Início Araraquara Prêmio André Braz traz reconhecimento pela luta contra as desigualdades raciais

Prêmio André Braz traz reconhecimento pela luta contra as desigualdades raciais

Auditório da Biblioteca Municipal Mário de Andrade sediou solenidade na noite desta quinta-feira (4)

Um grande público lotou o auditório da Biblioteca Municipal Mário de Andrade na noite desta quinta-feira (4) para acompanhar a solenidade de entrega da edição 2023 do Prêmio André Braz, premiação que homenageia anualmente dez homens negros – pretos e pardos –, que tenham se destacado na defesa e na promoção da igualdade, da justiça social e da dignidade da pessoa humana, no combate ao racismo, às desigualdades raciais e sociais. O evento teve transmissão ao vivo pela página da Prefeitura no Facebook, onde o vídeo encontra-se disponível para visualização.

A premiação tem como objetivo a valorização dos homenageados no contexto da cidadania. Para inscrição, a sociedade araraquarense em geral – autoridades, entidades, conselhos municipais, organizações da sociedade civil, comerciários e empresários enviaram as indicações por e-mail com os dados e um breve currículo que justificasse o motivo da homenagem. A definição dos homenageados foi feita mediante a escolha, pela maioria dos integrantes do Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo (COMCEDIR), bem como pelo mapeamento étnico social realizado pela Coordenadoria Executiva de Políticas Étnico-Raciais. Foram avaliados o compromisso racial, social e a interatividade comunitária dos indicados. O prêmio contou com aproximadamente 30 indicações, porém somente 10 foram escolhidas.

Os homenageados da edição 2023 foram Benedito dos Santos, o Benê; Carlão Hamburgueiro; Cláudio Claudino; Cristiano Oliveira; Iracídio Stefannini Borges, o Meste Irá; José Aparecido Gonçalves, o Zé Prettu; Júnior Barros, o Juninho; Marciano Pereira Vidal, o Zico da Prefeitura; Nelson Vicente Júnior, o Nelsão; e Vagner Luiz de Souza, o Garça. Cada um recebeu uma placa da organização do evento e usou o microfone para falar sobre a emoção da premiação e agradecer os familiares e amigos presentes.

O secretário de Direitos Humanos e Participação Popular, Marcelo Mazeta, que representou o prefeito Edinho na cerimônia, falou da importância da premiação. “Esse prêmio, instituído pelo município no ano passado, tem como objetivo dar vez, voz, lugar, e melhor, dar um reconhecimento a toda a comunidade, principalmente por meio das ações desenvolvidas por cada um desses homenageados. Cada homenageado traz a sua história, trajetória e caminhada de vida e não é um igual ao outro. Tenho certeza de que representam acima de tudo a luta diária para uma sociedade mais justa, fraterna e menos desigual. O Brasil é formado predominantemente pela população afrodescente, o que significa que precisamos construir cada vez mais uma sociedade sem preconceito, sem violência, sem ódio, para que a implementação de políticas públicas efetivas, transversais e equânimes sejam de fato validadas”, comentou.

O vereador João Clemente (PSDB), que representou a Câmara de Araraquara, entoou uma canção que contagiou com muita alegria o público presente. “Desde sempre o nosso povo pisou nesse chão com muita garra. Nós construímos esse chão. Nós somos produtos do meio porque estamos fazendo as nossas histórias que durante muito tempo não foram contadas”, disse o parlamentar, que destacou a luta de cada um dos homenageados.

A coordenadora executiva de Políticas Étnico-Raciais, Alessandra Laurindo, que iniciou sua participação com uma homenagem às personalidades falecidas desde a última edição do prêmio, em 2022, também enalteceu o propósito da premiação. “Para nós, o Prêmio André Braz tem um significado todo especial, também pela pessoa que foi o André Braz e por toda a sua história. O nosso intuito com esse prêmio é que seus ideais nunca acabem e que nós tenhamos a garra de levar adiante todo o legado que ele deixou tão brilhantemente. Todos que têm intenções de levar adiante seus projetos podem contar conosco porque essa missão é nossa”, apontou.

Alessandra também citou números e casos que confirmam a impunidade em relação a atos racistas no Brasil e reforçou a necessidade de uma mudança de conceitos na sociedade. “Um corpo negro em público é sempre um corpo em risco e é contra isso que nós lutamos todos os dias no SOS Racismo, acolhendo as denúncias de racismo, tentando fazer esse enfrentamento diário, porque dói. São muitas denúncias que ouvimos lá no SOS Racismo todos os dias, os xingamentos pejorativos, tudo o que envolve a nossa comunidade, e infelizmente não vemos ninguém sendo preso porque cometeram esses crimes. É contra isso que lutamos todos os dias. E estar aqui, comemorando vidas que driblaram essas estatísticas, vidas que estão aqui presentes recebendo esse prêmio, para nós também é uma vitória”, acrescentou a coordenadora.

O Prêmio André Braz também conta com um presidente de honra, que é o Sr. Pércio Damazio, que foi homenageado em um vídeo. O mês de maio foi escolhido para a homenagem pelo fato do seu aniversário ter sido comemorado no dia 1º, data em que ele completou 95 anos de idade. A solenidade também contou com uma apresentação denominada “Conexão Ancestral”, com os artistas Prettu Nell, Saulo, Luana e Du Marçal, além do DJ Fulô No Beat.

A mesa de honra do evento também contou com o presidente da Câmara Municipal de Araraquara, Paulo Landim (PT), o vereador Guilherme Bianco (PCdoB) e a presidente do presidente do Comcedir (Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo), Ana Flávia Nunciato. Também marcaram presença o vice-presidente da Câmara, Aluísio Boi (MDB) e os vereadores Fabi Virgílio (PT) e Filipa Brunelli (PT).

Sobre o patrono da premiação

André Luís Braz foi músico, mestre de bateria, e compartilhou sua experiência com as escolas de samba de Araraquara por mais de 20 anos. Foi fundador e idealizador da Associação dos Amigos Afrodescendentes de Araraquara e Região (ACAAAR), sempre com o objetivo de fortalecer os laços da comunidade negra, bem como valorizar a cultura afro.

Empenhou-se para que fossem incluídas no calendário oficial de eventos do município de Araraquara as festividades que envolvem a Comunidade do Samba ao Brilho da Luz de Vela, a Quarta Nobre, o Encontro Afrodescendente, em homenagem a “Zumbi dos Palmares”, a Copa Zumbi dos Palmares e a disputa da Meia Maratona (21 km), a serem realizados na Semana da Consciência Negra, no mês de novembro de cada ano.

Não conseguiu ver todos os seus projetos realizados – vários estão em andamento – faleceu precocemente em 8 de março de 2015. Através de seus esforços dentro da comunidade e na sociedade araraquarense, desenvolvia um trabalho que foi referência para todos e deixou uma lacuna na luta pela igualdade racial.

HOMENAGEADOS PRÊMIO ANDRÉ BRAZ 2023

BENEDITO DOS SANTOS, O BENÊ
 – Dedicado araraquarense, gerente regional da CDHU Araraquara há mais de uma década. Possui uma trajetória marcada por muito trabalho, muita dedicação e estudos (engenheiro agrimensor de segurança, gestão pública, dentre outras diversas qualificações técnicas e acadêmicas). Casado com Maria Helen há 41 anos, é pai de Ricardo, Renato e Adriana e tem quatro netos.

LUIZ CARLOS DOS SANTOS, O CARLÃO HAMBURGUEIRO – Comerciante araraquarense, há anos vem por meio da gastronomia desenvolvendo a auxiliando no comercio da Vila Xavier e participado ativamente do movimento negro da cidade. Foi funcionário público aos 18 anos, ingressou na área metalúrgica, esteve também à frente do clube de pagode Squina Clube e no comércio de lanches há 37 anos. Casado há 43 anos, é avô de dois netos e hoje é aposentado.

CLÁUDIO CLAUDINO – Advogado e empresário, atuou e atua ativamente no movimento negro, auxiliando nas atividades e ações visando o combate ao racismo e no avanço da luta antirracista.

CRISTIANO OLIVEIRA – É produtor de eventos e cultura em Araraquara e vem ativamente contribuindo para o desenvolvimento cultural afro da cidade ao longo dos anos, auxiliando na promoção da cultura e participando ativamente do movimento negro. Tem mais de 25 anos de carreira, já trabalhou com diversos artistas de estilos como samba, black music, MPB, entre outros. Aos 14 anos, começou a trabalhar em um jornal diário regional, onde teve uma página de samba e entrevistou grandes nomes.

IRACIDIO STEFANNINI BORGES, O MESTRE IRÁ – Funcionário do Departamento de Estradas e Rodagem (DER), iniciou sua caminhada na década de 1970 na escola de samba Pra Frente Brasil. Depois passou pela Academia do Samba em 1982 e 1983, foi mestre de bateria da União dos Palmares em 1985 e 1986. Em 1997, integrou a Coliseu Dourado com o samba enredo Brasil 500 anos, e foi mestre de bateria da escola de samba Academia A do Samba. Em 2004, foi fundador da escola de samba Nação Quilombola, onde ficou até 2016 como compositor e presidente. Em todas essas escolas, compôs muitos sambas enredos, vários deles campeões. Foi idealizador e fundador de diversas agremiações. Seu primeiro samba enredo foi escrito em 1996 na escola de samba União do Vale do Ouro.

JOSÉ APARECIDO GONÇALVES, O ZÉ PRETTU – Nascido em Araraquara em 18 de novembro de 1956, foi membro fundador do Grupo de Divulgação de Arte e Cultura Negra de Araraquara (GANA), da Federação de Entidades Afro-brasileiras (FEABESP), do JORNEGRO, do Festival Comunitário Negro Zumbi (FECONEZU) e do Bloco do Carvão/Ativistas, que contribuiu na formulação da Constituição de 1988. Foi também delegado do Encontro Nacional de Entidades Negras (ENEN) e do grupo que apresentou o projeto de lei por uma educação afro-brasileira. Foi diretor do Bloco União dos Palmares e eleito ator revelação no Festival do Teatro Amador de Araraquara na década de 70. Devido ao seu envolvimento direto na luta por direitos dos trabalhadores da Unesp (1979), posteriormente mudou-se para a capital São Paulo, onde começou a militar junto ao grupo negro da PUC-SP no início dos anos 1980, atuando nas já citadas FEABESP, JORNEGRO e FECONEZU, organização Quilombola que começou em Araraquara e anualmente é realizado em várias cidades do interior paulista.

JÚNIOR BARROS, O JUNINHO – Músico, fez parte de vários grupos de samba e pagode no município de Araraquara, promovendo a cultura de roda de samba. Compositor, gravou vários álbuns. É auxiliador no desenvolvimento de jovens talentos e músicas negras, além de professor de cavaquinho das Oficinas Culturais de Araraquara.

MARCIANO PEREIRA VIDAL, O ZICO DA PREFEITURA – Tem 45 anos, nasceu em 1º de julho de 1977. É casado com Jenifer e tem três filhos: Júlio, Layssa e Coraline. É servidor público desde maio de 2009 com o cargo de auxiliar de serviços públicos. Um servidor dedicado, sempre empenhando seu trabalho em favor do povo araraquarense, sendo alguém com quem pode sempre contar.

NELSON VICENTE JÚNIOR, O NELSÃO – Ex-jogador de basquete, atuou no Clube 22 de Agosto e no time do Fluminense. Posteriormente foi membro e conselheiro do COMCEDIR e atualmente encontra-se gestor do Posto de Atendimento da Prefeitura de Araraquara no Bairro Selmi Dei.

VAGNER LUIZ DE SOUZA, O GARÇA – Tem atuado como promotor do Futebol Solidário, onde arrecada doações para famílias carentes, e do Quintal do Garça, evento que reúne pessoas de várias cidades além de Araraquara, ambos vinculados à participação da população negra.

Redação

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