Por José Augusto Chrispim
A situação da Saúde em Araraquara vem chamando a atenção da população que depende da rede pública e sofre com grandes filas de espera nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e também com relação aos exames e cirurgias eletivas que têm um alto número acumulado de pacientes à espera de um procedimento. Outro problema recorrente apontado pelo araraquarense é a falta de medicamentos nos postos de saúde.
A reportagem de O Imparcial conversou com o secretário municipal da Saúde de Araraquara, Dr. Abelardo Ferrarezi de Andrade, que elencou os maiores desafios da área atualmente e fez um balanço das medidas que estão sendo tomadas pela Pasta para a solução ou pelo menos redução dos problemas enfrentados pela população. Ele destacou que a falta de recursos é o maior desafio da Secretaria.
Quem é Dr. Abelardo
Dr. Abelardo Ferrarezi de Andrade é graduado em Medicina pela Universidade Federal de Uberlândia, com especialização em Anestesiologia pela USP Ribeirão Preto, e pós-graduação em Medicina do Trabalho, Saúde Pública e Administração Hospitalar pela UNAERP.
Ele foi secretário de saúde de Araraquara em 2016. Ele também atuou como coordenador técnico médico das UPAs e SAMU da Prefeitura Municipal de Araraquara, entre 2015 e 2016.
Veja a entrevista na íntegra:
O Imparcial: Quais são os maiores desafios da Secretaria de Saúde de Araraquara atualmente?
Dr. Abelardo: “É a falta de recursos. Nós estamos sem condições financeiras para pagar as notas que ficaram para trás. Por exemplo, com relação aos medicamentos, nós assumimos com mais de R$ 8 milhões de notas dos anos anteriores, tem notas de 2023, 2024, nós já pagamos bastante, mas, nós continuamos comprando. Quando você paga uma parte, a empresa volta a fornecer, só que a gente continua devendo, então esse é um grande problema. Além disso, nós devemos também para os prestadores de serviços, que são a Santa Casa, o IFA, a Fungota, enfim, estamos devendo para todos os nossos prestadores. Então, esse é nosso maior desafio, tanto que nós fomos até o Ministério da Saúde, conversar com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em um encontro agendado pelos vereadores Paulo Landim e Marcão da Saúde, onde entregamos os documentos sobre os débitos e eles prometeram nos ajudar”.
O Imparcial: Quais medidas estão sendo tomadas para reduzir o tempo de espera nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA)?
Dr. Abelardo: “Com relação às nossas UPAs, nós temos bastante problemas e estamos enfrentando todos eles. O primeiro deles é a epidemia de dengue, então, para não sobrecarregar as UPAs, a gente montou o dengário que está desafogando bastante as UPAs com uma média de 170 atendimentos por dia, chegando até a 340 atendimentos em um dia. Mas, o atendimento de dengue não é só uma vez, pois, o paciente com dengue passa as vezes até quatro vezes na unidade de saúde para fazer o acompanhamento do tratamento. A segunda medida foi a gente aumentar o número de médicos, com um médico a mais em cada uma das três UPAs. Além disso, nós vamos aumentar agora o número de pediatras, pois, hoje, nós temos dois pediatras na UPA Valle Verde e dois na UPA Central, sendo quatro profissionais de plantão ao dia, fora os da rede básica, agora vamos colocar o quinto na UPA Central. Um dos motivos também desse aumento de procura pelas UPAs é essa mudança de tempo típica do outono que traz infecções de vias aéreas superiores como as bronquites, sinusites, asmas, entre outras. Outro motivo é o mau uso das UPAs, porque as pessoas procuram essas unidades para fazerem exames, porque é mais rápido que nos postos de saúde, mas, isso atrapalha os atendimentos nas UPAs”.
O Imparcial: Qual é previsão de entrega da UPA central à população?
Dr. Abelardo: “Hoje nós estamos com os atendimentos todos juntos na UPA do Melhado o que causa um ambiente ruim para trabalhar, estressante, mas, isso vai terminar no máximo dentro de dois meses, pois, a gente espera que em julho, essa UPA que está no Melhado, volte a atender na UPA Central, onde o prédio foi ampliado e a unidade de adultos foi separada da ala pediátrica, então, teremos um espaço mais agradável para atender a população”.
O Imparcial: O que está sendo feito pela Secretaria com relação a grande fila de exames e cirurgias eletivas na Santa Casa? Existe algum mutirão de cirurgias sendo realizado neste momento? Se não, existe alguma previsão para que ele volte a ocorrer?
Dr. Abelardo: “Este é um outro desafio, pois, estamos com um acúmulo muito grande de exames e cirurgias. Nós temos aproximadamente R$ 13 milhões para a compra desses procedimentos e cirurgias, sendo que o Governo Federal nos agraciou com uma verba de R$ 5 milhões e o do Estado com uma verba de R$ 2 milhões, que somam R$ 7 milhões que vão derrubar um pouco essa fila, porém, a fila continua a crescer e vai se acumulando. Então, com mais R$ 12 milhões nós conseguiríamos zerar essa fila de exames, cirurgias e até as cirurgias de alto custo acumuladas. Nós recebemos um aceno bastante positivo do Ministério da Saúde e esperamos com isso, não zerar a fila, mas, chegar próximo disso, o que seria muito bom para a população. Com relação a esses R$ 5 milhões, nós já estamos transformando em andamento em novas cirurgias, com a Santa Casa e o AME que estão nos ajudando a derrubar essa fila, além disso, o hospital de olhos está funcionando normalmente, então, não é que a fila está parada, mas, existe um acúmulo grande que esperamos diminuir em breve. Com relação às cirurgias de alto custo como as de órteses e próteses, a gente já está recebendo ajuda dos governos do Estado e Federal e já estamos começando a dar andamento”.
O Imparcial: A falta de medicamentos atinge toda rede municipal. Qual é a previsão para que a situação se normalize?
Dr. Abelardo: “Nós entendemos que a população sofre com a falta de medicamentos, mas, a gente vem resolvendo esse problema. Nós tínhamos uma falta de mais de 60 medicamentos e a gente vem comprando medicamentos e hoje já diminuímos para vinte e poucos itens. A gente está repondo aos poucos e esperamos regularizar isso em cerca de dois meses, porque estamos prestes a receber algumas verbas, tanto do governo do Estado como verbas parlamentares que foram prometidas e, com essas verbas, nós vamos comprar os procedimentos de exames que estão mais atrasados que têm filas desde 2022, e vamos colocar em dia os medicamentos”.
O Imparcial: Quando os médicos aposentados que foram demitidos das unidades de saúde serão substituídos por novos profissionais?
Dr. Abelardo: “Esse foi um outro problema que a gente enfrentou que foi a necessidade de dispensa de alguns médicos que já haviam solicitado as suas dispensas e tivemos outra parte dos médicos aposentados que foram desligados nos dois primeiros meses do governo, mas, logo com aquela paralisação das dispensas, eles continuaram trabalhando. Então, dos cerca de 40 médicos aposentados, já saíram de 12 a 15 e os demais irão sair. Nós já substituímos alguns e vamos substituir todos com os concursos que foram realizados. Porém, existem especialidades que são problema, por exemplo, pediatras e psicólogos que nós temos poucos, mas, estamos abrindo vagas para novos profissionais de várias especialidades”.
O Imparcial: Mesmo com o dengário funcionando, os números da epidemia de dengue no município são alarmantes. O que está sendo feito para evitar novos casos e o agravamento da doença?
Dr. Abelardo: “Um dos problemas da dengue é que a gente mora em um país que tem pouca educação para a saúde e vemos isso quando a população joga copinhos de água no chão em frente ao dengário. Isso se transforma facilmente em criadouros do mosquito da dengue, então é uma doença que nós vamos ter sempre. Nós já estamos com mais de 15 mil casos e a cada ano cresce ainda mais esse número, pois, a população também cresce. Além disso, neste ano já temos a dengue Tipo 3 que é um tipo novo e a população não tem imunidade para ele, então são mais pessoas que pegam a doença. Se a gente não fizer uma boa educação da população sobre saúde, desde as crianças e se na cidade não tomarem os cuidados preventivos, esse número só vai subir. Aqui nós estamos fazendo esse trabalho com o pessoal de obras e o pessoal da Saúde está fazendo toda a retirada dos inservíveis, porque a população não tem essa preocupação e joga os inservíveis nos terrenos. Às vezes, nossos caminhões passam e limpam, mas, na outra semana, já está cheio de novo. Nós temos o pessoal da Vigilância que faz um trabalho de excelência em todos os bairros, visitando as residências e identificando os possíveis criadouros. Quando é diagnosticado um paciente com dengue, a equipe vai lá e faz o bloqueio de 200 metros ao redor da residência do paciente e é realizada a passagem do veneno naquela região. A nebulização não se usa mais atualmente, porque ela é péssima para o meio ambiente e para o ser humano, por isso, hoje estamos trabalhando com os bloqueios, limpeza da cidade e também com o uso dos drones para diagnósticos de áreas onde o pessoal não consegue entrar, fazendo o diagnóstico por cima, e aí sim, solicitando a entrada nos locais, muitas vezes particulares com, inclusive, autorizações judiciais. Esse é um trabalho que tem que ser contínuo e não pode parar, pois, a epidemia deve terminar em junho, mas, ela deve permanecer ainda que menor, porém, de forma endêmica. Por isso, não podemos baixar a guarda e vamos continuar esse trabalho de prevenção no ano todo”, finalizou o secretário.