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Proposta da Boeing inclui divisão militar da Embraer

A brasileira tem relação umbilical com a Força Aérea, sua principal cliente de defesa mesmo após a privatização de 1994

A proposta da Boeing para associar-se à Embraer não é restrita à área de aviação comercial, inclui também a divisão de defesa da fabricante brasileira, segundo o jornal Folha de São Paulo apurou junto a pessoas próximas da negociação. Isso tornará a conversa ainda mais sensível politicamente, já que o governo brasileiro diz que vetará a perda de controle nacional da empresa devido à sua importância estratégica na área militar. A gigante americana não tem um formato fechado de oferta. Trará à mesa exemplos de parceria na área militar que dão salvaguardas de soberania aos países. No Reino Unido, a Boeing abriu uma unidade de defesa em 2008 e emprega mil pessoas. É listada com uma “contratada X”, por obedecer a uma série de requisitos de controle por parte do governo. Entre eles, ter sete altos funcionários se reportando à pasta da Defesa, inclusive dois diretores britânicos. Na mão inversa, a empresa de defesa britânica BAE Systems abriu uma unidade nos EUA que obedece a critérios rígidos, para manter sigilo de informações militares. Na Austrália, a Boeing tem sua maior operação externa, com 2.000 funcionários. Lá ela também está sujeita a controle governamental de dados sensíveis. A especulação inicial de que a Boeing só estava interessada em adquirir a nova linha de jatos regionais da Embraer, a exemplo do que sua rival europeia Airbus havia feito em outubro com a canadense Bombardier. A aviação executiva, ponto forte em modelos pequenos e médios da Embraer, também está na mira porque não é nicho da Boeing. Ao acenar com uma parceria maior, mesmo sem controle acionário da Embraer, terá de convencer o governo de que decisões estratégicas brasileiras serão preservadas. A posição da Embraer é única justamente devido à sua área de defesa responsável por quase 20% do faturamento da empresa (outros 20% na aviação executiva, o resto em jatos regionais). Desde quando foi criada pelos militares em 1969, a Embraer tem relação umbilical com a Força Aérea, sua principal cliente de defesa mesmo após a privatização de 1994. A empresa participa de projetos estratégicos para o país: programas aeronáuticos militares sob demanda e, por meio de subsidiárias, desenha o controle de fronteiras do Exército, parte do reator do futuro submarino nuclear brasileiro e atua no mercado de satélites. Assim, a reação do presidente Michel Temer após o anúncio das negociações, em 21 de dezembro, foi a de aprovar as conversas, mas rejeitar qualquer perda de controle. Detentora de uma “golden share”, ação especial herdada na privatização, a União pode vetar negócios. Quem quiser mais de 35% das ações, precisa de aval federal. O que realmente preocupa o governo são as questões estratégicas e o poder que o Congresso dos EUA terá sobre elas. É preciso, contudo, relativizar. Primeiro, a estrutura acionária da empresa é pulverizada, e seus maiores investidores são estrangeiros. Segundo, na prática o contribuinte brasileiro paga pela exportação aos EUA de um produto que gera renda a americanos. Cerca de 60% do valor de um avião regional da Embraer vem de componentes americanos. O BNDES financiou, de 2001 a 2016, US$ 14 bilhões em exportações de aviões montados no Brasil para os EUA. Se a preocupação dos militares sobre eventuais vetos de exportações pelo Congresso americano é legítima, não é inédita: a própria Embraer já teve venda à Venezuela do Super Tucano, avião cheio de partes importadas, vedada pelos EUA. A inquietação se dá porque a área de defesa é celeiro de inovação na Embraer, com especialização compartilhada com os militares e transbordo para tecnologias civis.

A Embraer desenvolve o KC-390, vende e dá suporte ao Super Tucano, moderniza o AMX e o F-5.

Ações

As ações da Embraer subiram nessa terça-feira (2), impulsionadas pela notícia de que a proposta da Boeing de combinar negócios com a Embraer não se restringe à área de aviação comercial e incluiria a divisão de defesa da fabricante brasileira.

Redação

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