O projeto para modernização dos radares em operação pela Unesp, por meio do Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet), sairá do papel e receberá investimentos do governo paulista, anunciou o governador Tarcísio de Freitas em meio aos trabalhos que estão sendo realizados na cidade São Sebastião, no litoral norte, após os deslizamentos de terra que causaram a morte de dezenas de pessoas no último final de semana.
“Do ponto de vista meteorológico, é fundamental que a gente tenha equipamentos mais modernos. A gente tem alguns radares meteorológicos hoje que são operados pela Unesp. A nossa ideia é fazer a substituição por radares mais modernos”, afirmou o governador paulista, em entrevista concedida à GloboNews.
A Unesp opera, por meio do IPMet, dois radares meteorológicos que cobrem cerca de 80% do território estadual, além de regiões adjacentes de estados vizinhos, como Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Os radares estão instalados nas cidades de Presidente Prudente e Bauru, município que concentra a operação desses equipamentos. Os dois radares atuais conseguem fazer a previsão de chuvas em um raio de aproximadamente 450 quilômetros, mas a acurácia das medições para obtenção de dados mais precisos, como alerta de tempestades e volume das chuvas, limita-se a um raio de 240 quilômetros.
Os dois radares meteorológicos da Unesp, ao lado de um terceiro instalado perto da Barragem Ponte Nova, em Salesópolis, limite leste da região metropolitana de São Paulo, formam o que seria um “sistema paulista de meteorologia”, lembra Roberto Vicente Calheiros, professor fundador do IPMet. No início dos anos 1990, o docente participou do processo de aquisição dos atuais radares meteorológicos do IPMet-Unesp com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), em um desdobramento de um projeto chamado Radasp (Radar em São Paulo), que está na origem da criação do IPMet na década de 1970.
Em 8 de fevereiro, antes da tragédia do litoral norte, Calheiros foi convidado pela diretoria da Faculdade de Ciências do câmpus de Bauru a participar de uma reunião no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, em que representantes da Unesp puderam explicar a dificuldade de realizar a manutenção dos atuais radares meteorológicos. A Universidade destina verbas para o custeio dos equipamentos, mas a reposição de peças está cada vez mais difícil em razão da idade do maquinário. Daí a necessidade de atualizá-lo. O encontro reuniu o secretário estadual da Casa Militar e Defesa Civil, coronel Henguel Ricardo Pereira, o secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, professor Vahan Agopyan, o chefe de gabinete da Reitoria da Unesp, professor César Martins, e a diretora da Faculdade de Ciências do câmpus de Bauru, professora Vera Capellini, entre outros.
“Houve na ocasião o entendimento da situação dos radares operados pelo IPMet. A ideia é criar uma rede para articular melhor a obtenção de dados meteorológicos. Agora isso foi reafirmado no compromisso assumido pelo governador”, diz o professor César Martins.
Segundo Vera Capellini, diretora da Faculdade de Ciências, unidade a que o IPMet está vinculado, o pleito de modernização dos radares da Unesp foi “bem recebido” desde o início. Após a reunião do dia 8, o planejamento previa a criação de um grupo de trabalho com integrantes das duas secretarias estaduais envolvidas para olhar a questão de maneira mais aprofundada. Foi colocada à mesa a possibilidade de um radar meteorológico móvel adquirido pelo Instituto de Estudos Avançados do Mar (IEAMar) da Unesp, com sede em São Vicente, também contribuir futuramente para melhorar a acurácia das previsões meteorológicas para as cidades do litoral paulista. O radar, recém-montado nos Estados Unidos, só deve chegar ao Brasil em junho. Uma eventual parceria com os serviços meteorológicos estaduais não exclui, obviamente, os fins acadêmicos do equipamento que estará em uso na Unesp, vinculados a projetos de pesquisa.
“O investimento em radares meteorológicos têm altíssimo custo-benefício, pois os valores investidos são incomparavelmente menores do que aqueles que o estado tem que despender eventualmente para remediar perdas em serviços posteriores para proteger a vida e a propriedade das pessoas”, afirma o fundador do IPMet Roberto Vicente Calheiros.