Entre os 200 projetos selecionados pelo Programa Centelha São Paulo, a Incubadora de Empresas de Araraquara, administrada pela Prefeitura em parcerias com a Unesp e demais universidades, apoia cinco que estão em desenvolvimento na cidade.
Os temas inovadores contemplados recentemente são: aptasensor destinados a detecção dos principais sorotipos de Salmonella (Marina de Lima Fontes); máscaras faciais de celulose bacteriana para tratamento de melasma (Jhonatan Miguel Silva e Aline Mendes de Souza); resíduos de frutas para biotecidos e substitutos de couro tradicional (Mylene Cristina Alves Ferreira Rezende); plataforma de liberação de fármacos por impressão 3D (Juliana Cordeiro Cardoso) e embalagens inteligentes baseadas em biopolímeros (Daniela Vassalo Pereira).
Os jovens empreendedores se reuniram nesta quarta-feira (23) na Incubadora com a gerente Larissa Dias para avaliarem as diretrizes da primeira fase do projeto.
A doutora na área de biotecnologia Marina Fontes, de 28 anos, resumiu o projeto inovador para a detecção de bactérias do gênero Salmonella em rebanhos, inclusive nas fezes dos animais, e também durante a inspeção dos produtos em frigoríficos.
“A ideia é desenvolver um sensor biológico capaz de detectar nos locais que se produz carne, seja bovina ou suína, uma das principais bactérias causadoras de infecção grave que diminui a qualidade dos alimentos de origem animal, e que impactam em toda a cadeia de produção e o consumidor. O Brasil é um dos maiores produtores de carne e foi analisando isto que projetamos o aptasensor, que tem como constituintes o carbono, que possui propriedades condutivas e a nanocelulose, que possibilita uma melhor adsorção dos aptâmeros, além de ser uma fonte verde. Tanto o carbono e a nanocelulose são de baixo custo”, relata Marina Fontes.
Também inovadoras na área química e de novos materiais, as pesquisadoras Juliana Cordeiro Cardoso e Patricia Severino desenvolverão na incubadora um chip para dispensação de medicamentos em animais domésticos. A proposta é evitar a administração repetida do medicamento, que muitas vezes impede a dosagem correta pela dificuldade que o animal impõe. A solução visa proporcionar mais qualidade de vida para o pet e também seu dono. O chip será colocado na camada subcutânea, abaixo da epiderme, que liberará o medicamento de forma lenta e gradual.
“A tecnologia é versátil e pode-se mudar o medicamento de acordo com a necessidade, o porte e a idade do animal. O material é biodegradável e será reabsorvido pelo organismo do animal. O objetivo principal do projeto é que o protótipo do chip com medicamento seja validado, pois o mercado para nosso produto é gigante”, ressalta Juliana Cardoso.
O tratamento de melasma (manchas acastanhadas nos rostos, principalmente de mulheres, que podem ser causadas por hormônios, pela exposição ao sol e por fatores genéticos) utilizando máscaras faciais de celulose bacteriana é o tema abordado pelos pesquisadores Jhonatan Miguel Silva, 28, e Aline Mendes de Souza, 31.
“Nosso projeto é cuidar da pele com a celulose e se contrapor ao uso de produtos nocivos e outros métodos que causam desconforto. O uso da máscara facial poderá ser à noite, na tranquilidade do lar, e durante o sono. Produto natural, que unirá a tecnologia em cosméticos e a evolução na estética. Na fase final, o produto passará por testes de efetividade”, relatam Aline e Jhonatan.
Com base na experiência em biopolímeros, a doutoranda e mestre em química Daniela Vassalo Pereira avança na pesquisa de embalagens inteligentes para maior garantia dos produtos armazenados para venda.
“Nossa embalagem terá um selo com propriedades para indicarem a qualidade do produto e o início da degradação. Na prática, o sensor muda de cor à medida que o produto degrada. A princípio, o foco é a aplicação do estudo para as carnes. O mesmo método poderá ser utilizado em outros alimentos”, adianta a pesquisadora. A utilização de resíduos de frutas para confecções e tecidos é uma proposta inovadora da pesquisadora Mylene Rezende a e vem ao encontro das políticas de proteção aos animais.
Unanimidade, os pesquisadores elogiaram o apoio da analista de negócios Geralda Ramalheiro, da Incubadora de Empresas de Araraquara, durante os treinamentos e orientações para as diretrizes dos projetos conforme o edital e um olhar para a inserção dos produtos no atual mercado competitivo.
Além disso, os pesquisadores agradecem o apoio e motivação recebida por parte do professor doutor Hernane Barud, que é gestor do grupo BioPolMat e diretor de P&D das Start-ups Biosolvit e Biosmart Nanotechnology. “Com certeza o professor Barud nos abre muitas portas e nos dá muito respaldo para desenvolvermos o pensamento empreendedor”, observa Daniela Pereira.
Para o professor universitário Hernane Barud, o papel do mestre é estimular a tecnologia, a inovação, e com isso sair dos muros da universidade com a possibilidade de chegar ao mercado. “Essa nova geração de pesquisadores com projetos inovadores em desenvolvimento me entusiasma muito. A mola motriz para transformar o país é o empreendedorismo. Nossa função vai além de orientar o trabalho científico, passa pela orientação pessoal e profissional”, projeta, otimista, Barud.
O coordenador da Incubadora, professor doutor Ricardo Bonotto, destaca a integração entre os pesquisadores empreendedores, o conhecimento científico e o apoio dos órgãos governamentais.
“Os cinco projetos selecionados no Centelha e outros em andamento com bolsas da Fapesp fortalecem nosso projeto de incubação e o reconhecimento nacional. Também temos empreendedores associados que desenvolvem projetos em outros pontos com o nosso apoio”, acrescenta o coordenador.
Superação
Para o vice-prefeito e secretário municipal do Trabalho, Desenvolvimento Econômico e do Turismo, Damiano Neto, a seleção dos cinco projetos da Incubadora no Centelha reforça a superação dos empreendedores diante de um momento difícil causado pela crise mundial da pandemia de Covid-19. “Com certeza, o empreendedorismo é a principal ferramenta para superar o momento adverso que enfrentamos. A Prefeitura apoia a incubadora e parabeniza os escolhidos pelo Centelha”, disse Damiano.
Centelha
O Programa Centelha integra-se a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado São Paulo (Fapesp), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ao Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), entre outros órgãos governamentais.