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Como salvar vidas: princípios fundamentais no manejo de sangramentos exsanguinantes

Artigo

Luys Antônyo Vasconcelos Caetano¹

Os sangramentos exsanguinantes, responsáveis por uma expressiva parcela das mortes em
traumas, representam uma das maiores emergências médicas. Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), os traumas são a principal causa de morte em indivíduos de 15 a 45 anos, sendo que
aproximadamente 40% dessas mortes estão associadas a hemorragias. Dentre os diversos
cenários, os acidentes de trânsito e ferimentos por armas de fogo estão entre os principais eventos
que culminam em hemorragias maciças e fatais.
Indubitavelmente, no contexto clínico, o manejo de sangramentos exsanguinantes requer agilidade e
precisão, envolvendo múltiplas etapas integradas. O primeiro passo é a identificação precoce da
fonte do sangramento, que pode ocorrer tanto em áreas externas quanto internas do corpo. Por
conseguinte, uma vez detectada a origem, três princípios básicos guiam o tratamento: controle
mecânico do sangramento, reposição volêmica e tratamento definitivo, por meio de intervenções
cirúrgicas ou outros métodos.
Primeiramente, o controle mecânico, quando possível, deve ser imediato. Para tanto, deve-se
fazer, em sangramentos externos, a compressão direta sobre o local da lesão, que é a abordagem
inicial mais eficaz. Já nos membros, o uso de torniquetes tem se mostrado fundamental,
especialmente em ambientes pré-hospitalares. Nesse âmbito, estudos recentes demonstram que o
uso adequado de torniquetes pode aumentar a sobrevida em até 90% dos casos de sangramentos
periféricos severos, reduzindo significativamente o tempo de exposição à hemorragia.
Além disso, é necessário garantir a reposição volêmica. Tal fato deve-se à perda significativa de
sangue que rapidamente leva a um choque hipovolêmico, uma condição potencialmente fatal se não
mediada da maneira e no tempo certo. Nesses casos, a administração de soluções cristaloides
deve ser iniciada, seguida da transfusão de hemoderivados, como concentrados de hemácias e
plasma fresco congelado, para restaurar a capacidade de transporte de oxigênio e fatores de
coagulação necessários para manter a hemostasia mínima do organismo. Nesse ínterim, protocolos
como o de transfusão maciça, que prevê uma relação equilibrada entre hemocomponentes (1:1:1 –
hemácias, plasma e plaquetas), têm sido implementados com sucesso em centros de trauma de
todo o mundo, resultando em melhores desfechos.
Em paralelo, o uso de medicações antifibrinolíticas, como o ácido tranexâmico, deve ser
considerado, principalmente nas primeiras três horas após o trauma. Além disso, estudos como o

CRASH-2 mostraram que o uso precoce de ácido tranexâmico pode reduzir a mortalidade em até
30% nos casos de sangramentos exsanguinantes.
Por fim, a fase de controle cirúrgico ou intervencionista visa eliminar a causa da hemorragia.
Contudo, para a condução adequada de casos de hemorragias internas, como lesões hepáticas e
esplênicas, a abordagem cirúrgica imediata é essencial. Ademais, técnicas endovasculares, como a
embolização de vasos sangrantes, têm ganhado destaque como uma alternativa minimamente
invasiva para controlar hemorragias internas, especialmente em lesões pélvicas.
Por fim, o controle de sangramentos exsanguinantes, portanto, exige uma abordagem multifatorial e
rápida, baseada em protocolos bem definidos e na capacitação das equipes de emergência.
Entretanto, em um cenário onde cada segundo conta, a implementação ágil dessas medidas pode
reduzir drasticamente a mortalidade e os profissionais da saúde devem estar sempre prontos para
agir, utilizando as melhores evidências disponíveis para garantir o sucesso no atendimento.
Referências:
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Trauma care systems. Geneva: World Health
Organization, 2021. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/trauma-care.
Acesso em: 09 out. 2024.
CRASH-2 TRIAL COLLABORATORS. Effects of tranexamic acid on death, vascular occlusive
events, and blood transfusion in trauma patients with significant haemorrhage (CRASH-2): a
randomised, placebo-controlled trial. The Lancet, v. 376, n. 9734, p. 23-32, 2010. DOI:
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(10)60835-5.
AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. Advanced Trauma Life Support (ATLS) Program. 10. ed.
Chicago: American College of Surgeons, 2020.

Luys Antônyo Vasconcelos Caetano¹
¹Discente Faculdade Atenas, Sete Lagoas, Minas Gerais, Brasil

Redação

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