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O adeus a Geraldo Scalera

O jogador vestiu a camisa da Ferroviária em 132 jogos. Fotos: Museu do Futebol e Esportes de Araraquara

Faleceu ontem, aos 78 anos de idade, o ex-jogador Geraldo Scalera, que fez história com as camisas de Ferroviária e Palmeiras na década de 60. O ex-lateral morreu no início da madrugada de ontem (14), vítima de um infarto. Seu sepultamento ocorreu ontem no Cemitério São Bento.

Oriundo da capital paulista, onde nasceu em 1940, desde garoto Scalera já mostrava aptidão e habilidade com a bola nos pés. Na adolescência, somada a paixão pelo futebol, estava o desejo de proporcionar estabilidade financeira para sua família. “No meu tempo, realmente todo moleque queria ser jogador. Fui um desses, porém tinha convicção de que meu sonho iria tornar-se realidade. Juntei a fome com a vontade de comer. Só que não fiquei apenas na ilusão. Corri atrás mesmo. Todos os dias, calçava minha chuteira e não perdia uma chance de atuar pelo futebol varzeano no bairro do Brás”, explicou o ex-jogador, em entrevista concedida ao repórter Alessandro Bocchi para uma reportagem publicada em 2014 no jornal O Imparcial.

Com 16 anos, o jovem atleta já disputava campeonatos amadores em São Paulo, mirando a realização de seu sonho. Inicialmente ele defendeu o União de Guarulhos. Foi disputando um torneio em São Paulo que o volante viu surgir a primeira oportunidade no futebol quando um olheiro gostou do que viu e o levou para o time da Usina União São João, que posteriormente viria a se tornar o União São João de Araras.

O meio-campista chegou ao União e de cara foi campeão amador, já que naquela época os jogadores só podiam ser profissionalizados aos 20 anos de idade. Em 1960, Geraldo Scalera foi profissionalizado pelo clube. Depois disso foi disputar um torneio com São Paulo, Velo Clube de Rio Claro e XV de Jaú. Era reserva, mas ganhou uma oportunidade em uma partida onde marcou dois gols. Na ocasião, quem estava na arquibancada observando novos talentos era o presidente-fundador da Ferroviária, Antônio Tavares Pereira Lima, em sua segunda passagem pelo clube.

Scalera realizou dois testes na Fonte Luminosa e ganhou a confiança do técnico Modesto Bria, e posteriormente de Francisco Sarno. Ambos deram espaço para que jogador recém-chegado. No dia 22 de julho de 1962, pelo Paulista da Divisão Especial, Geraldo Scalera fez sua estreia pela AFE, na vitória por 3 a 0 sobre o Jabaquara na Fonte Luminosa. Ele destacou que na lateral, mesmo tendo a obrigação de marcar, deixava muitas vezes o setor para se lançar ao ataque.
Em 1962 o lateral-direito foi eleito o destaque do Campeonato Paulista. No ano seguinte, Peixinho foi para o Santos e Geraldo Scalera também foi cogitado para defender o time da baixada. Porém, ele ainda permaneceu o no clube até 1965, quando foi negociado com o Palmeiras.

Geraldo Scalera discursou acerca de sua chegada ao Palmeiras. “Quando aportei no clube, a titularidade na lateral-direita estava com Djalma Santos. Dessa forma, demorou um pouco para que eu tivesse uma chance”, relembrou. E como a vida é feita de desafios, a oportunidade para o lateral surgiu justamente num clássico contra o Corinthians, no Pacaembu, em que o Verdão venceu por 2 a 0. “Na época o jogador era contratado pelo seu futebol e, também pelo caráter. O Dudu, que havia sido meu companheiro na Ferroviária deu-me muita força”, garantiu Scalera, Campeão Paulista pelo Palmeiras em 1966. Depois disso o palmeirense participou da conquista da Taça Brasil de 1967 e também disputou a Taça Libertadores da América de 1968, quando o Palmeiras ficou com o vice-campeonato.

Após passagem pelo Palestra Itália, o jogador foi defender o tradicional Juventus da capital. Pelo time da Mooca Scalera disputou duas temporadas (1969/70). O ex-lateral também defendeu as cores do Rio Preto e Marília. Infelizmente uma séria lesão no menisco interno e externo antecipou o final de sua carreira. “Tudo o que tenho hoje, minhas conquistas e estabilidade, foi a bola que me proporcionou”, garantiu.

Geraldo Scalera também integrou o Milionários, escrete formado por ex-craques como Bellini, Djalma Santos e o grande Mané Garrincha. Uma equipe amadora, cheia de estrelas do passado, que fez história.

Ainda em São Paulo, o ex-jogador fez cursos para ser representante de vendas, tendo desenvolvido o ofício em várias empresas. Na primeira oportunidade ele pediu transferência para Araraquara, onde deu continuidade a atividade no mesmo setor, até ser convidado por um dirigente da Ferroviária S.A para trabalhar na casa do atleta. “Gostei muito de trabalhar no alojamento, porque durante muitos anos vi o meu passado naqueles garotos. Tive a chance de conversar com eles, falar da minha experiência no futebol, explicando para eles que a carreira é curta, devendo ser bem aproveitada, principalmente acompanhada pelos estudos”, concluiu.

Alguns problemas associados à saúde, não permitiram que o ex-afeano continuasse trabalhando na Casa do Atleta. Scalera seguiu residindo em Araraquara, no bairro no Vale do Sol. Em se tratando de uma personalidade conhecida na cidade, foi muito querido pelos torcedores da Ferroviária, que gostavam de escutar seus relatos.

Redação

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