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Pesquisa da FGV EAESP mostra que eleitor condena corrupto, mas tolera desperdício de recursos

Pesquisa do professor Paulo Arvate, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP), e do professor Sergio Mittlander, do Max Planck Institute, aponta que eleitores condenam políticos corruptos com mais facilidade, mas muitas vezes são tolerantes com políticos que provocam desperdício de recursos públicos.

Eleitores avaliam candidatos políticos em mais de uma dimensão para se decidir pelo voto (por exemplo, considerando a dimensão da segurança pública, de programas sociais, etc.). Eles olham as informações sobre o que o candidato fez ou propõe fazer considerando também a dimensão moral, e o histórico e prospecto de corrupção de cada candidato, colocando tudo numa balança. Coisas que ele julga positivamente, como programas sociais, contra coisas que ele julga negativamente, como histórico de corrupção. Feito isto, se a balança pender mais para o lado positivo, ele vota nesse candidato. O contrário, ele vota não vota no candidato.

O gestor que desperdiça fundos ou administra e investe os recursos públicos de maneira ineficiente e corrupção ficam dentro desse conjunto de ações avaliadas pelo eleitor negativamente. Ainda assim, elas são diferentes, pois enquanto o político corrupto se beneficia, pessoalmente, daquilo que os cidadãos perdem, no caso da má-gestão e má-administração, apenas os cidadãos perdem, e o político não se beneficia pessoalmente.

O resultado do trabalho foi obtido de indivíduos em laboratório dentro de um jogo eleitoral: políticos vs. eleitores. Eleitores escolhem políticos.

Aprendeu-se duas coisas sobre corrupção e má-gestão no processo de decisão dos eleitores:

1 – A corrupção per si não elimina por completo as chances do candidato do processo eleitoral. Ela apenas reduz as chances do candidato de se eleger porque outras dimensões pesam na avaliação do mesmo. Por exemplo, se um candidato montar um programa social que dê renda para o eleitor e/ou gerar emprego para ele com investimento público, certamente, esse eleitor pode votar nesse candidato mesmo que ele seja corrupto. A balança desse eleitor sobre o candidato corrupto pode ter mais coisas positivas, ainda que o eleitor não queira corrupção. É por isso que existem casos no Brasil e no mundo de políticos corruptos com muita popularidade e que continuaram na vida pública.

2 – Como existe uma lei estabelecendo que corrupção é um crime, o eleitor entende mais facilmente que a corrupção ficará do lado negativo da balança. No caso de má-gestão, que pode provocar desperdício de recursos públicos tanto quanto a corrupção, isso ainda não é tão claro porque não existe lei contra isso. Não é crime administrar ou investir recursos públicos de maneira ineficiente.

Observando como os eleitores decidem e os problemas gerados tanto pela corrupção como pela má-gestão (ambos reduzem os recursos na produção de bens públicos como, por exemplo, na área de saúde, educação, segurança pública), a sociedade democrática pode se defender disso:

1 – Bloqueando a participação de candidatos corruptos na eleição. Proporciona uma solução dado que os eleitores podem ainda votar nesse tipo de candidato. O candidato corrupto que “rouba mas faz” tem, às vezes, chances continuar na vida pública. O discurso de alguns políticos brasileiros corruptos passa a ideia de que as urnas têm o poder de julgá-los. Seu afastamento da eleição é uma forma de se evitar a justiça e a sua reeleição pode ser entendida como uma absolvição: “o povo vai me julgar, não a justiça” Isso não é verdade. Eleição não necessariamente atinge esse objetivo. Justiça, sim. Assim, a lei da ficha limpa (Lei Complementar nº. 135 de 2010) é o principal instrumento para não se perpetuar políticos corruptos no sistema.

2 – A não existência de uma norma torna o caso de má-gestão mais complicado. De qualquer forma, casos de má-gestão devem ser informadas aos eleitores. Má-gestores não serão necessariamente eliminados do processo político com esse procedimento. Porém, a informação e campanhas que divulguem como isso causa prejuízos a sociedade, e uma coordenação social estabelecendo que isso é indesejável (ONGs e a sociedade civil podem se encarregar disso) devem reduzir as chances eleitorais de candidatos que fazem má-gestão, e são aptas a minimizar o problema.

Redação

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