Há exatos 05 dias em pleno Sydney Opera House na Austrália, o grande violinista Ray Chen e a Sydney Orchestra iniciam os primeiros acordes do sempre genial Tchaikovsky quando sou tomado de extremada emoção. Lágrimas incontidas sem entender inicialmente o motivo me levaram a uma cena aparentemente surreal. Revivi na memória, do nada, um sábado dos anos 70 onde bem no início da manhã adentro ao quarto de meus pais. Deveria ter 13 anos. Tento convence-los que precisaria ir à Convenção do Lions em uma cidade das Águas onde seria eleito para a direção do Leo Clube. A saída deveria ser imediata. Já tinha feito o planejamento: ônibus para Campinas, de lá uma baldeação e depois outra. Chegaria ao local do evento. Meus pais se assustaram, achavam que delirava. Insisti, lutei com a força do argumento e de forma inimaginável consegui a autorização, sem saber onde me hospedaria, nada. Eles permitiram. E não foi para se livrarem do insistente filho. Foi para apoia-lo em seus voos.
A música de Tchaikovsky tocou-me tão profundamente que estar em Sydney que até então parecia um sonho impossível, emocionou-me. Nunca parei de sonhar e voar. Devo este primeiro agradecimento muito emocionado aos queridos Neil e Hellé-Nice que até mesmo de forma insana sempre me apoiaram.
Minha amada madrinha de batismo Toninha que aqui está disse que já nasci assim, intrépido. Fui batizado na Igreja Matriz de São Bento, hoje nossa Basílica aos 23 dias de julho de 1963, três dias do meu nascimento. Da maternidade direto para a Igreja. Portanto a Matriz, queridos Padres Marcelo e Rodolfo, conheci antes de minha casa.
Vivíamos muito simplesmente. Ao lado de meus amados irmãos Marina e José, não saiamos da rua. As enxurradas deixavam mamãe maluca pois me atirava em todas elas. A Djalma Dutra onde morávamos era a rota inclusive de boiadas, acreditem. Foi uma infância muito feliz. Anos depois chega a loirinha Debora e em seguida Adriana a completar a bela e unida família constituída pelos meus pais. Hoje todos aqui graças a Deus, inclusive Adriana que nos assiste ao vivo com seu esposo Patrick pois moram nos EUA. Amo muito vocês querido irmão e queridas irmãs e as famílias que constituíram, são parte de mim. Igual saudação aos amados tios e tias, primos e primas tão queridos. Grato por tudo.
Aos 15, no Colégio Poli nos primeiros dias de aula vejo nas primeiras fileiras uma jovem de beleza e sorriso esculturais. Não consigo assistir as aulas. Somente nela pensava. Mas não conseguia atrai-la. Foi então que tive a ideia de criar um grupo de estudos para matérias difíceis. Estudava antes e mostrava erudição. Tudo somente para adentrar na casa dela onde fazíamos as reuniões. Mas eram somente estudos. Um dia uma querida amiga que deve estar nos assistindo ao vivo pois reside em SP me disse: você não conseguira conquista-la. Ela gosta de você como amigo. Mas não suporta seu jeito exibicionista, algo assim. Tomei uma decisão. Vou conquista-la mesmo que tenha que radicalmente mudar. Poucos meses depois iniciaria o namoro que durou mais de 7 anos. Casamos em 01/02/1986. União que graças a Deus nos sustenta até hoje, passados mais de 37 anos. Uma vez mais sonhei e voei. Rosangela foi, é e será tudo em minha vida. Obrigado por você existir da forma como é, mesmo que as vezes Sr. Bispo ela seja muito brava comigo.
Neste meio tempo, a militância política na Juventude do PMDB a clamar pela redemocratização do país. Do Leo Clube à presidência a Juventude pude desenvolver requisitos de liderança aprendendo a trabalhar sempre em equipe. No mesmo período a Igreja Católica e movimentos juvenis nos levavam a conscientização Cristã pratica e doutrinaria orientados pelos emblemáticos Padres Baldan e Luiz Carlos. Muito antes o instinto solidário já embarcava em minha essência por exigência de minha mãe. É conhecida a história da bicicleta que ela se negava presentear-me. Sabia dos perigos. Foi minha saudosa Tia Rachel que a convenceu. Então impôs uma condição: que mensalmente amarasse uma caixa de papelão e arrecadasse alimentos para os pobres. Cumpri a determinação com dedicação e empenho por muitos anos por todo o bairro do São Jose.
Esses princípios da fé aplicada que foram potencializados pelo enigmático Shoenstattiano Padre Miguel Lencastre se inseriram em mim desde sempre e foram com Rosangela transmitidos as nossas amadas filhas. Mas antes disso preciso relembrar dezembro de 1980. Fui aprovado para a segunda fase da Fuvest. Sonhava uma vez mais voar para nada menos que o Largo de São Francisco. Na verdade, o sonho mesmo era a cidade grande. Viver em São Paulo me fascinava. Mas não tinha chance alguma. Eram quatro dias de provas. No segundo dia a horrível prova de química que eu não suportava. Zerei certamente. E zerar em apenas uma delas significaria exclusão. Decidi não continuar as provas. Foram decididamente, Rosangela e mamãe que me obrigaram a continuar. Resultados divulgados. Não fui aprovado. Mas havia tido êxito para a PUC e a Fefiara. Meu tio Welington inspirador desde o primeiro momento para a vocação de amor ao Direito, hoje eu diria, amor à Justiça mais que ao Direito, queria que fizesse a Fefiara, hoje nossa Uniara. Eu tinha enormes referencias da escola que já se destacava e muito em nossa cidade. Mas nada me faria mudar de ideia: queria viver em São Paulo.
Fui efetuar a matrícula na PUC e na antiga rodoviária de São Paulo compro a Folha de São Paulo. Sento em uma floreira e após ler as notícias sobre política, vi os aprovados na segunda fase. Procurei o nome dos meus amigos. Não o meu. Já fechando o jornal resolvi verificar. E ali estava: Direito USP, Fernando Passos. Depois do primeiro beijo em Rosangela essa certamente foi a grande emoção da minha vida por muitos anos. E não é só. O caipira de Araraquara escolhido pelas duas turmas do noturno para ser orador da turma na Colação de Grau em 1985. Isso mesmo a emblemática turma de 1985 aqui hoje representada pela Sara Correa e Bei, amigos carismáticos além de outros e outras que nos assistem ao vivo pelo Instagram.
Nas madrugadas de estudante, assisto copiosamente os debates na Tv buscando a redemocratização do país. No emblemático programa do Ferreira Neto ouço Almino Affonso, um dos maiores homens públicos do Brasil. Encantamento absoluto. Passo a militar em seu comitê de campanha ao Senado apenas com a intenção de apertar-lhe as mãos. Assumo em poucos dias a recepção do comitê. Anos mais tarde ele me convoca para ser seu Chefe de Gabinete na Vice Governadoria no Palácio dos Bandeirantes. Quantas lições. Ali conheci grandes homens e mulheres públicos. Ali conheci a beleza e o horror da política, pois este, o horror era sempre repelido pelo Dr. Almino. Aqui mais um agradecimento a este grande homem público.
No meio disso o Prefeito Medina, o homem que idealizou e implantou o cinturão de acesso a saúde e educação dos mais necessitados de nossa cidade me leva ao Governador Montoro, grande democrata e este me nomeia para a Direção do Escritório do Governo em Araraquara. Isso final de 1986, eu com 23 anos. Missão substituir o insubstituível Dimas Ramalho. Aqui teve início a grande admiração que sempre nutri pelo Dimas. Mas nem tudo são flores. Aceitaria ou não? Rosângela estava gravida de 07 meses. Esperávamos com incontido amor nossa primogênita Mariana. Como abandona-las em São Paulo? Cargos são passageiros. Foi Medina que me aconselhou: ouça seu pai. Ele dirá o que deve ser feito. Uma vez mais papai foi decisivo. “Venha filho. Você não tem o direito de dizer não. É uma linda função e você muito terá o que fazer e aprender”. Aceitei.
Ano próximo, Governador Quércia confirma minha nomeação e então voltamos definitivamente para Araraquara. Mas em março de 87 Mariana chegaria. Rosangela trabalhou até os últimos dias. Dizia: gravidez é benção, não é doença. O médico marca o parto para 15/03. Meu Deus seria a posse de Quércia e Almino. Não poderia faltar. Que dilema. O que fazer? Vou ao médico. Explico a situação e o parto é transferido com toda segurança para o dia 16. Nunca pedi desculpas a Mariana e talvez não precise pois tenho certeza que esse dia a mais ela curtiu o ventre de uma mãe tão amorosa o que se confirmou com a beleza da nenê que nascia. Mariana, nossa primogênita. Hoje mulher crescida, casada, mãe, profissional de respeito, mulher de desafios, constituiu ao lado de André linda família e nos enche de orgulho.
Final de 1987 sou eleito para a função de vereador. O mais jovem à época e o quarto mais votado da cidade. Anos difíceis. Na oposição, estava isolado e contribuía para isso é verdade. Mas era aguerrido. Eis que surge a Constituinte de 1988, nosso grande marco democrático. Ali se preceitua que os Municípios seriam regidos por Leis Orgânicas. Ninguém sabia faze-la. O Presidente da Câmara contrata um esboço. O Vereador Paulo Homem se insurge e diz: “temos aqui o Fernandinho, formado na São Francisco. Saberá o que fazer”. Inacreditável. Fui eleito por todos o relator e fizemos algo incrível. A sociedade civil participando ativamente. Conseguimos e nossa Lei Orgânica serviu como modelo para muitas cidades.
Mas nas lições de casa trouxe a indissociabilidade de uma vida justa com o princípio da lealdade. Assim embora oposição elogiava muito as boas ações do Prefeito De Santi. Eis que chega a reeleição. Como uma antecipação das fake news atuais jogam me contra o povo como se traísse a confiança de meu querido amigo Massafera. Somente ele entendeu e apoiou meu gesto como grande homem público e ser humano que é. Assim apesar de votos pessoais não faltarem ainda fui o nono mais votado a legenda não alcançou os votos necessários e sai em definitivo da vida pública eleitoral para nunca mais voltar.
Mas antes disso, em 1989 concebemos Mayara. Puro encantamento. Minha companhia noturna. A mãe e Mariana dormiam cedo. Eu chegava sempre tarde. Ficava horas ouvindo ópera e lendo jornais com a pequinina a brincar ao meu lado. Quanta saudade. Hoje mulher feita, mãe, madura, trabalhadora, educadora de raiz, constituiu com Hélio também linda família a nos orgulhar em demasia.
Advogar era o caminho então. E acabei por lançar-me de cabeça na profissão. Quantas madrugadas, trancado no escritório e Rosangela colocando as crianças no carro para trazer café perto das seis horas. Quantas vezes! Mas ainda sentia que poderia fazer algo mais. Meu pai, ele uma vez mais, me disse: “procure o Prof. Luiz Felipe, homem de valor. Ofereça se para o Magistério. Ele o ouvira”.
Fui de peito aberto. Sei que ele acompanhou minha vereança. Fui admitido de pronto, para substituir quando necessário Dimas Ramalho. E assim no caminho dele fui efetivado primeiramente no Curso de Administração e depois no Direito. Milhares de alunos passaram por minhas aulas nesses mais de 30 anos. Mas Prof. Luiz Felipe em sua generosidade me fez ainda Coordenador do Curso de Direito, sendo hoje um dos mais antigos do país em atividade plena, Chefe de Departamento e tantas outras funções. A Uniara tornou-se minha vida verdadeiramente. Ambiente de trabalho extraordinário da mais alta direção ao mais humilde colaborador. Somos uma família e vários aqui estão. Muito muito grato pelo acolhimento. Agradeço de maneira especial minhas zelosas secretárias e os Professores e Professoras do Direito, na pessoa de meu timoneiro Prof. Edmundo. Perdoem-me as falhas. Procurei minimiza-las, mas são inevitáveis. Uma vez mais meu pai tinha razão: Prof. Luiz Felipe é realmente um grande brasileiro, um grande ser humano, um grande educador e acima de tudo um grande líder de equipe. Grato Professor por tudo.
Nessa esteira devo orgulhar-me da confiança que os homens públicos de nossa terra sempre depositaram em mim. Dos já mencionados e mais recentemente Marcelo Barbieri e Edinho Silva. Sempre souberam que podem contar comigo como múnus publico, por amor a minha terra. Grato estimados Prefeitos por toda confiança; também muito os admiro e à Câmara Municipal, aqui representada por seu ilustre Presidente e vários vereadores e vereadoras por tanto carinho e respeito.
Preciso terminar não sem antes lembrar de meu histórico na Fecomercio/SP onde há 30 anos, por obra de Ivo Dall´Acqua Jr. faço parte do Conselho de Juristas presidido pelo Ínclito Dr. Ives Gandra da Silva Martins, jurista maior de nosso país. Por confiança nomeou-me para auxiliar a CNC no projeto do Código Comercial. Que aventura. Rodamos o país e duas viagens internacionais sempre liderados por Fabio Ulhoa Coelho, Marcelo Barreto e Laercio Oliveira, hoje por honra nossa, Senador da República. Construí solidas amizades por todo país. Quanto aprimoramento profissional e intelectual galguei nesta jornada. Grato a todos pela confiança.
Os novos desafios: Presidir a Academia Araraquarense de Letras, aceitar a publicação do livro “Ouvido à escuta de encontro ao mundo” com mais de 200 crônicas e o ícone prefácio de nosso genial imortal Ignácio de Loyola Brandão, publicações de artigos científicos, participações em Congressos Nacionais e internacionais e agora a Santa Casa; tudo feito com muita dedicação e empenho. Espero estar sendo útil de alguma forma e retribuindo a Araraquara por tudo o que ela me deu.
Esta linda Capela que nos protege nesta manhã fruto de uma promessa, preside o nosso escritório de advocacia. Aqui temos uma equipe exemplar. Nossa Thereza, patrimônio do escritório cuida de nós todos como zelosa mãe. Mas é forçoso reconhecer que nada disso seria possível sem nosso timoneiro Webert. Nasceu quase seis anos depois de mim, mas de alguma forma nasceu umbilicalmente ligado a mim. Grato Webert por tudo. Grato Tia Zilah pelo Webert em nossas vidas.
Impossível não terminar lembrando somente de mais um voo. Voltava de Fortaleza em uma jornada pelo Código Comercial. No desembarque em Brasília preciso apressar-me para não perder a conexão de volta para casa. Abro o celular. Uma foto estranha e um pedido de ligação urgente. Pareceu-me um exame médico. Gelei. Liguei para Mariana já soando frio. Ela me dá a notícia aos gritos: pai, você será avô. Meu Deus! Até hoje me emociono. Colegas de voo me auxiliaram. Assim veio o carismático Bento, logo mais nossa lisboeta Maria Anna, a seguir a preciosa Lara e por fim a mais sorridente criança que já vi, a pequenina Isabela. Novas e boas razões para se viver, para continuar. Grato filhas e genros por presentes tão sublimes.
Aproveito para pedir perdão a todos os que posso ter ofendido por atos ou omissões ao longo desses anos. Certamente isso ocorreu. Peço-lhes perdão de coração. Mas tenham uma certeza: foi involuntário. Tudo que mais desejo nesta vida é fazer o bem e não magoar ninguém. A prova está aqui, refletida nesta manhã por todos e todas presentes e as centenas de pessoas que nos veem pela internet ou enviaram belíssimas mensagens. Destacarei apenas uma neste contexto: “Te admiro porque és um homem de peleia justa e não de tocaia” Um belo resumo do que sempre tentei ser.
Grato Dom Luiz Carlos Dias. Ter aqui o senhor Bispo a celebrar esta extraordinária cerimonia, 04 senhores dignos Padres de nossa Santa Igreja e parte do Conselho da Cúria me faz ainda mais compromissado com os desígnios de Jesus Cristo e nossa Mãe amorosa. Assim seja. Amém.