Por José Augusto Chrispim
Uma série de crimes de estelionato envolvendo redes sociais e aplicativos de troca de mensagens está movimentando as delegacias de polícia de Araraquara nos últimos meses. As denúncias sobre os ‘golpes digitais’ já passam de 100 por mês.
Falando à reportagem de O Imparcial, o delegado titular do 2º Distrito Policial de Araraquara, Dr. Geriel Dal Ri, fez um alerta à população em relação ao grande número de golpes que vêm sendo aplicados na cidade. “Infelizmente, esse tipo de crime é muito frequente e é feito de formas variadas. Os estelionatários geralmente se utilizam de falsas promessas e de argumentos para enganar a pessoa que é levada a fazer transferências bancárias ou PIX em favor dos falsários, utilizando em via de regra terceiros, muitas vezes, inocentes que não sabem que seus nomes estão sendo utilizados para os golpes. O criminoso abre uma conta bancária em nome de terceiros sem que esses saibam e faz a movimentação dessa conta como se fosse a vítima. Na maioria das vezes, a gente faz a investigação e levanta as contas bancárias que, algumas vezes, é de um professor da rede pública ou um agricultor lá do Pará e, infelizmente, a investigação acaba sem chegar ao autor do crime. Mas, em alguns casos nós conseguimos chegar à autoria sim”, relata o delegado.
Número elevado
De acordo com o Dr. Geriel Dal Ri, mais de 100 casos de estelionato são registrados mensalmente na cidade envolvendo os crimes digitais. Ele destaca que os golpes são variados e vão desde venda de veículos, leilões falsos, clonagem de aplicativos como o facebook, Instagram e WattsApp – que muitas vezes são utilizados para solicitar valores em dinheiro ou venda de produtos que não existem -, a pagamento de boletos bancários falsos, entre outros.
Atenção
Para o delegado titular do 4º Distrito Policial, Dr. Marcelo Umberto Borghi, o importante é ter atenção quando for realizar um pagamento. “Antes de completar o pagamento de um PIX, por exemplo, a pessoa deve verificar se o nome para quem o dinheiro será transferido é o mesmo de quem está vendendo um produto. Caso não seja, é preciso utilizar de outros meios para conferir se a transação não se trata de um golpe. Deve-se desconfiar sempre”, alerta Borghi.
Prejuízo com o Instagram
A empresária Daniela Simões foi mais uma vítima dos golpistas na última semana. Ela teve sua conta do Instagram clonada por falsários que a utilizaram para oferecer produtos eletroeletrônicos que não existiam. “Eu recebi uma mensagem de uma amiga perguntando se ela poderia me colocar em uma lista de transmissão e eu respondi que sim. Logo em seguida, recebi uma mensagem para printar uma mensagem e daí em diante não tive mais acesso a meu Instagram, pois eles mudaram a senha e colocaram códigos para dificultar o meu acesso. Em poucos minutos, começaram a me ligar dizendo que queriam comprar TV, frigobar, celular, geladeira, enfim, várias mercadorias que eu estaria vendendo a preços bem abaixo do normal. Eu informei essas pessoas que haviam ‘rakeado’ minha conta. Eu descobri que os depósitos foram feitos em nome de laranjas chamadas Ananda e Jucileide de Jesus. Aí eu fui até a delegacia e registrei um Boletim de Ocorrência relatando o que havia acontecido. Mas, até o final da tarde, as mercadorias haviam sido vendidas várias vezes para pessoas que foram enganadas. Em seguida, eu informei o suporte do Instagram que me passou vários procedimentos para que eu pudesse reaver minha conta e me deram um prazo de 24 horas, mas depois de 18 horas, quando a gente tentou reaver a conta, o racker modificava o tempo todo os códigos para que a gente não conseguisse o Instagram de volta, mas ao final conseguimos. Em seguida, eu pedi para quem foi lesado que procurasse a polícia e registrasse um Boletim de Ocorrência. Enfim, a falta de atenção acabou me trazendo esse desgosto”, lamenta Daniela.
Sorteio falso
Já a jornalista Márcia Belotti conta que, na última sexta-feira (14), recebeu uma mensagem via Instagran de uma empresa com a qual ela mantém contato e seria um futuro cliente seu. Na mensagem, a suposta empresa oferecia um sorteio de um hotel que daria direito a três diárias ou a R$ 5 mil em dinheiro. “A pessoa me chamou pelo nome e falou para eu copiar a mensagem e mandar para ela ver o que eu tinha recebido, em seguida, ela pediu a minha data de nascimento e eu acabei digitando e enviando, porque não me pediram nenhum número de documento. Logo em seguida, minha amiga me ligou perguntando se eu tinha enviado uma lista de transmissão para ela e me alertou que eu estaria vendendo várias mercadorias pelo meu Instagram. Foi aí que notei que havia caído em algum golpe e comecei a divulgar que a minha conta tinha sido ‘rakeada’, porém, daí em diante não consegui mais ter acesso ao meu Instagram. Eles também começaram a pedir PIX para contatos meus, mas, felizmente ninguém fez nenhum depósito”, relatou Márcia para a reportagem.
A jornalista procurou a Delegacia de Polícia, onde registrou um Boletim de Ocorrência, pois foi informada que deveria se resguardar, caso alguém tivesse feito algum pagamento para terceiros sem sua permissão.
“No meu caso o dano maior foi de não conseguir ter minha conta de volta, o tempo que eu perdi, mas ao final deu tudo certo”, resumiu.
Dicas:
O delegado Marcelo Borghi lembra que a internet trouxe muitas facilidades para o dia a dia das pessoas, porém, diz que não se pode descuidar da segurança e sempre é bom desconfiar. “Se a pessoa conferir os dados antes de fazer o depósito, vai ter menos chance de cair em um golpe, pois na maioria dos casos, o golpista indica uma chave do PIX que não é da pessoa com quem a vítima está negociando”, ressalta.
Veja algumas dicas para dificultar a aplicação dos golpes:
- Conferir os dados (nome/CPF) para quem vai fazer o depósito
- Não comprar produtos a partir de páginas do Facebook, mas sempre dos aplicativos das próprias empresas
- Se certificar da origem dos boletos para pagamento bancário
- No caso de venda ou compra de veículos, nunca fornecer dados como emplacamento, CLV ou número do Renavan
- Em caso de leilões online, antes de completar a compra de algum veículo, deve-se entrar em contato com a empresa que fez o leilão ou com o leiloeiro oficial
- Identificar a pessoa para quem vai depositar antes de efetuar a transferência bancária
Crime
O delegado Geriel Dal Ri lembra que o crime de estelionato simples tem pena prevista de 1 a 5 anos de prisão. Já para o estelionato envolvendo a modalidade eletrônica, a pena é de 4 a 8 anos, ressaltando que se o crime for cometido contra idoso ou vulnerável, há o acréscimo de 1/3 da pena.