A greve dos servidores municipais da Educação que já dura 68 dias está causando transtornos aos pais de alunos de vários CERs de Araraquara que não têm com quem deixar seus filhos no período de trabalho. O CER Concheta Smirne Mendonça, localizado na região do bairro Quitandinha, é uma das unidades de educação infantil do município que está enfrentando o problema.
A creche que possui no período normal de aulas cerca de 180 alunos entre o período da manhã e o da tarde, estava atendendo desde o início do ano letivo em abril, somente 35% dos alunos considerados prioritários, porém, desde o início da greve dos servidores, duas professoras da unidade aderiram ao movimento grevista e, desde então, pelo menos duas turmas que estavam participando das atividades presenciais ficaram sem aulas.
Algumas mães de alunos das referidas turmas relataram à reportagem que não têm com quem deixar seus filhos para trabalharem e se encontram em uma situação difícil.
“Eu não entendo o motivo das professoras ainda estarem em greve se a maioria dos servidores da Educação já foi vacinada contra a Covid-19. Eu e meu marido precisamos trabalhar e não temos com quem deixar nossa filha de apenas 1 ano e 10 meses. Eu já tive um prejuízo grande sem poder trabalhar por uma semana durante o lockdown, agora preciso trabalhar para pagar minhas contas, mas não tenho onde deixar minha filha”, desabafa a manicure Maria Zeni Almeida da Luz.
Já a esteticista Pâmela Antônio enfrenta um problema parecido, pois como não possui parentes em Araraquara, precisa levar a sua filha de 3 anos para a casa de sua mãe em São Carlos, todos os dias, para poder trabalhar. “Tenho um gasto desnecessário com combustível todos os dias porque minha filha não está tendo aulas na creche. Essa situação já está ficando insustentável”, relatou a esteticista.
Uma outra mãe de aluno da creche que preferiu não se identificar, se vê em uma situação ainda pior, pois sem ter com quem deixar seu filho, acabou perdendo o emprego. “Só com a renda do meu marido nós estamos passando muita dificuldade em casa. Estou fazendo apenas uma refeição por dia para que ele consiga levar a marmita para o trabalho. Eu já procurei o CRAS para tentar ajuda, mas não me cadastraram pois meu marido trabalha registrado, por isso, não me enquadro como pessoa em estado de vulnerabilidade. Porém, a renda dele é muito pouca e não dá para pagar todas as despesas. Já estou entrando em desespero”, relatou.
O que diz a Secretaria de Educação
Questionada pela reportagem sobre a ausência das professoras grevistas e se haveria a possibilidade da transferência de alguma educadora de outra creche para suprir a falta, a Secretaria de Educação do Município respondeu:
“Em relação à ausência de duas professoras do CER Concheta Smirne Mendonça, por adesão à greve na educação, a Secretaria Municipal de Educação esclarece que não é possível transferir ou substituir as duas professoras, porque a lei trabalhista impede.
Além disso, o fato das unidades estarem atendendo somente até 35% dos alunos considerados prioritários não significa que há professor sem aula; cada professora que está trabalhando tem turma e não está sem ocupação. Ao contrário, divide sua jornada de trabalho entre o presencial e o remoto.
Vale destacar ainda que, com o retorno gradual dos profissionais que tomaram as duas doses da vacina 15 dias após a segunda dose (nos termos do Decreto nº 12.611/2021), será possível atender mais e melhor aos alunos na referida unidade”.
Vacinação
De acordo com dados da Prefeitura, cerca de 4,5 mil dos profissionais da Educação tomaram a primeira dose e 1,7 mil tomaram a segunda da vacina contra a Covid-19, em Araraquara.
A demora na compra das vacinas pelo governo federal gerou um atraso importante na vacinação da população brasileira. Além disso, a diminuição nos valores do auxílio emergencial e o descontrole da pandemia do coronavírus, fizeram a economia travar e dificultou a vida dos brasileiros.
As restrições às atividades econômicas na tentativa de conter o avanço da pandemia foram outro motivo para a diminuição do crescimento econômico do país e consequentemente o aumento de pessoas desempregadas que dependem exclusivamente do auxílio do governo para sobreviverem.
O que diz o SISMAR
“Nota sobre os transtornos vivenciados por mães de alunos
As ações dos governantes do nosso país nos trouxeram à situação em que estamos, de descontrole da pandemia e desemprego e fome em alta.
A greve dos trabalhadores da Educação municipal é uma resposta a isso, é um ato de repúdio a este descontrole. É o único modo de preservar as vidas destes profissionais e de toda a comunidade escolar.
E não são só os educadores que estão em risco, todos estamos. Ninguém deveria ser obrigado a ir trabalhar presencialmente neste momento da pandemia. Afirmamos isto com base em estudos da USP e da Fiocruz, que estabelecem claramente os parâmetros para que a reabertura seja considerada segura.
Portanto, o SISMAR se indigna com a situação em que o País está afundado, se solidariza com as mães e com todos os trabalhadores, compreende a gravidade da situação, mas reafirma que cabe à Prefeitura, ao Estado e à União, garantirem condições dignas de sobrevivência a todos os brasileiros, seja antes, durante ou depois da pandemia.
Nesta luta, estamos do mesmo lado das mães e demais trabalhadores prejudicados. A classe trabalhadora está sendo esmagada e não podemos cair na armadilha de nos colocarmos uns contra os outros. Nosso inimigo é outro.
Colocar trabalhadores, alunos e familiares em risco de morte não pode ser a solução para o desemprego. Medidas sérias de isolamento social em nível nacional e um auxílio emergencial digno resolveriam o problema e permitiriam, inclusive, um retorno mais rápido das atividades econômicas, protegendo as vidas, os empregos e o tão cobiçado lucro dos empresários”, diz o SISMAR.