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Centro de Ressocialização Feminino: Há 15 anos transformando vidas

José Augusto Chrispim

O Centro de Ressocialização Feminino (CR) de Araraquara está comemorando 15 anos de existência. Com a missão de ressocializar as cerca de 90 detentas que normalmente habitam suas celas – ou alojamentos, como elas gostam de chamar -, já transformou de alguma forma as vidas de 1.074 mulheres que passaram pela unidade desde sua inauguração no dia 15 de março de 2004. O evento contou com a presença do secretário da Administração Penitenciária da época Nagashi Furukawa. A unidade foi feita nos moldes dos CRs – prisões que abrigam menos presos a custo menor que nos estabelecimentos convencionais.

Hoje, o CR é gerenciado pela diretora técnica Jucélia Gonçalves da Silva, que assumiu a unidade prisional em 2015 sucedendo Ede Aparecida Fosolen que substituiu a primeira diretora, a Dra. Marisa Fonseca Monteiro, que comandou a unidade por 10 anos. De acordo com Jucélia, nos primeiros cinco anos o CR foi administrado através de uma parceria entre a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) e a Ong APAC, que foi afastada em 2009. A partir daí, a FUNAP (Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel) ampliou os contratos de trabalho e a alfabetização das presas. Atualmente, todas as 98 internas trabalham e estudam.

Parceria

“A FUNAP desenvolve e acompanha os programas de capacitação e alfabetização, além de fornecer assistência judiciária, convênio com a Defensoria Pública e manter os contratos com a prefeitura. A evolução apresentada pelo CR Feminino de Araraquara nestes 15 anos é visível, através da melhora nas condições de trabalho e na resposta positiva da população carcerária através da ótima gestão que facilita o trabalho da FUNAP”, ressaltou o diretor adjunto da DIAPH, Sebastião Romão ao O Imparcial.

Desafios e experiências

A diretora Jucélia é bacharel em Direito e trabalha no sistema penitenciário desde 2000. Ela conta que passou por unidades prisionais masculinas como a de Serra Azul, que é especializada em crimes sexuais. Em 2015, ela foi convidada pelo coordenador do CR na época, Carlos Alberto Ferreira de Souza, para ser a diretora técnica da unidade.

“Para mim, foi um grande desafio trabalhar com mulheres e trabalhar em um CR que é bem diferente do que eu já tinha vivenciado. Aqui pude ver o resultado do nosso trabalho, onde o índice de reincidência no crime das internas é de apenas 4%”, lembra.

Capacitação

A partir de 2016, todas as reeducandas da unidade passaram a trabalhar e estudar, hoje são cinco empresas parceiras que empregam as meninas, além do contrato com a prefeitura de Araraquara que emprega 34 internas. Entre 2013 e 2019, 775 reeducandas se formaram através da parceira entre a FUNAP e a Escola Vitor Lacorte, sendo 71 no Ensino Fundamental I, 301 no Ensino Fundamental II e 403 no Ensino Médio.

Fazendo a diferença

“Em meio a tragédias que os noticiários sempre enfatizam, ser um agente responsável pelo resgate da dignidade, mudança de valores e ajudar a restabelecer expectativas esquecidas, é muito gratificante e especial para mim, como gestora e como mulher. Sou muito grata por ter sido convidada para trabalhar no município de Araraquara que me acolheu e estar trabalhando com uma equipe sensacional, em sua maioria composta por mulheres fortes e sensíveis que amam o que fazem. Somos uma equipe unida que faz a diferença na vida de outras tantas mulheres e suas famílias, que passam ou passaram pelo CR Feminino de Araraquara ao longo desses quinze anos deixando um pouco de sua história e levando muita experiência boa”, resumiu Jucélia.

Tratamento digno

“Nos meus 26 anos, se pudesse agradecer alguma coisa na minha vida seria o fato de ter sido presa. Pode até parecer estranho, mas foi presa que pude me libertar do cárcere da minha mente e do meu egoísmo. Aqui pude recuperar meus valores e preceitos que perdi há alguns anos atrás. O sistema carcerário realmente não nos devolve pessoas melhores para a sociedade, pelo contrário, ele alimenta nossos ódios e desperta alguns que nem conhecemos. Vivi um ano e dois meses em uma penitenciária, o que me fez perder meus últimos valores como ser humano. Porém, no dia 10/03/2017, pude voltar a ser tratada como um ser humano e não apenas como uma matrícula, digna de uma segunda chance. Aqui é regra dizer meu nome, levantar a cabeça e olhar nos olhos, antes era olhar para baixo e dizer meu número. Aqui descobri que a regra é pensar em um recomeço. Voltei a sonhar quando entrei nessa unidade, onde acreditaram em mim, me ajudaram a superar meus fantasmas do passado e ver novos horizontes”, essa foi a declaração da reeducanda Kelly Ferreira Santos.

Redação

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