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Legado de amor como presente

Cada visita realizada foi intensa e cheia de emoção, pois seu significado envolvia amor e solidariedade. Foram dias de muitas emoções os vividos recentemente pela criadora de conteúdo digital, bailarina e coreógrafa Re Zoéga

Célia Pires-Colaboração

Recentemente, a criadora de conteúdo digital, bailarina e coreógrafa Re Zoéga que atua voluntariamente como Mamãe Noel vivenciou momentos únicos com o retorno das visitas presenciais aos asilos da cidade, em especial o São Francisco que causou um misto de sensações trazendo à tona muitas lembranças de sua mãe, a artista plástica Nilza Maria Zoéga Amaral, fundadora e voluntária do Grupo Coração Araraquara, onde confeccionava enxovais para bebês de famílias carentes e gorros e cachecóis para idosos dos asilos da cidade. Ela viu cenas ali que lembravam a sua mãe no hospital. Cenas muito tristes, como a de alguns idosos com sonda nasogástrica, mas, que apesar de qualquer problema de saúde ao verem a ‘Família Noel’ chegando, abrem um sorrisão. “Querem pegar, abraçar, dar beijo. Meu Deus, a gente engole o choro”, conta ela.

Na visita ao Lar Otoniel de Camargo, mais emoção: o reencontro com um cantor, morador do lar, e que inclusive cantou para sua mãe na última vez que esteve lá. “Ele havia cantado a música do Roberto Carlos, ‘Debaixo dos caracóis dos seus cabelos” e minha mãe cantou junto com ele. E nessa visita recente eu estava com o cabelo enrolado.  Eu perguntei: cadê o cantor? O cantor tá desanimado hoje né? Porque a gente vai brincando, vai tentando trazer alegria, provocar um sorriso neles”.

Depois de brincar que uma das razões de ter ido ao lar foi para ouvir o cantor ele ficou todo empolgado feliz. “Ele levantou, cantou Asa Branca e depois ‘Debaixo dos caracóis’. Gente, pelo amor de Deus é muita emoção. Tenho o vídeo dele cantando para minha mãe e agora o vídeo dele cantando para mim. E eu só agradeço muito. E, embora a gente veja cenas que são muito tristes é muito gratificante ver o tanto que a nossa visita significa pra eles. Dessa vez, a gente não entregou a lembrancinha na mão de cada um, mas umas bolinhas, uns dadinhos e as pessoas não imaginam a felicidade deles recebendo dois, três dadinhos e ainda ouvir alguns deles pedir mais um, pois iria guardar para o filho que iria fazer uma visita. Meu Deus, sabe a gente fica sem palavras”.

Só gratidão

Renata ressalta que só tem a agradecer pelo trabalho voluntário que realiza e que não pode falar de trabalho voluntário sem falar da sua mãe, porque é por ela que realiza esse trabalho social. “E é por ela que eu faço isso. Não como obrigação, mas pelo prazer que ela despertou em mim. Com ela eu aprendi a necessidade da gente se doa. E eu sempre cresci sozinha, pois filha única. Minha mãe sempre teve isso muito com ela de me levar para brincar e me deixar passar fim de semana em orfanato para aprender a dividir, aprender ajudar, cooperar, pois a gente ficando muito sozinha vai criando um mundinho muito particular e minha mãe sempre me colocou perto da realidade, pois a realidade não é o nosso mundinho né? A realidade é essa que a gente está vivendo. Eu agradeço demais por ela ter me colocado nesse trabalho e é claro, que eu sempre fui com o maior prazer do mundo”.

A ‘Mamãe Noel’ conta que começou a acompanhar a mãe nas visitas juntamente com Roger Mendes quando ainda estava em São Paulo e viajava com a dupla Zezé de Camargo e Luciano. “Nessa época de final de ano, geralmente, eu estava aqui e ela marcava as visitas nas datas que eu estaria na cidade, pois sempre fiz questão de acompanha-la em tudo, assim como ela sempre me acompanhou em tudo. Isso foi até antes do Marcos Gobatto e eu formarmos a Família Noel. A retomada dessas visitas foi muito boa. Não tem o que pague isso”.

Coração quentinho

A Família Noel também faz um trabalho para divertir crianças carentes. “Recebi o de uma mãe um dos relatos mais lindos que eu já vi, que é cheio de sensibilidade, pois descreve com emoção a sensação do Papai Noel chegando, a sensação do sininho da Mamãe Noel tocando, chamando as crianças, do filho olhando para tudo isso”.

Renata diz que as ações com os idosos e as crianças são os opostos, são as pontas da nossa vida que começa lá nas crianças. “Toda a fantasia do Natal, do Papai Noel, das renas e chega lá no fim nos asilos. Muito gratificante o brilho no olhar das crianças. É uma coisa que fica para a vida”.

Re Zoéga, relata que se lembra que tinha medo de Papai Noel. Não lembra se sofreu algum trauma, se alguém a forçou a chegar perto. E hoje se vê alguma criança no primeiro momento com medo do Papai Noel faz essa ponte com a ajuda do cachorro Coxinha. “Então, às vezes, vem no meu colo e não vai no colo do Papai Noel e aos poucos vai chegando perto. Tem que tomar muito cuidado com esse momento porque pode causar um trauma para vida toda. Temos muito cuidado com isso e também com o idoso que tem medo de cachorro”.

Embora seja uma época muito difícil para Renata ela não abre mão.” Falo que se eu pudesse pulava essa parte e voltava a acordar depois do Carnaval para não ter a sensação de vazio, mas estar com as pessoas que precisam de atenção, de carinho, que querem conversar um pouquinho para preencher o vazio que elas estão sentindo já nos enche de gratidão e o nosso coraçãozinho fica quentinho”.

Energia maravilhosa

Uma grande alegria para Renata Zoéga é ver que tem as pessoas nos locais visitados que se lembram deles. “Tem gente que ainda pergunta: ah, mas não eram dois cachorros? Eles perguntam da minha mãe até hoje, onde ela está. “Cadê aquela senhora que vinha junto? Respondo que ela não pode vir, mas ela está vendo a gente, que ela está aqui com a gente e tem pessoas que assim que vê a gente na porta já vem correndo para abraçar. É uma energia maravilhosa que elas passam para gente, o tanto de palavra de amor, de carinho e eles falando olha que Deus abençoe e que eu continue assim. Dizem: porque você é tão linda, você é tão doce. E a gente tá ali fazendo nada. Nada perto de tudo que eles precisam. É uma conversa, é um olhar é uma atenção, é um abraço sentado do lado, pegar na mão, ouvir a história que eles têm para contar porque eles têm muita sabedoria para passar para gente. E essa vivência de estar ali com eles, sair do nosso mundinho, do nosso infinito particular e conhecer e viver realmente o particular de cada um, porque ali não é o nosso parâmetro. É muito diferente. Graças a Deus eu pude estar com a minha mãe o tempo todo. Não nem questionando e nem quero que isso soe como julgamento a quem não pode estar com os pais de alguma forma, mas o que conforta meu coração hoje é saber que eu estive com ela o tempo todo. O tempo todo em casa, no hospital, o tempo todo nas ações, literalmente na alegria e na tristeza, na saúde na doença eu estive com ela e é isso que acalma meu coração. Por mais que o vazio da saudade seja imenso isso acalma meu coração, mas é muito triste ver que não é todo mundo que pode ter esse amor, que não tem esse amor dos filhos o tempo todo, que não tem as visitas que eles esperam. Lá no São Francisco tinha uma senhora toda arrumada, de colar de pérola, linda de batom vermelho. Falei que ela estava muito bonita. Ela respondeu que era porque o filho iria visita-la e aí você olha para as enfermeiras e elas fazem um sinal que não vem e faz muito tempo que não vem. Isso é muito triste. Como diz o ditado, conselho a gente não dá, mas de quem passou por todas as dores fique perto de quem você ama sempre, por mais que existam dificuldades, por mais que exista desafios esteja perto de quem você ama, de quem te ama, porque é isso que vai acalmar o nosso coração lá na frente. É isso que vai esquentar o nosso coração, sabe.  Essa é uma época que eu não gosto muito. Não gosto de Natal, não gosto dessas datas comemorativas, porque a falta de quem eu amo é muito grande”.

Redação

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