Na noite da última segunda-feira (8), a Casa SP Afro Brasil “Oswaldo da Silva Bogé”, na Vila Xavier, recebeu a solenidade que marcou a assinatura do decreto que determina o tombamento do Baile do Carmo de Araraquara como Patrimônio Cultural do Município.
O prefeito Edinho, que assinou o documento, comentou que é impossível entender a história de Araraquara sem entender a luta de resistência do povo negro. “Diversas lutas foram materializadas em expressões culturais, de resistência. O Baile do Carmo nasce como um ato de resistência para que a população negra resistisse a todo o processo de preconceito e descriminação. Então eu não tenho nenhuma dúvida que nós estamos, com esse reconhecimento, dando mais um passo para dar protagonismo às manifestações e os instrumentos de luta dos negros pelo reconhecimento, pela igualdade. Mais um gesto para a justiça histórica, para que a gente recupere a memória e porque, só com a memória latente, é que as novas gerações vão lutar para que a igualdade seja algo central na construção de uma cidade que seja, efetivamente, justa e de todos e todas”, salientou.
Alessandra Laurindo, coordenadora de Políticas Étnico-raciais da Prefeitura, também valorizou o tombamento. “O tombamento imaterial do Baile do Carmo é uma conquista para a comunidade negra araraquarense, pois o mesmo já é reconhecido nacionalmente e em diversos países. A tradição e o simbolismo do baile se unem numa peculiaridade que só nossa cidade tem. São 136 anos de história e resistência do povo negro, mantido com muita luta e esse documento é a certeza que o tempo não apagará toda trajetória que hoje é festiva, mas também teve no caminho muita discriminação e sofrimento. Vida longa ao Baile do Carmo”, frisou.
O Baile do Carmo
O Baile do Carmo tem sua origem na primeira metade do século XX, provavelmente na década de 30. Tratava-se, nesse momento, de um “baile de gala”, realizado no Teatro Municipal de Araraquara, com música executada pelas mais famosas orquestras do estado de São Paulo e indumentária específica. Com algumas modificações, o evento prosseguiu até o final da década de 80 sendo realizado por associações recreativas negras. No final da década de 60, o baile passa a ser realizado em salões de clubes das elites araraquarenses, sendo prova da atuação e negociação entre os diretores das associações e os proprietários desses salões, visto que esses salões não eram acessíveis para negros em dias habituais.
A partir de 1987, com a extinção das associações recreativas, o evento passa a ser realizado por um promotor de eventos que transforma o Baile do Carmo em uma semana de festividades, com diversos eventos, tais como futebol, desfile de moda, coquetel dançante, pagode e feijoada. Além da criação de outros eventos, para atrair a participação jovem, a própria “noite de gala” foi sendo transformada a partir da modificação no repertório musical, que incluiu outros estilos. O Baile do Carmo da atualidade é um amplo evento que procura agradar a todos os gostos e idades. No entanto, desde a origem, o evento tem a capacidade de reunir diversas gerações, pois muitos pais e mães levavam suas filhas e filhos para o evento, para apresentá-los à comunidade.
Baile do Carmo é tombado como Patrimônio Cultural de Araraquara
Prefeito Edinho assinou decreto durante ato realizado na Casa SP Afro Brasil