O evento que acontece na igreja Nossa Senhora das Graças no dia 23 de outubro, às 15h30, vai muito além da entronização das Artes Sacras na referida igreja.
As obras foram doadas e realizadas pelo artista plástico araraquarense, Gino Savino que vive há muitos anos com a família no Canadá e que conta que toda equipe envolvida nesta ação trabalhou de forma voluntária liderada pelo Pe. João Roberto Campanini, pároco da igreja. “Se não fosse essas pessoas certamente seria muito difícil a gente ter esse evento. Essa equipe é mesmo como se fosse uma pitada da Igreja, do Corpo Místico, ou seja, todo mundo participa desse ‘Corpo’ com seus devidos membros e todo mundo trabalhando. É um pessoal formidável desde quem fez e diagramou o panfleto que irá ser distribuído, as pessoas que foram em busca de patrocínio para estudo e emolduramento”, conta um emocionado artista nos revelando que essa é antes de tudo uma experiência de amor à humanidade que fortalece ainda mais a sua fé.
Questionado sobre a razão de ter feito a doação, o artista conta que na verdade, não existe uma resposta única com relação sobre o fazer da arte sacra porque acredita que foram várias coisas que aconteceram ao mesmo tempo. ” Uma delas é que nós estávamos em um momento muito terrível da humanidade com essa pandemia. Todo mundo muito ‘desarmado’, algumas pessoas, então, mais ainda sentindo, com depressão, o que não foi o meu caso. Estava com muito trabalho para fazer, o tempo ocupado”.
A primeira Nossa Senhora
O artista conta que como cristão, a primeira Nossa Senhora que fez tinha 14,15 anos. Foi em um pedacinho de tábua de caixão e ela ficou caolha, com um olho diferente do outro. Ele não tinha técnica e nem conhecimento artístico para arrumar, mas dessa época pra cá nunca mais perdeu um trabalho de entalhe, que sempre acabaram de um modo ou de outro dando certo. “Então, como cristão é um prazer muito grande poder fazer a arte sacra, que foge muito da arte normal ou secular, que gosto muito de fazer também”.
Gino confessa que o fazer da arte sacra o pegou em um momento em que viu que Araraquara estava sofrendo demasiado com a questão do ‘abre e fecha’, muita gente falecendo e um belo dia resolveu fazer um trabalho para doar para a cidade, o que acabou acontecendo. “o trabalho em entalhe nunca faço no meu estúdio. Fui para a garagem e era inverno. E eu fiquei fazendo no frio mesmo. Minha família abria a porta que dá acesso à garagem e diziam “você não vai entrar? Está muito frio, ”eu dizia que para mim a temperatura estava normal. Então, eu prefiro entender que estava tudo tranquilo, ou seja, não passei realmente frio e estava bem frio. Então, pude me solidarizar com a minha cidade de um modo diferente”.
O artista conta que ao doar o trabalho sentiu uma coisa muito agradável. “Ter feito uma Nossa Senhora do Perpétuo Socorro aonde na nossa cidade tem um templo dedicado à Virgem Maria do Perpétuo Socorro, que é a Igreja Santa Cruz”, diz acrescentando que disse à esposa Laura que iria fazer outro ícone. “Uma já estava certo que iria para Araraquara e a outra não tinha a menor ideia, mas quis fazer. Tudo está indicando que este outro trabalho vai para o Haiti, um país que vive muitas dificuldades, como a pobreza intrínseca do país, terremotos, entre outros problemas. Por ser cristão é muito prazeroso a hora que você se vê fazendo o rosto da Nossa Senhora, do Menino Jesus, esculpindo tudo isso, depois aplicando cores, posteriormente pedrarias, totalizando 198 pedras. Tudo é muito prazeroso, mas a gente não vive de prazer. A gente vive de ver o que os trabalhos nos concedem de bênçãos e aquilo que podem representar para outras pessoas. Menos do que vaidade mais do que uma missão, além da questão da solidariedade com a cidade”.
Oportunidade de contemplar o belo
Uma obra de arte é sempre uma oportunidade de contemplarmos o belo, a arte criativa do ser humano que produz. Faz bem para os olhos, para a alma e para o coração. “Uma arte sacra, além dessa dimensão do belo traz também uma dimensão espiritual oferece a oportunidade para quem contempla buscar essa dimensão do Sagrado, buscar uma ligação com Deus, buscar justamente crescimento e um alimento espiritual.
Pe. Campanini conta que conhece o artista há mais de 40 anos, que pertenceram ao mesmo grupo de jovens na Matriz de São Bento e a amizade ficou. “Faz mais ou menos uns 20 anos que Gino está erradicado com a família no Canadá. E essa obra veio parar aqui num contexto em que a gente estava conversando, pois ele começou a fazê-la na época da pandemia e ele manifestou um desejo muito grande de que essa obra viesse para Araraquara e ficasse numa igreja e nós colocamos a Igreja Nossa Senhora das Graças à disposição e ele fez a escolha em doar para cá. Depois da Nossa Sra. do Perpetuo Socorro ele pintou mais dois quadros sobre o diálogo de Jesus Cristo com a Samaritana e também a Cura do Paralitico na piscina de Siloé
Para o religioso, a entronização é colocar no coração das pessoas, da igreja e da comunidade essa arte sacra e ao mesmo tempo oferecer a oportunidade das pessoas fazerem uma busca espiritual ou contemplar o belo, a dimensão religiosa na arte e buscar uma ligação com Deus através da Virgem Maria. “O importante para a Nossa Senhora das Graças, que é uma igreja que possui as artes externa do Professor Sidney Rodrigues e interna, do Frei Nazareno que contemplam estilos diferentes, arrojados com a arquitetura da igreja que fez 60 anos em fevereiro”.
Pe. Campanini explica que a igreja começou a ser construída em 1964 e em 1968 estava pronta, ou seja, um tempo considerável, e já com essas artes da maneira com que se apresenta até hoje e a colocação dessas artes, de uma certa maneira, não interfere nessas obras, uma externa e a outra superior e vai dar um toque espiritual nos locais aonde irão ser colocadas, de fácil contemplação. Acredita que seja muito importante para o Gino ter essas obras dele aqui em Araraquara, sua cidade; importante para a paróquia, para o município e para mim, uma satisfação pessoal de recebê-la desse grande amigo de tantos anos”.
NSPS- O original dessa pintura bizantina encontra-se na igreja de Santo Afonso Maria de Ligório em Roma e surgiu na ilha de Creta entre os séculos XIII e XV.
O ícone é composto de 4 figuras: Maria, o Menino Jesus e os arcanjos Miguel à esquerda e Gabriel à direita. Tecnicamente essa arte sacra é feita em mdf (de 45 por 60 cm) e recebeu 197 pedras no manto e, particularmente, na coroa de Nossa Senhora.
As iniciais na parte superior ‘NSPS’ (Nossa Senhora do Perpétuo Socorro)
Maria que veste azul se refere às mães daquela época, que é a mãe de Deus.
Maria nos olha e não para o Menino Jesus. Nos olha como sendo aquela que é o Perpétuo Socorro; Jesus que corre assustado para seus braços, pois os arcanjos lhe mostram o sacrifício da cruz, os pregos, a lança e a vara embebida em vinagre. Quando o Menino Jesus corre, desata-lhe a sandália, mas permanece um fio que nos une à salvação; a túnica vermelha distinguia as virgens daquela época em sinal de pureza e também de fé. O fundo dourado representa a alegria do céu e irradia para as vestes também.
Sou eu que falo contigo- Passagem do Evangelho de São João onde Jesus encontra uma mulher samaritana próximo a cidade de e Ele pede água pra ela que por sua vez o serve com a bebida. A palavra chave dessa pintura
É segundo o artista uma das passagens mais lindas e emocionantes do Novo Testamento e é Revelação, onde Jesus se revela o Messias, aquele que era esperado não só pelo povo hebreu, pelos judeus, mas por toda Humanidade. Nessa Revelação o que salta aos olhos é a Humildade, onde busquei colocar jesus de um modo humilde, doce, sendo objetivo e dizendo a verdade da sua divindade para com a samaritana. Neste trabalho, temos em primeiro plano, entre rochas, a samaritana e Jesus, 12 cruzes espalhadas que representam o número de apóstolos. Do lado esquerdo do vaso, 12 flores número dos apóstolos. Entre Jesus e a samaritana, nas costas dele temos um total de 33 pequenas flores que é a idade que Jesus viveu aqui nessa terra, no tronco da árvore, cinco gotas de sangue que são as chagas visíveis de Jesus. O trabalho que não reflete a aridez daquela época, pois o objetivo dessa pintura acrílica de 80 por 120cm não foi refletir a realidade daquele momento e sim o gesto revelador de Jesus bem como a sua humildade em pedir água para a mulher que era uma desconhecida e samaritana.
Levanta, pegue seu leito e anda – Pintura acrílica.de 80 x120 cm, passagem do Evangelho de São João baseada no capítulo V, versículo de II a XII do Evangelho de São João, quando Jesus passa pelo poço de Betesda e encontra coxos e aleijados nessa região e nessa piscina. Bem no centro do quadro pode-se observar a figura de Jesus e do coxo e quando este diz ao mesmo “levanta e pegue seu leito e anda” e puxa o mesmo pela mão para que se levante e outras duas pessoas que estão dentro da piscina também observam isso. Jesus está ladeado também pelos irmãos, Tiago e João, que está logo atrás dele. A parede que estão próximos é pesada exatamente porque os milagres que Jesus realizou são de fundamental importância na mensagem Dele de salvação, de cura e de resgate. A parede também é muito salpicada de pó de ouro, que não é possível ver através de fotografia. Na parede foi aberta uma pequena janela circular que ficam o ‘Iesus Hominubus Salvatoren’(IHS-Jesus Salvador dos Homens) que faz alusão ao ostensório e também de onde saem muitos raios dali. Outras duas observações são as duas muletas alusivas as nossas limitações, desgraças e a nossa realidade humana que precisa realmente de resgate, de cura.
Já os dois vasos de flores são pontos que representam esperança e a passagem João V de 2 a 12 está exatamente em tipo de prato de metal nas costas do coxo.