Hamilton Mendes – Colaboração
Já na época uma das maiores produtoras de café do estado de São Paulo, e com a ferrovia incrustrada em pleno coração do lugar, a Araraquara do final do século 19 era uma cidade essencialmente agrícola, com grande parte de sua comunidade residindo nos campos e com a economia centrada nas mãos, e nos bolsos, dos grandes fazendeiros e produtores locais.
A exceção eram alguns imigrantes italianos, portugueses, libaneses e árabes, dentre outros, que aqui chegaram com algum capital, forte conhecimento de alguns ofícios, e montaram suas lojas, sapatarias, relojoarias e já começavam a formar aquela, que mais tarde seria a rua
comercial mais forte da cidade: a “rua 2”, ou rua do Comércio, atual Rua 9 de Julho.
Araraquara, claro, acabaria se urbanizando, mas o desenvolvimento viria com o tempo, e de acordo com o crescimento natural da comunidade, como aconteceu em cada um dos municípios brasileiros. A única exceção é Brasília.
A verdade, portanto, é que tudo continuariam assim indefinidamente, e sabe-se lá por quanto tempo.
O destino, porém, mudou o rumo das coisas.
Uma tragédia, causada por desentendimentos políticos e pessoais (o linchamento dos Britos realizados por capangas de fazendas da região, e não por moradores locais), destruiu a reputação da cidade em todo o país, marcou negativamente seus moradores e, claro, prejudicou a interlocução dos produtores locais com o mundo exterior.
O assunto era sério, e solução se fazia urgente. Pra ontem!
Capitaneados pelo empresário, banqueiro, político e produtor Bento de Abreu Sampaio Vidal, e dentre outros, pelos produtores e empresários Carlos Baptista Magalhães, Major Dario de Carvalho e Américo Danielli, nasce um plano para a construção de uma nova cidade: uma cidade com luz elétrica, arborizada, com calçamento, cultura, escolas em todos os níveis e
prédios que lhe dessem toda a estrutura administrativa e de negócios para crescer.
Acertado o desafio, os homens contrataram os melhores arquitetos da época e encomendaram um projeto de cidade. Nasceu, no papel, uma Araraquara com ruas e avenidas como que desenhadas com um esquadro, todas retas, sem quebradinhas, curvas ou desníveis.
Uma Araraquara com um hotel de primeira linha para receber autoridades e homens de negócios, cum um teatro municipal idêntico Ópera Garniere, de Paris, com prédio imponentes, como o da atual Casa da Cultura e do Museu, mais tarde o atual prédio da Câmara, Praças e ruas calçadas e arborizadas.
No projeto, uma filial da Escola Mackensie, da capital, uma escola com classes mistas (a segunda do país que tinha classes com meninos e meninas), escolas para formação de mão de obra, uma nova estação ferroviária, uma Cia de Estadas de Ferro própria, a EFA, e claro, uma escola de nível superior (a escola de Farmácia e Odontologia), um laticínio próprio (para garantir a qualidade do produto a ser consumido na cidade), um Conservatório Dramático e Musical e uma Escola de Belas Artes, dentre outros.
A ideia era mudar para sempre a imagem de Araraquara em todo o país, e fazer com que a partir dali a identidade da cidade passasse a ser a beleza de sua arquitetura, seu urbanismo, sua cultura, as artes, a força de sua economia e possibilitar seu crescimento exponencial.
Tudo estava no papel. Lindo e maravilhoso. Faltava fazer.
Passava-se os primeiros anos do século 20.
Os homens ilustres da época, então, literalmente colocaram as mãos nos bolsos e bancaram a construção, partindo do zero, da Nova Araraquara. Menos de 30 anos depois ela estava pronta e a cidade passou a crescer a partir de tudo o que se fez naquela época.
Araraquara foi construída e cresceu a partir de uma ideia e um objetivo e, definitivamente, é uma cidade única. Não existe nada parecido em toda a história do país.
Imagens:
Na primeira imagem se vê o Teatro Municipal, sede do Clube Araraquarense (hoje do município e sede Secretaria da Cultura) e Hotel Municipal. O maravilhoso conjunto arquitetônico que marcou o centro da cidade e a obra da construção na Nova Araraquara.
Já na segunda foto, o mesmo local nos dias de hoje. No lugar do Teatro Municipal, demolido em 1965, a sede do Poder Executivo, a prefeitura Municipal.