita pelo país. Aguerridos, e muito bem organizados, grupos como o Direita São Paulo cresceram em importância a ponto de se abrirem para o resto do país, passando a influenciar e a formar novos jovens pelo Brasil afora. Agora denominado Movimento Conservador, o grupo, pelas mãos de Eduardo Bolsonaro, assumiu o controle do PSL em Araraquara e de outras Executivas pelo estado. O movimento, portanto, começou de cima pra baixo, mas já atua de baixo para cima na arregimentação de jovens militantes há tempos, e pelo o que se vê, vem conseguindo bons resultados.
Atitudes orquestradas
O fato de Eduardo tomar para si o controle do PSL de São Paulo da forma como tomou, chama a atenção para alguns fatos recentes da política recente brasileira envolvendo o clã. Dá para se entender, por exemplo, que muitas das atitudes bruscas, e aparentemente impensadas dos filhos do presidente não devem ser tão impensadas assim. Tudo parece orquestrado e parte de um plano muito bem elaborado: tomar o controle do PSL e fazer dele um partido 100% Bolsonarista.
Chegou sem querer?
A ideia parece bem clara. Bolsonaro é constantemente citado pela grande imprensa brasileira como o depositário da insatisfação da população brasileira com a política e com o político. Ou seja: a tese mais divulgada por aí é a de que o presidente somente chegou ao poder por ter um discurso alinhado a essa insatisfação popular e turbinado por um raro momento em que a política brasileira se viu fragilizada e escancarada em suas piores práticas através dos escândalos da Lava Jato. Bolsonaro, portanto, seria um fenômeno momentâneo e não teria sobrevida política depois do mandato atual.
Não está quieto como se pensa
Olhando com um pouco mais de atenção para Brasília fica bem mais fácil entender o movimento de Eduardo Bolsonaro no estado de São Paulo, O que se vê em Brasília, por exemplo, é um presidente aceitando o jogo do poder, permitindo, aparentemente de forma mansa o parlamentarismo disfarçado de Rodrigo Maia. Bolsonaro tem liberado muito dinheiro, mas muito dinheiro, para os deputados. Tudo para viabilizar as reformas. Trata-se, como bem diz, e não se cansa de dizer, todos os santos dias a grande imprensa de repetir a mais chula prática que outros governos já vinham fazendo há muitos e muitos anos no Brasil: comprar apoio, claro que através da liberação de emendas, algo previsto nas regras, mas não deixa de ser verdade. O que o movimento de Eduardo demonstra, no entanto, é que o bolsonarismo começa a se descolar de tudo isso.
Institucionalização do bolsonarismo
O PSL, ao que parece, inicia agora todo um processo de viabilização da direita no país. O partido pretende institucionalizar através do partido, e de forma organizada e orgânica a direita e suas ideias de sociedade. Tudo, baseado em teorias, em pensamentos e na intelectualidade de grupos e pessoas envolvidas com ela. É possível enxergar no movimento algo muito parecido com a frente que viabilizou o PT no início dos anos 80 no país. O momento e o pensamento dominantes naquela época eram férteis para o desenvolvimento de uma ação organizada de esquerda no Brasil, e o tempo mostrou o acerto daquele grupo: hoje a esquerda está consolidada no país e é o grupo a ser batido.
Institucionalização do bolsonarismo 2
O que se vê nas movimentações de Eduardo, Carlos Bolsonaro e dos pensadores ligados aos Bolsonaro, é que o movimento acontece agora no outro extremo da política. A ideia é viabilizar, é construir Bolsonaro como o líder da direita brasileira. O antagonista da esquerda. O movimento quer, em suma, capitalizar o sentimento da população de frustração e de desânimo com a política e com os políticos. O PSL tenta ser o antídoto, a vacina contra a volta da esquerda e contra a ascensão do centro, tradicionalmente muito ligado à velha política e a tudo o que se considera nocivo.
O PT da direita
Resumindo: PSL seria o PT da direita, deixando isolados ao centro da política os personagens que lideraram o país nas últimas décadas, nomes complicados para se ter ao lado em um palanque. O PSL isolaria essas lideranças e deixaria seus palanques livres para serem galgados por outras lideranças que viessem a se apresentar como opção eleitoral contra a esquerda nas eleições futuras. Gente envolvida com escândalos e com a velha política. Vai ser interessante ver isso.