Início Cidade Apicultores e agricultores alegam que pulverização área da cana causa danos

Apicultores e agricultores alegam que pulverização área da cana causa danos

Conforme informações de apicultores e agricultores, há atualmente uma massiva mortandade de abelhas e também de outros animais na região de Araraquara. Os produtores relataram morte de galinhas d’angola, peixes, pássaros e abelhas em propriedades cercadas por plantações de cana-de-açúcar. “Existe uma distância mínima para pulverização que não está sendo respeitada. Se não proibir logo essa pulverização de veneno, nada vai acontecer, porque não há fiscalização”, afirma um produtor rural.

Os apicultores também relataram suas perdas. “Depois da pulverização, de 90 enxames, só sobraram 27. Tem que proibir a pulverização aérea, porque eles sobrevoam até a nascente e não tem fiscalização”.

“Um dia desses tive que escapar da chuva de veneno, só deu tempo de entrar na caminhonete, que ficou branca por causa do agrotóxico”, relatou outro apicultor, que perdeu cerca de 400 enxames após a pulverização.

Desolados, pequenos produtores também descrevem seus constantes prejuízos. “Os frutos não vingaram mais depois que começaram essas pulverizações, e o que tinha morreu: abacate, laranja, tangerina, caqui, mamão, as hortas. Perda total”.

Um criador de peixe viu substâncias oleosas nos tanques após a aplicação de agrotóxico, e os peixes agonizaram e morreram. “Além disso, a gente não vê mais codorna, juriti e muitos pássaros sumiram”.

Em reunião com o vereador Edio Lopes (PT), no dia 29 de março, produtores rurais pediram urgência na tramitação do projeto de lei que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos na cidade. Discutiram, também, o colapso das colmeias que já está atingindo a região. A mortandade de abelhas, batizado de Colony Collapse Disorder (CCD), foi identificada inicialmente nos Estados Unidos e na Europa, justificando a proibição de inseticidas da classe dos neonicotinoides e da prática de pulverização aérea em toda a União Europeia.

De acordo com pesquisas de Osmar Malaspina, professor do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro, inseticidas desta mesma classe estão relacionados à matança de abelhas na região.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), as abelhas, sobretudo as silvestres, polinizam 71 de pouco mais de 100 culturas que respondem por 90% da oferta global de alimentos.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) chegou a comprar uma briga – desigual – com a indústria dos agrotóxicos, ao proibir temporariamente a aplicação de quatro inseticidas em lavouras que recebem insetos polinizadores: fipronil (um pirazol) e três neonicotinoides, imidacloprido, clotianidina e tiametoxam, mas perdeu a queda de braço quando foi alvo de perseguição, do poderoso lobby do agronegócio, que conseguiu a liberação da pulverização aérea dos quatro agrotóxicos novamente.

Com o objetivo de resolver o problema no âmbito local, o vereador Edio Lopes (PT), apresentou projeto de lei visando proibir a pulverização aérea. A medida está sendo combatida por setores do agronegócio, que vem fazendo frente aos parlamentares.

Prática segura

Em nota, Luís Henrique Scabello de Oliveira, Presidente da Canasol – Associação dos Fornecedores de Cana de Araraquara, e Nicolau de Souza Freitas – Presidente do Sindicato Rural de Araraquara afirmam que;

A cana-de- açúcar é uma das atividades agrícolas mais importantes para o município de Araraquara, movimentando a economia e o comércio regional através de ‎geração de empregos de qualidade e de renda, configurando um importante meio de subsistência para inúmeros agricultores e trabalhadores rurais, produzindo energia limpa através do ‎etanol biocombustível e da energia da biomassa do bagaço da cana, conservando o meio ambiente através de ações tanto na atividade da produção agrícola, como na produção industrial previstas no Protocolo Agroambiental, que vem sendo renovado há cerca de uma década com as Secretarias do Meio Ambiente e da Agricultura do Estado de São Paulo;
• ‎A aviação agrícola é uma atividade importante e necessária, muitas vezes insubstituível, para a produção de cana, seja por sua rapidez e economicidade, seja pela precisão e segurança oferecidas na aplicação de defensivos agrícolas;
• A prática agrícola da aplicação aérea de defensivos agrícolas é ‎autorizada e regulamentada por legislação federal e fiscalizada pelos órgãos competente;

  • ‎O Brasil possui uma das legislações mais rigorosas para registro e uso de defensivos agrícola. Assim sendo, o emprego dessa atividade, respeitadas as leis e normas competentes, é prática segura para os humanos, para a fauna e a flora silvestre, para as culturas vegetais e para criação de animais;
    • Defensivos agrícolas são insumos de custo elevado e as pragas da cana
    são em sua grande maioria exclusivas dessa cultura, abrigando-se unicamente nas lavouras de cana, portanto a aplicação dar-se exclusivamente dentro das propriedades agrícolas pertencentes a pessoas ou empresas produtoras de cana e exclusivamente sobre suas lavouras de cana, não havendo motivo nem técnico, nem econômico, para aplicação de defensivos sobre nascentes, recursos hídricos, vegetação nativa ou quaisquer outros locais;
    • Até o momento, não há comprovação científica definitiva de que a referida prática agrícola esteja ligada à redução de populações de abelhas, de demais espécies animais ou vegetais, bem como sejam nocivos à saúde humana quando corretamente empregada;
    • ‎Ademais, a típica informalidade na atividade apícola leva muitas vezes a instalação de enxames sem o devido conhecimento e a necessária autorização dos proprietários de imóvel rural. Desta forma, esse desconhecimento da localização e da identificação da propriedade dos enxames, adicionada à abrangência da área de coleta das abelhas dificultam o planejamento de uma atividade coordenada entre a cultura da cana e a apicultura;
    • ‎A simples proibição da prática da aplicação aérea de defensivos agrícolas
    através de lei municipal é iniciativa açodada, demagógica, desprovida de fundamentação técnica e fática, que ‎fere a hierarquia das leis e que, ao invés de lançar luz, espalha o obscurantismo à população sob um alegado “principio da precaução”, baseados em frágeis argumentações e fatos.

A Canasol vem participando de encontros no Conselho de Desenvolvimento Rural de Araraquara no sentido de prestar esclarecimentos sobre o assunto e coloca-se sempre aberta ao diálogo para buscar a convivência dessa prática com as demais atividades agrícolas.

A reportagem procurou a assessoria de imprensa do Grupo Raízem para se pronunciar a respeito do assunto, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.

Redação

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