Os líderes na disputa eleitoral têm visões opostas sobre o futuro da Embraer
A unidade da Embraer em Gavião Peixoto que já foi distrito de Araraquara, (aeródromo de Gavião Peixoto) possui 4.967 metros de extensão e é considerada a mais longa da América Latina. A sua venda pode complicar a vida de muitas famílias que dependem dela para seu sustento em São José dos Campos e na região de Araraquara.
A equipe de Jair Bolsonaro (PSL) indica nos bastidores que, em caso de vitória, avaliará as condições do acordo com a norte-americana Boeing, mas já trabalha com estudo técnico que defende que a união das duas é “imprescindível” para a sobrevivência da brasileira. Se eleito, Fernando Haddad (PT), por sua vez, promete questionar o acordo e “tomar todas as medidas jurídicas” para preservar o interesse da brasileira.
Há expectativa de que o Palácio do Planalto dê a palavra final sobre o negócio entre Embraer e Boeing nos dias seguintes ao segundo turno. Detentor de uma ação especial na empresa brasileira – a chamada “golden share” -, o governo precisa conceder aval para que as duas companhias prossigam nas negociações para criar uma terceira empresa controlada pelos norte-americanos dedicada à aviação comercial e também para uma parceira dedicada à comercialização o novo cargueiro brasileiro KC-390.
Em caso de vitória, Bolsonaro indica que dará sinal verde para que o governo Michel Temer dê aval ao negócio, segundo fontes ouvidas pelo Estado/Broadcast. Apesar de o tema encontrar resistência em alguns setores militares, a equipe do candidato do PSL defende essa decisão com um estudo técnico preparado por especialistas, entre eles o ex-presidente da Embraer Ozires Silva – um dos grandes entusiastas do negócio.
Ozires classifica o acordo como “imprescindível” para o futuro da Embraer diante da concorrência após a união da maior concorrente da Boeing, a europeia Airbus, com a grande competidora da Embraer, a canadense Bombardier. Com esse fortalecimento dos concorrentes e a entrada da China no mercado de aviação regional, o estudo entregue a Bolsonaro defende que é “inevitável” que a brasileira se associe a uma empresa maior para ganhar musculatura.
Sobre a preocupação de setores das Forças Armadas com o negócio, prevalece a percepção de que este seria um negócio “de mercado” e que questões estratégicas seriam preservadas com a separação do negócio de defesa da Embraer, que continuaria com os brasileiros e com poder de veto do governo.
Um eventual governo Haddad, ao contrário, tentaria barrar ou até reverter o negócio. A campanha do ex-prefeito informou ao Broadcast que “irá tomar todas as medidas jurídicas para preservar os interesses nacionais” na Embraer. A equipe de Haddad avalia como “ilegítima” eventual decisão do governo Temer com o negócio – decisão classificada como uma “entrega da Embraer para a Boeing”.
O tom contra o negócio é um pouco mais duro que o observado no fim de setembro, quando o candidato petista visitou o berço da Embraer, no interior paulista. “O chamado ato jurídico perfeito vamos respeitar, como sempre respeitamos. Se houver possibilidade jurídica de reversão, com certeza faremos”, disse em entrevista coletiva à imprensa em São José dos Campos (SP) em 20 de setembro ao ser questionado sobre como encararia a união das duas companhias.
Entre os demais candidatos mais bem colocados nas pesquisas, Ciro Gomes (PDT) defende no programa de governo que um eventual acordo deve ser revertido pelo Palácio do Planalto com a recompra das ações e o pagamento das devidas indenizações aos sócios.
Já Geraldo Alckmin (PSDB) apoia o negócio. “A operação com a Boeing permitirá à Embraer garantir a perpetuidade de seus negócios, aumentar seu investimento em pesquisa e desenvolvimento assim como a geração de empregos e exportações”, cita a campanha do tucano em nota.
Marina Silva (Rede), por sua vez, classifica o negócio como “bastante complexo” e que “apresenta alguns elementos preocupantes, em especial a venda de 80% do principal negócio da Embraer” ao se referir à unidade de aviões comerciais. A candidata defende que o governo brasileiro defenda “uma efetiva parceria entre as duas empresas, porém menos assimétrica”. “Nessa parceria, a Boeing poderia ter uma parcela relevante das operações de jatos comerciais (30-50%), compartilhando o controle”, cita a campanha, em nota.