Início Araraquara Karen Angelo: “A arte cura e transforma vidas”

Karen Angelo: “A arte cura e transforma vidas”

Alunos fizeram protesto pelas ruas do bairro

Juntar os cacos e se reconstruir. Esse é o desafio de Paula, personagem interpretada pela atriz Karen Angelo no curta-metragem “Desce do Salto”, a ser filmado em Araraquara no mês de março.

Na ficção, uma mulher com profundas marcas, causadas por anos de decepções, percebe que está sozinha e só pode contar com ela mesma. “É uma personagem que busca constantemente a sua identidade e sua origem. Uma mulher que consegue enxergar que tinha tudo e ao mesmo tempo não tinha nada e que precisava passar por tudo isso para se reconectar com ela mesma”, analisa a atriz.

Em comum com sua personagem, Karen tem essa ruptura e mudança de vida. “A diferença é que a Paula é uma pessoa sozinha e eu tenho bastante gente comigo. Mas passei por muitas coisas. Quando voltei para Araraquara, tive que colar os pedacinhos e seguir em frente”, pondera.

A atriz

Karen Angelo, 32 anos, nasceu em Ribeirão Pires (SP), mas mudou-se para Araraquara ainda menina, aos 11 anos, após sua mãe, professora, pedir remoção para lecionar no município. Mãe de Gabi e Bela, Karen decidiu ser atriz após se formar em Direito (em 2012) e ser aprovada na OAB (em 2015). “Tive a minha primeira experiência profissional como advogada em 2018 e tive a certeza de que eu não me enquadrava na área. Sou apaixonada apenas pela parte teórica do Direito”, explica.

Residiu em São Carlos/SP até sua separação, retornando para Araraquara já com a intenção de enveredar pelas artes cênicas. “Foi a primeira coisa que busquei quando cheguei na cidade”, conta.

Matriculou-se, então, no curso de teatro do Núcleo de Artes Cênicas (NAC) do Sesi, sob a orientação do professor Rodolfo Groppo. “Quando cheguei para a minha primeira aula, senti muita vergonha, muita insegurança, inclusive pela gagueira, e fiquei com muita vontade de ir embora. Liguei para uma amiga, ela me encorajou a continuar e decidi ficar”, relembra Karen.

Com o passar do tempo, ela trabalhou sua insegurança e foi ficando à vontade nos exercícios teatrais.  “Quando finalizamos o curso com a peça ‘4 paradigmas à procura de um nome’, tive a certeza de que era isso o que eu queria fazer, independentemente do que acontecesse”.

Encerrado o curso no NAC, a atriz seguiu à procura de mais conhecimento, o que conseguiu na Casa da Cultura, onde teve aulas com a grande atriz Maria Alice Ferreira. “Foi uma excelente professora, aprendi bastante com ela”, completa.

Arte

“A Arte existe porque a vida não basta”. A célebre frase do poeta Ferreira Gullar se encaixa como uma luva na vida de Karen. Seis meses depois de enveredar pelas artes cênicas, participou de uma audição para entrar no grupo de teatro Todos Nove, de Araraquara, do diretor Bruck Oliver. “Ensaiei um monólogo para apresentar, fui com a cara e a coragem. Ter sido aprovada foi uma grande conquista. Percebi que a minha gagueira não me limitaria a fazer nada relacionado ao público. Sempre senti muita insegurança em relação a isso”, revela.

Em 2020, com o amigo e parceiro de palco Rodrigo Rocha, com quem atuou tanto no NAC do Sesi quanto no Todos Nove, passou a desenvolver vários projetos. “Tivemos uma grande conexão. O Rodrigo é uma pessoa que me ensina e me passa muita segurança em tudo o que faz. A primeira gravação que fizemos foi sobre a ‘Lei Maria da Penha’. Mais uma vez, na frente das câmeras, tive a segunda confirmação de que, apesar de precisar me aprimorar e muito, eu queria estar sempre ali”.

Das produções realizadas no ano passado, a atriz destaca “Setembro Amarelo”, curta cujo tema aborda a prevenção contra o suicídio. “Tivemos uma grande repercussão e muitos compartilhamentos.”

No mês de junho, Karen alçou voos ainda mais altos, entrando para a Escola de Atores Guilherme Leicam. “Não sabia se era a hora. Ele é muito profissional, participou de várias novelas e eu ainda estou muito no começo. ‘E se eu passar vergonha?’, me questionava. Foram muitos pensamentos que vinham à mente, mas algo me dizia que eu daria conta, pois a minha força de vontade estava se tornando maior do que qualquer outro sentimento”, emociona-se a atriz, que além das aulas em grupo, faz mentorias particulares com Guilherme Leicam.

Do luxo ao lixo

Entre as atividades feitas na Escola de Atores Guilherme Leicam, a atriz participou do laboratório “Do Luxo ao Lixo”, no qual sentiu na pele o impacto social nas duas extremidades, fazendo-a enxergar o outro de forma diferente. “Vivi um dia como moradora de rua e senti de perto a exclusão e a invisibilidade que essas pessoas sentem”, ressalta Karen.

Cristã, ela agradece a Deus a cada passo dado na carreira que decidiu seguir. “De forma natural e espontânea eu fui crescendo e os meus medos foram diminuindo.”

“Desce do Salto”

 “O sonho de atuar era algo que estava adormecido dentro de mim e que foi despertado na hora certa, como um presente do meu Deus na minha vida. É uma escola de autoconhecimento e empatia. Posso dizer com propriedade que a arte cura e transforma vidas, pois transformou a minha”, resume Karen.

Em março, Karen encara seu maior desafio como atriz até o momento. Será protagonista do curta-metragem “Desce do Salto”, a ser filmado em Araraquara. O curta promete uma reflexão sobre o ser social e o ser interno. No enredo, ela será Paula, uma mulher que viveu intensamente tudo o que queria, mas percebeu que tudo não passou de uma grande ilusão. “Um castelo se desfez ao longo da sua vida e ela se dá conta que precisa se reconstruir. Então, ou ela inicia uma nova história ou vai chegar ainda mais ao fundo do poço”, informa a atriz.

A produção, que seguia a rotina de ensaios nas últimas semanas, teve que interromper temporariamente os trabalhos por conta do lockdown. “Estávamos ensaiando arduamente para essa filmagem e voltaremos assim que a pandemia permitir. O filme será lançado nas redes sociais, tanto na minha, quanto na página da Produtora Rocha”, acrescenta.

O curta conta ainda com trilha musical da banda Pluggit, feita especialmente para esse projeto.

Redação

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