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Aguinaldo Ribeiro Feitoza, um coração sertanejo

Desde que era apenas um menino, Aguinaldo tem prazer e alegria em tocar e cantar música sertaneja raiz. Ser canhoto nunca o impediu de tocar direito, pois toca com a alma e o coração

Da redação

A vida de Aguinaldo Ribeiro Feitoza daria um daqueles belos ‘modões’ de viola ou uma novela com personagens que, apesar de toda adversidade, nunca desistem de lutar e de sonhar.
Morador da vizinha Américo Brasiliense, nasceu em Soliedade no Rio Grande do Sul, na fazenda Campo do Meio, Canabrava,em3 de agosto de 1939, o filho de Olímpio Honorato José de Souza e de Raimunda Ribeiro Feitoza,sempre carregou as essências gaúchas do pai e pernambucanas da mãe.
Em Soliedade, Aguinaldo viveu com a família até os sete anos, mas ele volta ao tempo quando ouvia contar que seu pai quando era casado em primeiras núpcias foi traído pela esposa. Era uma época onde não se aceitava traição e se lavava a honra e ele acabou matando seu rival e a esposa.
Como passou a ser perseguido por algumas pessoas, seu pai, sugeriu que fossepara o Rio Grande do Sul.
Olímpio foi, mas não sozinho. Carregou consigo Raimunda, uma bela empregada da fazenda e com ela construiu uma nova história. Ali nasceu o primogênito Aguinaldo.
Quando o fogo ‘apagou’ na cidade e quase ninguém mais falava da trágica traição e de suas consequências, o pai de Aguinaldo resolveu voltar para Bahia. Assim Aguinaldo e sua família chegaram ao bairro Campo Formoso, mas logo seu avô comprou uma fazenda para seu pai, a Olho D’água, onde nasceram suas irmãs Maria Eunice e Maria Helena. As irmãs mais velhas Corina e Cinobilina são do primeiro casamentode seu pai.
Nesse lugar, Aguinaldo viveu até os nove anos, pois com a morte de seu pai suamãe resolveu se mudar.
Aguinaldo conta que na época em que o pai morreu, como ele e suas irmãs não eram registrados com o nome de seu pai, não tiveram direito a herança, a nenhum bem.Suasirmãs mais velhas se recusaram a dar a ele e as irmãs qualquer tipo de bem. “Foi um desleixo do meu pai não ter registrado a gente”, ri ele.

Uma longa viagem

Assim resolveuvir para o estado de São Paulo, naregião de Penápolis, onde o pai de sua mãe já estava instalado. Era fim de década de 40. “O meu avô paterno não queria que a gente viesse, mas minha mãe estava irredutível, embora a família do meu fosse rica, ela não aceitava muita ajuda, mas não que fosse orgulhosa. Passei muita fome”, conta ele, acrescentando que vieram de navio. “A viagem durou 22 dias de Juazeiro da Bahia até Bom Jesus da Pirapora. Nessa viagem pegamos cesão, maleita, febre tifoide, toda ‘sorte’ de doenças”.
Depois dessa longa jornada pegaram um trem na Central do Brasil para vir para São Paulo, onde desceram na Estação da luz e posteriormente viajaram paraPenápolis para ficarem comAntonio Ribeiro Feitoza e Josefa.
Depois de quatro meses que estavam instalados, Antônio, avô de Aguinaldo recebeu um convite para ir para o garimpo no Mato Grosso. “Fomos todos. Era como viver na selva, no meio do mato, morando em um ranchinho beira chão. A maior parte do se comia era caça do mato”.

Capangas

Ficaram durante oito meses. Não ficaram mais porque tiveram que enfrentar capangas e só não morreram por que um dos capangas os poupou. Pegaram a jardineira e foram para Andradina, onde foram catar algodão. Ficaram ali por quatro anos. “Depois fomos para Valparaiso. Ali, ele o tio Geraldo formaram uma dupla sertaneja e como ambos fosse canhoto batizaram de Canhoto e Canhotinho. Um tocava viola caveira de pau e outro violão. A inspiração musical veio de Tonico e Tinoco depois de verem adupla cantar”.
Aguinaldo que aprendeu a tocar viola sozinho, conta que um locutor da Radio Cultura de Valparaiso se interessou pela dupla e sempre chamava tio e sobrinho para cantarem ao vivo. “A gente cantava também nos altos falantes da Vila”.

Nascem estrelas

Depois de algum tempo, novamente semudaram. Desta vez para a fazenda Santa Clara, onde o dono Alcides Castro Prado era apaixonado por música sertaneja raiz. “Ele nos chamou para que a gente cantasse uma moda para ele ouvir. Tocamos e ele nos elogiou dizendo: será que da minha fazenda vai sair outro Tonico e Tinoco? E até sugeriu que a gente participasse de um concurso de violeiros em Guararapes. Eram 65 duplas sertanejasao longo do concurso fomos ficando. Eu brincava bonito na violinha”, ri gostosamente.
Para o final do concurso Aguinaldo compôs uma música para apresentar e o patrão que os levou até lá disse que se ganhassem daria a eles novos instrumentos. “Eu me lembro de que um dos jurados foi o Cascatinha da dupla com a Inhana que no final disse que a vitória era nossa”.

Tamoio

Coma promessa de uma vida melhor vieram parar na Usina Tamoio, onde permaneceram por dois anos cortando cana. Nesse interim seu tio Geraldo casou-secom uma moça de lá, a Ana Maria e ficou no Tamoio. Hoje residem em Campinas. A dupla momentaneamente parou de existir. As tentativas de novos parceiros não vingavam. Até quem 1965 arrumou um novo parceiro, Marino Azevedopara fazer a dupla que foi rebatizada de ‘Tião canhoto e João da Serra”. Chegaram a ganhar um concurso em Araraquara, na Portuguesinha, onde disputaram com 45 duplas sertanejas. “O locutor era o Nhô Zélio”.
Aguinaldo conta que ficou sem formar nenhuma dupla durante muitos anos até que encontrou o soldador aposentado eapresentador do Recanto Caipira, da Radio Maranathá, Alberto Vais Sobrinho, o Ouro Fino. Assim surgiu a dupla Tião Canhoto e Ouro Fino.
Aliás a dupla acaba de lançar o primeiro CD intitulado ‘Recordação de mineiro’ que traz16 composições, cinco de autoria da dupla.
Para quemgosta de ouvir música raiz pode adquirir o CD pelo fone: (16) 997 132733, além de contratar shows.

Redação

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