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Servidores fazem Manifesto contra a terceirização do Hospital Nestor Goulart Reis

Funcionários temem serem transferidos para outras unidades de saúde do estado, caso serviços do hospital sejam terceirizados

Funcionários do Hospital Nestor Goulart Reis (HNGR), localizado no município de Américo Brasiliense, fizeram um Manifesto para protestar contra uma possível terceirização do hospital que é referência no tratamento de pacientes com tuberculose no estado de São Paulo.

O hospital hoje conta com 145 funcionários que atendem atualmente a 52 pacientes. Caso a terceirização seja confirmada pelo governo do estado, esses trabalhadores poderão ser transferidos para outras unidades do estado ou serem incorporados pela Organização Social (OS) que assumir a unidade. 

Os funcionários fizeram um protesto na semana passada, na frente do hospital com faixas e cartazes, contra a terceirização dos serviços do hospital.

O manifesto

O Hospital Nestor Goulart Reis (HNGR) está localizado no município de Américo Brasiliense, interior do Estado de São Paulo e está ligado à Coordenadoria de Serviços de Saúde (CSS). Foi fundado em 1958 com capacidade para 672 leitos e ao longo do tempo reduziu a sua capacidade de atendimento devido à insuficiência de recursos humanos, materiais, físicos e financeiros. Em 2006 houve uma reforma estrutural dividindo o espaço em dois hospitais distintos: Hospital Estadual de Américo Brasiliense (HEAB) e o Ambulatório Médico de Especialidades (AME) sob a gestão da Organização Social de Saúde (OSS) FAEPA; e o Hospital Nestor Goulart Reis gerenciado pela administração direta da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Neste contexto, o HNGR manteve 102 leitos com a finalidade de atendimento a pacientes portadores de Tuberculose, sendo a única referência no estado para o tratamento da tuberculose multirresistente, sexo feminino, população LGBTQIA+ e para internações compulsórias.

A Tuberculose é uma doença infectocontagiosa, é transmitida pelo ar e de fácil contágio. A internação é de longa permanência e o tratamento tem duração de 6 a 18 meses. Os pacientes são encaminhados para internação diante da falência ou não adesão do tratamento ambulatorial, principalmente, em decorrência da vulnerabilidade social e/ou dependência química. Trata-se de pessoas em situação de rua, usuários de drogas, sem vínculos familiares, sem renda, sem documentos pessoais e jovens. Importante destacar que mais de 70% dos pacientes são encaminhados pela Grande São Paulo e Baixada Santista, muitos da Cracolândia. No HNGR trabalhamos com um modelo assistencial alinhado aos princípios do SUS, principalmente a integralidade, através da Clínica ampliada com os dispositivos do Projeto Terapêutico Singular e Profissional de Referência, buscamos atender às demandas biopsicossociais dos pacientes realizando a regularização de documentos pessoais, entrada em benefícios sociais, busca e fortalecimento de vínculos familiares, encaminhamento para consultas de especialidades (Oftalmologista, Ginecologista, Oncologia, Neurologista, entre outros), aquisição de óculos e próteses dentárias. Além disso, a unidade contempla atendimentos de saúde bucal, fisioterapia, nutrição e reabilitação psicossocial (oficinas de atividade, passeios e festas).

A falta de investimento em recursos humanos nas últimas décadas implicou na redução da capacidade desta unidade para 52 leitos, além de exigir esforços e comprometimentos que vão além das nossas atribuições profissionais. Sabemos que a proposta do governo é reativar leitos bloqueados em vários hospitais do Estado, e a mudança de gestão do HNGR para a OSS FAEPA foi imposta como solução para a falta de recursos humanos. Tal mudança está sendo feita através de um termo aditivo ao contrato vigente, que se encerra em julho/2025, não havendo chamamento público.

Considerando que o Hospital Estadual de Américo Brasiliense possui leitos desativados, nos indagamos porquê não os reativar primeiro? Para atender a atual proposta da DRS III, que é de 72 leitos de Tuberculose e 20 leitos de Saúde Mental precisamos fazer a contratação de recursos humanos com um custo aproximado de 2,6 milhões/ano. A falta de contratação de recursos humanos é justificada pela CSS com a Lei de Responsabilidade Fiscal, onde o gasto com RH não pode ultrapassar 60% do orçamento, porém este gasto está em 52%, o que viabiliza a contratação para reativação dos leitos do HNGR.

Receosos de que a terceirização do serviço prestado a esta população, extremamente vulnerável, pode trazer prejuízos à assistência recorremos ao Ilustríssimo Secretário de Saúde Dr. Eleusis Paiva, que garantiu que o serviço será mantido, apesar de se tratar de leitos de longa permanência e baixa rotatividade. A unidade conta atualmente com 145 servidores sendo 111 moradores de Araraquara, 23 de Américo Brasiliense e 11 de municípios próximos.

Em 22/08/2023 recebemos a visita de representantes da CSS e CRH, que nos informaram que o processo está em andamento e apresentaram opções de realocação/transferência na região incluindo DRS, Penitenciária, municípios da região e em todas as possibilidades teremos perdas de rendimentos. As unidades da CSS, que envolvem 44 unidades hospitalares foram colocadas como as únicas possibilidades de realocação sem perdas de rendimentos para o servidor, porém a unidade mais próxima está no município de Ribeirão Preto a mais de 80km do município de Américo Brasiliense. É de nosso conhecimento que alguns municípios já declararam não haver orçamento para complementação salarial dos servidores que pudessem ser municipalizados conforme a legislação vigente. As unidades da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) não absorvem os trabalhadores do HNGR por falta de vaga pertinente e por falta de compatibilidade do quadro funcional. A OSS FAEPA não aceita a permanência do servidor na unidade, sendo que esta possibilidade, se for opção do trabalhador, gera a maior perda de rendimentos além da dificuldade de integração e aceitação deste servidor. Estes servidores vêm incansavelmente trabalhando no cuidado, tratamento e cura de pessoas afetadas pela Tuberculose desempenhando papel importante no controle da TB no Estado de São Paulo por mais de 60 anos. É interesse dos servidores continuar trabalhando no HNGR e estamos sendo obrigados a abrir mão das nossas atribuições e direitos diante de um posicionamento desumano do governo, com perdas de rendimentos que podem chegar a mais de 50%. Deixamos aqui algumas perguntas: -Por que não abrir um concurso ou contratação provisória para esta instituição que presta atendimento qualificado e integral ao paciente, que já passou por diversos serviços de saúde e não conseguiu adesão ao tratamento?! -Por que terceirizar um hospital em pleno funcionamento que entrega resultados positivos através de indicadores de contrato programa e contribui de forma relevante para a interrupção cadeia de transmissão de uma doença infecto contagiosa de fácil contágio sendo o Brasil o país com maior número de casos notificados nas Américas? – Por que a falta de interesse na contratação de RH para o Hospital Nestor Goulart Reis já que isso acontece em outras unidades da Secretaria de Saúde? – Foi realizada a comparação de custos da contratação de recursos humanos pela CSS e o orçamento da OSS para gestão do serviço? – Por que não manter os colaboradores que aqui estão, que já tem vínculos estabelecidos com paciente através dos profissionais de referência e que ao longo do tempo vem vencendo os desafios em relação a manejo com este perfil?! Importante ressaltar que conseguimos chegar até julho de 2025 com o quadro de funcionários que temos, mas para manter o trabalho qualificado precisaríamos reduzir 5 leitos. Agradeço à atenção e aguardo posicionamento. Conforme o Plano Estadual pelo Fim da Tuberculose enquanto problema de saúde pública signatário do Plano Nacional do Ministério da Saúde de reduzir o coeficiente e o número de mortes por Tuberculose até 2030, a contribuição do HOSPITAL NESTOR GOULART REIS, como referência do Estado de São Paulo deveria ser mantida pela gestão da administração direta considerando que a Tuberculose é um importante problema de saúde pública.

Assinam o manifesto os Servidores Públicos da Secretária de Saúde do Estado de São Paulo Hospital Nestor Goulart Reis.

Redação

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