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Presos produzem tapetes artesanais para ajudar pacientes com câncer

Ação solidária de reeducandos da Penitenciária I “Rodrigo dos Santos Freitas” de Balbinos busca amenizar o sofrimento de pessoas com câncer. Por meio da arte do crochê, 60 presos produzem tapetes artesanais, bonecos e até peças de roupas. O material é doado para a realização de bazares e rifas e todo dinheiro arrecadado é investido no tratamento de pacientes do Hospital de Câncer de Barretos.

Realizado na unidade prisional há três anos, o projeto “Tecer a Vida” é uma iniciativa de três internos, sendo um deles sensibilizado após saber de um caso de câncer na família. O trio começou a atividade voluntária com apenas dez rolos de barbante e um de linha.

A atitude deles, entretanto, serviu de incentivo para outros detentos e a proposta se expandiu rapidamente. Atualmente, são produzidas cerca de 300 peças por bimestre, que rendem até R$ 2,5 mil em eventos solidários, cuja renda é revertida, principalmente, para a compra de medicamentos.

Dirceu Faria, 50 anos, é um dos detentos empenhados na ação filantrópica. Ele produz, em média, 15 bichinhos de pelúcia por dia e se sente feliz por levar um pouco de conforto e esperança para quem enfrenta o tratamento oncológico. “É gratificante saber que a minha atitude vai ajudar pessoas que precisam”, comenta.

‘NOVA HISTÓRIA’

Condenado a 33 anos de reclusão por homicídio, Faria já cumpriu 26 anos da pena. Ele conta que sua mãe é envolvida em trabalhos sociais e pretende seguir o mesmo caminho quando ganhar a liberdade, o que deve ocorrer em 2021. “Também quero voltar a desempenhar a minha profissão de pintor e reescrever uma nova história”, planeja.

PROJETO

O projeto funciona totalmente de forma voluntária. Os próprios presos que trabalham e possuem renda mensal compram barbante e linha para confecção do material, conforme explica o presidente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) da Penitenciária I de Balbinos, Paulo Oliveira dos Santos. “Para os detentos que não exercem nenhum ofício remunerado, a doação de matéria-prima é feita pela entidade que atua em prol do hospital”, pontua.

Coordenadora nacional da Associação Voluntária de Combate ao Câncer (AVCC) de Barretos, Edmara Modesto Iunes Ali explica que é realizada uma campanha com voluntários e comerciantes com objetivo de arrecadar material para que os reeducandos possam dar continuidade ao trabalho. Ela explica que os itens são comercializados em um bazar permanente. “Também rifamos as peças que têm valor um pouco mais alto. Desta forma, capitaneamos, em média, R$ 2,5 mil a cada bimestre, cuja quantia é revertida para o tratamento dos pacientes, principalmente para a compra de medicamentos”.  

Edmara faz questão de buscar as doações pessoalmente na unidade prisional, para ver de perto quem são os autores de gesto tão nobre em um ambiente considerado hostil. “Me sinto pequena diante da iniciativa desses detentos. Você acha que está fazendo muito e, de repente, se depara com um projeto tão bonito. A sociedade não dá mais nada a eles e, vendo uma atitude assim, me sinto emocionada”.

“Este trabalho é importante porque, além de ser uma terapia, desperta no interno um sentimento de poder amenizar o erro cometido”, acrescenta o presidente da Cipa.

‘As mãos que um dia fizeram o mal hoje praticam o bem’

Também condenado por homicídio, Marcos Rodrigues Trindade, 48 anos, já cumpriu 16 dos 18 anos de sua pena. Ele aprendeu a fazer crochê com outros presos dentro da unidade e, atualmente, produz tapetes, bonecos e peças de roupa.

“É uma satisfação enorme poder ajudar. As mãos que um dia fizeram o mal hoje praticam o bem ao próximo”, observa Trindade, que pretende manter o trabalho filantrópico ao sair da prisão. “Vou continuar confeccionando tapetes para projetos sociais em escolas visando ensinar jovens e adultos carentes à retomar sua vida profissional em busca de seus sonhos”, finaliza. 

Redação

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