Início Geral Presos do CPP de Jardinópolis usam poesia para ‘romper’ grades e muros

Presos do CPP de Jardinópolis usam poesia para ‘romper’ grades e muros

O interesse pelos livros não ficou somente na busca por conhecimento. Uma iniciativa do setor educacional do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Jardinópolis formou não apenas leitores assíduos, mas também novos escritores. Através do projeto “Rompendo as Grades com Poesia”, cerca de 20 reeducandos “ganharam a liberdade”: apenas com papel e caneta, deram asas às palavras em meio a muros e grades.

“Por acaso do destino, fali. Desesperado, tentei vários outros caminhos e não obtive êxito. Só piorei a minha situação a ponto de ter um desvio de conduta que custou a minha liberdade. Acabou com a vida da minha filha e da minha esposa. Como eu precisava libertar meus pensamentos, comecei a ler muito na prisão e também a escrever poemas do cotidiano carcerário, metafóricos, de amor, da solidão vivida e das dores. Percebi que a poesia tira a gente daqui de dentro. Ela coloca no papel os sentimentos, o futuro e a esperança”, define o interno José Humberto Jerônimo, de 50 anos.

Responsável pela biblioteca da unidade prisional, Jerônimo se destacou na produção de poesias e serviu como incentivo para outros presos. Seus poemas, inclusive, compuseram o livro “Além de um Cárcere”, editado recentemente por intermédio da direção do CPP. “Aqui é tudo à flor da pele. O amor, a esperança e a poesia nos faz sonhar com outra vida”, finaliza.

INCENTIVO
O projeto, que conta com parceria da Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” (Funap) e do Museu Casa Portinari, é uma iniciativa da assistente social e diretora do Núcleo de Educação do CPP de Jardinópolis, Ana Carolina de Lima Cordeiro, e do diretor substituto do setor educacional, Ciro Athayde Barros Monteiro. O programa consiste em divulgar o material produzido pelos reeducandos como forma de incentivá-los a seguir o caminho da escrita, da leitura e da educação, e também com objetivo de reintegrá-los à sociedade.

Para tanto, uma “caixa de poesia” foi instalada na parede da biblioteca da unidade, onde o sentenciado pode depositar seus poemas. Depois, todo material é lido e digitalizado. “Não queremos que essas poesias fiquem esquecidas em um canto qualquer. A nossa proposta é divulgá-las em plataformas eletrônicas, por exemplo”, explica Ciro, complementando que os textos abordam temas variados, como amor, família, lembranças da infância, sonhos e liberdade.

A unidade deve realizar, em breve, uma exposição para divulgar não somente os poemas, mas também toda produção artística dos presos. “Para que a população carcerária e os visitantes possam apreciar os trabalhos. Estamos tentando viabilizar, ainda, em parceria com a Funap, a criação de um painel para expor na Feira do Livro de Ribeirão Preto, que acontece em junho”, completa Ana Carolina.

PROJETO
O projeto surgiu durante as atividades realizadas na Escola Vinculadora do CPP de Jardinópolis. Nas aulas, os professores observaram um grande número de internos que produziam poesias, diariamente. O perfil da unidade prisional também colaborou para o surgimento do programa: ensino regular em todos os períodos do dia, biblioteca com acervo de 3,5 mil livros de gêneros variados, além de promover reuniões mensais do Clube da Leitura.

LOGOMARCA
A logomarca do projeto foi desenvolvida por alunos do curso modular do Programa de Educação Para o Trabalho (PET). Eles receberam a missão de elaborar desenhos artísticos que representassem a proposta do programa “Rompendo Grades com Poesia”. Várias imagens foram feitas e três finalistas compuseram a escolha por meio de votação realizada por estudantes e professores.

 

Redação

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