A Casa SP Afro Brasil, na Vila Xavier, recebeu um grande público na noite desta quinta-feira (27) para a solenidade que marcou a entrega do Prêmio “Doutora Rita de Cássia Corrêa Ferreira”, que homenageia anualmente dez mulheres negras (pretas, pardas, latino-americanas e caribenhas) que se destacaram profissionalmente ou prestaram relevantes serviços na área social, tendo como objetivo a valorização da mulher afrodescendente no contexto da cidadania.
A atividade integrou o “Julho das Pretas”, programação realizada pela Prefeitura de Araraquara, por meio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Participação Popular, Coordenadoria de Políticas Étnico-Raciais e Coordenadoria de Políticas para Mulheres, com o propósito de fortalecer as organizações protagonizadas por mulheres negras, reforçar as pautas de gênero e raça, trazer mais visibilidade à essa luta e exigir políticas públicas. A agenda também é inspirada no fato de julho ser o mês de fortalecer o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha (dia 25), o Dia Nacional de Tereza de Benguela (25) e o Dia da Mulher Africana (31). A programação será encerrada com a Feira & Festa Afro Kilombô, que será realizada neste sábado (29) e domingo (20) na Praça da Independência.
Receberam o Prêmio Doutora Rita de Cássia Ferreira 2023 as mulheres Flaviana Corrêa, Corina Viana, Regina Angélica da Silva Fidenis, Mãe Rita de Cássia Pereira Barbieri, Clarice Lourenço Albino, Ana Paula Morato de Miranda, Rita de Cássia Gonçalves, Vanessa Romualdo de Oliveira e Merielen Silva Albuquerque (confira abaixo as biografias).
O vice-prefeito e secretário do Trabalho, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Damiano Neto, que representou o prefeito Edinho na solenidade, destacou que a luta contínua contra a discriminação e a busca por uma sociedade igualitária depende desse reconhecimento. “Só as mulheres negras conhecem as marcas do preconceito racial e também o preconceito de gênero. Nenhum exercício de empatia é capaz de nos colocar nesse lugar. Hoje é dia de celebrar, de valorizar e aplaudir as homenageadas, mas também é dia de reivindicar melhores condições para todas as mulheres negras. Combater o racismo e o preconceito é dever de todos que acreditam numa sociedade igualitária e justa, onde todos têm seus direitos e seus deveres. Que vocês, homenageadas, continuem fazendo a diferença, com essa diversidade de talentos que vocês reúnem. E que esse prêmio continue sendo uma fonte de inspiração a cada um de nós, para que possamos impulsionar a igualdade, o respeito e a valorização de todas as vozes que contribuem para o progresso e o bem-estar da nossa população”, comentou.
A coordenadora executiva de Políticas Étnico-Raciais, Alessandra Laurindo, afirmou que o evento cumpriu seu propósito. “A 8ª edição do Prêmio Dra. Rita de Cássia trouxe um momento de muita emoção, desde a performance maravilhosa realizada pelas bailarinas Sabrina Kelly e Giovana Cândido, e posteriormente com uma representatividade democrática, com mulheres de vários segmentos sendo visibilizadas, sendo elas acadêmicas, gerentes de hotel, professoras e lideranças religiosas e de bairros. Sem dúvidas, uma noite para ser lembrada com muito carinho na memória e no coração, à altura da luta da patrona do Prêmio, a Dra. Rita. Estamos fazendo um Julho das Pretas muito simbólico, com a força e atenção que a pauta merece”, salientou.
Uma das homenageadas com o prêmio, a Mãe Rita de Cássia Pereira Barbieri agradeceu a indicação. “Eu tenho o Templo de Umbanda Caboclo Jibóia, no Parque São Paulo, há 35 anos, e às quartas-feiras fazemos os trabalhos espirituais, com passes e consultas, e tudo gratuito. Também temos ações sociais com entrega de alimentos e remédios à população carente dentro de nossas possibilidades. Estou muito feliz de estar entre as dez homenageadas”, mencionou.
Durante a solenidade, também foi anunciado que a Comissão da Igualdade Racial da OAB Araraquara passa a se chamar Comissão Dra. Rita de Cassia Ferreira. Receberam um bottom com o novo nome da comissão os membros Dra. Camila Claudino, Dr. Cláudio Claudino, Dr. Jonathan Martins, Dra. Lúcia Helena, Dra. Sandra Mara, Dra. Tainá Botelho, Dra. Vanessa Oliveira, Dr. Walle Camargo, Alessandra Laurindo e Dagoberto Fonseca.
Também participaram da solenidade o presidente da Câmara Municipal de Araraquara, Paulo Landim (PT) e os vereadores Alcindo Sabino (PT) e Guilherme Bianco (PCdoB); o secretário de Direitos Humanos e Participação Popular, Marcelo Mazeta; Milena Vaz, vice-presidente do Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo (Concedir); e Luciene Corrêa Ferreira, irmã da Dra. Rita de Cassia Ferreira.
As homenageadas
As mulheres homenageadas na premiação foram eleitas mediante a escolha pela maioria dos integrantes do Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo (COMCEDIR) a partir de indicações apresentadas por autoridades, entidades, conselhos municipais, organizações da sociedade civil e pela população em geral, que tenham compromisso na luta em defesa dos direitos das mulheres negras. São elas:
– Flaviana Corrêa: Primeira gerente negra na cidade no ramo de hotelaria. Atualmente administra e gerencia o Novo Hotel Municipal e o Buffet Karam. É cerimonialista, formada em administração e pós-graduada em direito no trabalho. Mãe e esposa, sempre atuou nas questões religiosas da igreja católica e do movimento negro.
– Corina Viana: Empresária, presidente da ONG “Meu Guri” e coordenadora oficial do Miss Araraquara, Miss Bueno de Andrada, Miss Américo Brasiliense e Miss Santa Lúcia. Ela diz que sua missão é realizar sonhos e transformar vidas através dos seus eventos e projetos sociais. Há 14 anos, desenvolve trabalhos e proporciona grandes oportunidades na região de São Paulo.
– Regina Angélica da Silva Fidenis: Regininha, como é conhecida, trabalhou como fiscal na Área Azul. Em outubro de 1986, ingressou na Prefeitura de Araraquara como escriturária e posteriormente foi promovida para agente administrativa. Colabora profissional e socialmente com a população, sempre dedicada a oferecer todo tipo de ajuda.
– Mãe Rita de Cássia Pereira Barbieri: À frente do Templo de Umbanda Caboclo Jibóia há mais de 30 anos, com diversos trabalhos sociais, teve uma atuação incansável durante a pandemia de Covid-19, servindo comida à população do seu bairro. Sua caridade é um exemplo, como a distribuição de cestas básicas fornecidas pelos seus assistidos no Centro de Umbanda, bem como o acolhimento de todos que procuram ajuda e auxílio espiritual.
– Clarice Lourenço Albino: Filha de migrantes que vieram do estado de Minas Gerais, Clarice não aceitou a condição imposta pelo pai de que as filhas não precisavam aprender a ler e a escrever e, em meio a tantos desafios, driblou as estatísticas. Hoje, com seus 80 anos de idade, nunca desistiu do seu sonho de aprender a ler e escrever e está cursando a então sonhada alfabetização nas aulas do Programa de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA). Seu maior orgulho é poder assinar seu nome com a escrita e não mais com o borrão do dedo.
– Ana Paula Morato de Miranda: É casada com Paolo e mãe de Maya, de cinco anos de idade. Tem 48 anos e é natural de Araraquara, tendo estudado no Externato Santa Terezinha e no Colégio Progresso, graças aos esforços incansáveis de sua mãe, Natalina. Aos 20 anos de idade, foi para São Paulo estudar jornalismo na USP. Trabalhou como repórter, redatora, editora, professora de português e inglês, tradutora e intérprete. Após dez anos em São Paulo e outros dez na Itália, retornou a Araraquara. Em 2016, ingressou no setor de Comunicação da Câmara Municipal de Araraquara, onde atualmente é gerente de Imprensa e da TV Câmara.
– Rita de Cássia Gonçalves: Ex-sindicalista, enfermeira aposentada, ativa nas atividades sociais e no combate ao racismo, também é presidente da Associação Mães do Céu.
– Vanessa Romualdo de Oliveira: Advogada, mãe, filha do Sr. Adão e da Sra. Isaura, ele mecânico de manutenção, ela doméstica. Graduada pela Universidade do Estado de Minas Gerais, pós-graduada em direito penal e processual penal, também possui formação em administração de empresas. É integrante da Comissão de Combate à Discriminação Racial da OAB/SP Subseção de Araraquara, participa do “Coletivo As Pretas” de Franca-SP. É a primeira mulher presidente do Centro Acadêmico do Curso de Direito da UEMG/Passos. Idealizadora do Projeto de Remição pela Leitura do Presídio de Passos-MG, acredita que o direito pode ser ferramenta de emancipação das pessoas através do acesso democrático à justiça.
– Merielen Silva Albuquerque: Médica veterinária, ativista, co-fundadora do coletivo AFROVET de médicos veterinários e graduandos pretos, que visa dar maior visibilidade a esses profissionais em todo o País. Participou como protagonista do documentário “Cartas marcadas – O jovem preto no mercado de trabalho”, disponível na Discovery. Também é modelo de comunicação do Baile do Carmo e modelo e artesã da marca MariBiju.
– Grasiela Lima: Graduada em ciências sociais, tem mestrado e doutorado em sociologia pela UNESP/FCLAr. É professora das Faculdades Integradas de Jaú e atua na ONG Fundação Araporã, onde coordena o Grupo de Estudos “Educação e Relações Étnico-raciais na Temática Indígena” (GEERERI) e desenvolve projetos nas áreas de educação, cultura e direitos dos povos indígenas. Possui experiência na área de sociologia com ênfase em sociologia rural, sociologia das relações de gênero, sociologia das relações étnico-raciais e sociologia da educação. Está à frente das Promotoras Legais Populares e da Coordenadoria Executiva de Políticas Públicas para Mulheres na Prefeitura de Araraquara.
Sobre a Doutora Rita de Cássia Corrêa Ferreira
Rita de Cássia Ferreira nasceu em Marília, em 1965, mas foi em Araraquara que passou grande parte da vida, advogando e militando pelos direitos da mulher negra. De família pobre e negra, lutou muito para realizar seu sonho de fazer faculdade, formando-se advogada em 1991.
Sua carreira foi pautada pela defesa das minorias e pelo combate ao racismo e à discriminação religiosa. Presidiu a Comissão da Igualdade Racial da OAB Araraquara, foi voluntária do SOS Racismo do Centro de Referência Afro e integrante do Comcedir (Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo) e do Intecab (Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro Brasileira).
Seguindo os exemplos de sua bisavó Marina, sua avó Pedrina e de sua mãe Marina, tornou-se uma mulher negra consciente de sua posição e da necessidade de lutar para que fosse reconhecida e respeitada por todos. Rita de Cássia faleceu no dia 6 de junho de 2016, deixando um legado de combate ao racismo e à discriminação religiosa.