“Encontramos na meditação o ponto de equilíbrio mental, físico e espiritual, e nos conscientizamos que somos co-criadores de nossa realidade, que não podemos mudar o passado, mas podemos, sim, fazer um novo final”. A frase é de uma reeducanda do Centro de Ressocialização (CR) Feminino de Araraquara, que participa do projeto “Paz no Coração – Liberdade na Prisão”, do Instituto Ação Pela Paz.
A iniciativa oferece palestras virtuais e sessões de meditação às presas. Entre os objetivos do curso, está a busca por melhores condições espirituais para o cumprimento da pena em tempos de pandemia, cujas circunstâncias de isolamento podem levar a quadros emocionais mais intensos e tristes, beirando a depressão.
Por conta da crise de saúde imposta pela Covid-19, a ação ganhou formato digital. O conteúdo reúne 21 vídeos, exibidos por meditadores voluntários. Líder do projeto no CR Feminino de Araraquara, Ariane Cibele Matado explica que o curso tem o intuito de desenvolver uma consciência maior sobre o “eu” interno de cada participante, auxiliando nas transformações interior e exterior.
“A meditação, juntamente com a visualização de imagens, é uma das maiores ferramentas para cultivar a vigilância e a paz. A utilização de imagens na prática meditativa auxilia na mudança de emoções, sensações e sentimentos. Desta forma, temos a oportunidade de modificá-las de negativas em um processo criativo de outras imagens que ofereçam um caminho para boa saúde e novas emoções”, detalha.
Relevância
Ariane destaca que, em um momento desafiador e de necessidade de isolamento e distanciamento social, se faz necessário criar novas formas de conexão e comunicação para o bem-estar físico e emocional. “O projeto é de grande relevância no cenário do sistema prisional. Estudos realizados neste contexto mostram que a quebra abrupta das relações e o isolamento levam a quadros emocionais próximos de depressões, por exemplo”, cita.
Ariane frisa que a iniciativa está sendo bastante positiva. “Tivemos reeducandas que se abriram logo de começo e outras que, no início, pensaram em desistir, mas continuaram e durante a execução do projeto conseguiram se expressar”, diz.
“A diretora de Segurança e Disciplina relatou uma melhora no comportamento dessas presas, inclusive que elas estavam relatando para os seus familiares sobre a oportunidade que a unidade ofertou na participação do curso de meditação”, finaliza Ariane.
Transformação
Participante do projeto, Isabel (nome fictício) falou em transformação de paradigmas. “O projeto tem nos tornado conscientes, presentes e em paz. Começamos a nos perceber por inteiro, a reconhecer o nosso ser, o nosso eu maior”, aponta.
“O curso conseguiu iluminar nossas ideias pré-concebidas, expandindo nossa consciência. Praticamos o perdão, perdão ao passado e a nós mesmas”, complementa outra reeducanda.
Diretora executiva e co-fundadora do Instituto Ação Pela Paz, Solange Senese agradece os esforços da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) em possibilitar esse e outros projetos. “Os resultados iniciais são animadores, mas, ao longo do tempo, saberemos o impacto na vida dos seus participantes”, observa.
“Nós do [Projeto] Semear, acreditamos que os assistidos sairão mais fortalecidos e não retornarão ao crime. Pelo contrário. Ajudarão a construir um mundo melhor com a bagagem e responsabilidade que carregam no coração”, finaliza Senese.