Início Araraquara E (VOE) Zé! Amor, amor, amor, AMAR Zé!

E (VOE) Zé! Amor, amor, amor, AMAR Zé!

Artigo

*Fabi Virgílio

Em 6 de julho, Araraquara acordou em luto! O vento soprou para o papagaio subir e, entre o voo e o sol, nosso filho sol se despediu desse corpo físico.

Araraquara enlutada se quedou paralisada com a despedida do ícone, do mito, do apoteótico, catártico, emblemático, o gênio do teatro brasileiro e mundial, José Celso Martinez Côrrea.

Enquanto o mundo rememorava sua obra, os artistas de Araraquara choravam e reverenciaram sua vida e criação, reunidos na Praça das Bandeiras, num rito de passagem: Fabi Virgílio, Denis Garcez, Raquel Nascimento, Luciano Pachioni, Rian Santos, Syro Fernando, Rafael Campos, Danilo Barbieri, Maria Eduarda, Luis Zakaib e outros afetos se afetavam e, numa roda, entoaram cânticos para suspender o céu e enaltecer Zé Celso. Neste dia, foi como se o relógio tivesse parado! Cada frase dita, cada memória trazida, cada gole de vinho nos provocava risos e choros. Estávamos todos muito sensibilizados. Estávamos em luto!

Alguns presentes lembraram uma passagem na cidade, quando num café de investigação, Zé Celso compartilhou vinho e mexericas no Teatro Municipal. Era 2004 e, naquela tarde fria de junho, Zé aqueceu os corações dos presentes num envolvimento ritualístico de como é o teatro nas nossas vidas e de como o teatro não se faz só com técnica, mas se faz com estômago, tesão, paixão e, principalmente, amor. Um amor que transcende o homem e sua criação e essa é a fusão perfeita… em que não se sabe quando começou um ou quando começou o outro… se tornam um só. É um sacerdócio.

Zé Celso estava estudando a preparação do novo espetáculo que dirigiria: “A Queda do Céu”, de David Kopenawa e Bruce Labert. É importante trazer essa questão, pois esse compromisso foi firmado dentro da Festa Literária da Morada do Sol (FliSol), no ano passado, aqui em nossa cidade, quando Zé fez questão de ir até o SESC ouvir a palestra de David e, a partir daquele encontro, a nova montagem estava sacramentada! A flecha do destino estava lançada! Era a cidade reencontrando seu artista e, nesta cidade, o artista encontrando seu novo trabalho.

Era a Araraquara indígena se manifestando em seus ancestrais para se fazer morada, se fazer inspiração, se fazer encontro. Todas as contradições pretéritas entre artista e cidade haviam sumido e o que se deu foi o entoar de um novo renascimento: Araraquara e Zé se amam! Amor, amor, amor, AMAR Zé! MAR ZÉ! Imensidão Zé! Sol, CEÚ, ZÉ! AMAMOS ZÉ!

Durante o rito de passagem em honra a Zé, os artistas lembraram um cântico do Coro do Teatro Oficina que não saía da cabeça: “Meu cavalo tá pesado, meu cavalo quer voar, meu cavalo tá pesado para voar, atuar, atuar, atuar para poder voar”. E, entoamos, multiplicamos, relembramos, pacificamos o coração cortado, aquietamos nosso coração e mantivemos a certeza de que o que diferencia um artista de um cidadão comum é aquilo que fica. E Zé está nas suas obras, na sua revolução, na transmutação, na grande festa do Teatro Oficina – UZYNA UZONA, na sua r(e)existência, na sua polivalência. Em cada tijolo de um teatro, em cada verso, em cada diálogo cantado, em cada oração sentida, em cada poema, em cada vida, em cada cheiro, em cada instrumento musical, em cada árvore, em cada guerra contra o capital ele estará lá. E estará sempre em nossas andanças, em nossas criações, ações. Zé não morre, pois é vida! E, como diz Kopenawa no último objeto de estudo de Zé: a floresta está viva! ZÉ Vive! Zé Vive em nós!

*Fabi Virgílio – atriz, poeta, advogada e vereadora

Redação

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