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Nascimento de Cristo

Artigo

Luís Carlos Bedran*

“Vamos aproveitar o feriado para continuar com as festas”, disseram alguns

amigos dias antes da chegada do Natal. Nenhum deles chegou a falar sobre o significado da data porque aquele não era o momento próprio, embora todos fossem cristãos. Não estranhei. Apesar de que todo nascimento de uma criança ser sempre motivo de alegria, de festa, o de Jesus, acontecido há tanto tempo, possui um valor diferente para a Humanidade. Não apenas pelo seu nascimento, pelo que foi, por sua vida, em favor da justiça, do amor ao próximo, da solidariedade aos pobres que se espalhou pelo mundo todo graças a seus seguidores, mas, sobretudo, 33 anos depois, pela sua morte. Trágica, sob cruel tortura, julgado e condenado pelas leis de Roma. Será que, não houvesse o suplício pela cruz e depois o desaparecimento misterioso de seu cadáver, Ele seria tão venerado pelas pessoas? E depois, a ressurreição? E a fama pelos milagres que fez ou teria feito? E se Jesus tivesse morrido de morte natural, por velhice?

Como teria sido sua adoração? Como teria dito o jornalista no filme “O Homem que Matou o Facínora”, de John Ford, o que importa é a versão, não o fato. Embora até hoje haja interpretações históricas sobre o seu nascimento, morte, seu misterioso desaparecimento por alguns anos, ainda não há unanimidade entre os historiadores, como cientistas. Nem mesmo entre religiosos, embora também haja cisões no cristianismo devido às dúvidas sobre os dizeres da Bíblia. E se dúvidas ainda persistem,

seriam irrelevantes para os crentes, porque o que importa, o que vale é a fé. A crença na ressurreição de uma pessoa simples, do povo, filho de um carpinteiro, cujas sublimes ideias calaram fundo na mente dos homens e das mulheres e se espalharam por todos os continentes. Tais como a de promover a felicidade do ser humano, independentemente de preconceitos, com tolerância; a união familiar; a proteção aos desfavorecidos da sorte

para que se possa viver em paz neste mundo. E que traz aos que têm fé um mundo melhor após a morte. De tudo o que foi dito, nada é novidade, porque os doutores da Igreja foram também influenciados pelas ideias dos filósofos. A religião cristã é a mais filosófica de todas. Por tudo isso não há demérito algum alguém se divertir com o nascimento de Cristo, mesmo supostamente desconhecendo quem foi Ele realmente.

Sem sequer meditar ou rezar no que representou e continua a representar para o mundo.

Porque, menos pelo nascimento, do que pela vida e morte, é que deve ser lembrado. Tal como Sócrates, condenado à morte pelas leis de Atenas, que não é lembrado pelo seu nascimento e sim pela sua morte. Porque a pessoa morre, mas fica a ideia. Com a pregação, Cristo tornou-se um exemplo para a Humanidade. Assim mesmo o mundo continua conturbado. Imagine não existisse! Que seu nascimento continue a ser motivo de festa para cristãos ou não. E que todos tenham um feliz Natal!

*Sociólogo, advogado, jornalista, ex-vice-presidente da OAB/Araraquara, foi procurador do Estado de São Paulo

Redação

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