O motorista que interrompeu o tráfego no Rodoanel por quase cinco horas na última semana, após afirmar ter sido vítima de um sequestro, é um ex-policial militar de São Paulo exonerado em 2006 por “atos desonrosos”. A identidade dele — Dener Laurito dos Santos, de 52 anos — foi confirmada por documentos oficiais e por seu próprio depoimento à Polícia Civil.
Exoneração por conduta grave
Dener era soldado da Polícia Militar e servia no 22º BPM/M, na zona sul da capital paulista, quando foi expulso da corporação. A punição foi publicada em 3 de março de 2006 no Diário Oficial do Estado e teve como base uma transgressão disciplinar de natureza grave, segundo o Regulamento Disciplinar da PM.
Confissão: motorista admite ter armado todo o episódio
Em novo depoimento, obtido pelo UOL, Dener confessou ter forjado toda a situação, que gerou pânico, mobilizou equipes especializadas da polícia e provocou congestionamento de mais de 20 km.
O motorista disse que queria “chamar atenção para a falta de segurança” enfrentada por caminhoneiros nas rodovias do país. Ele afirmou estar arrependido e afirmou não ter pensado nas consequências.
Segundo a versão apresentada agora:
- Ele passou a noite anterior em um posto na Rodovia dos Bandeirantes;
- Usou fio de fone, fita crepe, papel alumínio, água e um tubo de gás de fogão portátil para montar um artefato que simulava uma bomba;
- Inventou o relato de roubo da carreta à empresa;
- Parou o caminhão atravessado no km 44 do Rodoanel, em Itapecerica da Serra;
- Amarrrou as próprias mãos e acredita ter desmaiado por estresse emocional, recuperando os sentidos apenas quando era socorrido.
Dener negou uso de drogas ou remédios que pudessem afetar suas condições mentais.
Primeira versão cai por terra
Inicialmente, o caminhoneiro disse ter sido sequestrado por três homens armados que teriam jogado uma pedra no para-brisa, assumido o controle da carreta e o mantido amarrado na parte traseira do veículo. Essa versão, porém, não foi sustentada por imagens do Rodoanel, segundo a Polícia Civil.
Ele chegou a afirmar que os supostos criminosos pretendiam usar o caminhão para transportar armas ao Rio de Janeiro e que fugiram após ele reagir — relato que a PM classificou como “falas desconexas” no boletim de ocorrência.
Indiciamento por falsa comunicação de crime
A SSP-SP informou que Dener foi indiciado por falsa comunicação de crime, mas não chegou a ser preso. As investigações continuam para responsabilização completa.
O bloqueio que parou o Rodoanel
A carreta ficou atravessada na via das 5h30 às 10h30, gerando um dos maiores congestionamentos do ano. As duas pistas foram fechadas por cerca de uma hora para atuação do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais).
Dener desmaiou ao ser retirado da cabine, às 9h21, e recebeu atendimento médico.
Às 10h, o artefato foi removido e, após análise, a polícia confirmou que não se tratava de uma bomba de verdade.
O caminhão estava vazio e seguia para uma base em São Bernardo do Campo.
As investigações seguem, agora, concentradas em esclarecer todas as circunstâncias da farsa e determinar os impactos criminais da ação que mobilizou grande aparato policial e afetou milhares de motoristas.
