José A C Silva
O documentário “Memória do Ácido” foi apresentado para um público seleto de cerca 70 pessoas em Araraquara. Diferente da rigidez de métodos usados para tratamento com dependente químico e alcoólico, já que o personagem do filme não usa drogas há mais de 20 anos, foi servido vinho, queijo e suco de laranja sem açúcar. O focado pelas lentes do renomado cineasta araraquarense é flagrado fumando um cigarro de palha que parece um baseado. Marcelo Machado, respeitado pelos seus documentários, no Memória do Ácido não foi o diretor, ficando a cargo da filmagem – em alguns momentos interage com os personagens, como em uma “mesa de jantar”. No início, aparece Eduardo Schwartzmann, como diz no documentário, o lendário Cocó, quebrantado em soluços e com lágrimas escorrendo dos olhos, abraçado com a Dra. Regina Fabre que trabalha na memória do ácido em Eduardo.
As perguntas formuladas por Fabre, participante da ‘Geração Tropicália’ analisa a sobrevivência e as mutações também na vida de Schwartzmann, usando o Processo Formativo. Ela estudou com Stanley Keleman. No livro “Corporificando a Experiência” de autoria de Keleman, mostra que a vida diária envolve a criação de diferentes configurações somáticas para lidar com a variedade de mudanças das circunstâncias externas. Nesta afirmação podemos ver como o comportamento é visto por Stanley a partir das organizações somáticas, que são inseparáveis das outras esferas da experiência humana. A clássica separação entre as esferas cognitiva, afetiva e motora perde espaço nesta visão integrada. Keleman elege o acesso à organização somática como via privilegiada para se trabalhar com a experiência humana, acreditando através deste trabalho estar articulando todas as camadas da existência.
Durante a mostra, a drogadição de Eduardo causou em alguns momentos tristeza e em outros risos – narrativas de prisões e internações em hospitais psiquiátricos. “Eu estava na Bahia, quando um cara conhecido no meio lisérgico entrou na água de mochila, ensopando 400 pontos de LSD. Os ácidos em papel foram colocados para secar, quando não estavam olhando tirei uma parte e engoli, não sabia que, apesar de encharcados, ainda continham toda potência. Entrei em uma bad trip, viagem ruim, por aproximadamente um mês. Não me alimentava e via coisas horríveis, tiveram que me tirar da praia para tratamento, já na estrada pulei do carro embrenhando no mato. Depois entrei em um ônibus. por achar que estava sendo perseguido, saltei pela janela do banheiro e pegando carona fui parar em Santos na casa de parentes, onde fui melhorando. Tomava LSD como se estivesse tocando em algo superior. Alguns eram dados à magia branca ou negra na época”.
Um dos momentos que tirou risos da plateia foi quando ele explicou o porque do apelido Cocó. “Na época de ginásio imitava um frango na sala de aula. Fazia em voz alta ‘cocodecoco’ e passaram a me chamar de Cocó”, comentou Schwartzmann. O documentário termina com sons de línguas estranhas (grossolalia) emitidas por Eduardo e Regina, acompanhado de gestos de Yoga semelhantes a quem estava viajando de LSD.
Exposição de quadros
O jornal Soma era editado por Sérgio Macedo na época da ditadura militar e já tinha como conteúdo a contracultura underground e desenhos de bico de pena lisérgicos. O que juntamente com as capas de LPs influenciaram a parte artística de Eduardo Schwartzmann. Na faculdade ajudou a distribuir o Soma, também como uma forma de contestar os anos de chumbo. No evento teve a mostra também de vários quadros de Cocó que contam com fragmentos psicodélicos.
Meio do mato
Eduardo Schwartzmann e Adriana Medina que é a produtora do “Memória do Ácido”, escolheram para morar uma propriedade rural em Minas Gerais, onde fabricam de maneira artesanal massas e compotas que são apreciadas na região: pão integral, pizza integral, ravióli de Bride de damasco, massas de beterraba e espinafre. As compotas são elaborada