Início Araraquara Solenidade marca inauguração da Casa SP Afro Brasil Oswaldo da Silva “Bogé”

Solenidade marca inauguração da Casa SP Afro Brasil Oswaldo da Silva “Bogé”

No evento, que teve samba e outras manifestações culturais, foi assinada também ordem de serviço das obras na Acaaar

Uma grande festa na manhã do último sábado (8), com samba e outras manifestações culturais, marcou a inauguração da Casa SP Afro Brasil Oswaldo da Silva “Bogé”, que presta homenagem a um dos nomes mais tradicionais da história do carnaval araraquarense. Na solenidade, o prefeito Edinho também assinou a Ordem de Serviço das obras de construção de vestiários e reforma do campo da Associação Cultural Afro Descendente dos Amigos de Araraquara da Região (Acaaar).

A Casa SP Afro Brasil é resultado de um convênio com o Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Regional, no valor de cerca de R$ 971.5 mil, sendo R$ 765 mil de repasse estadual e cerca de R$ 206.5 mil de contrapartida da Prefeitura. O terreno foi cedido pelo município, está localizado na Vila Xavier e será mais um espaço para a construção da igualdade racial e o combate ao racismo na cidade, já que Araraquara possui o Centro de Referência Afro Mestre Jorge.

A Casa SP Afro Brasil é uma iniciativa do governo estadual para implantar equipamentos destinados ao reconhecimento e valorização da história e cultura afro-brasileira, bem como para promoção de políticas públicas de desenvolvimento social e econômico, justiça, cidadania e enfrentamento ao racismo.  Na solenidade de sábado, entre as autoridades, representando Gilberto Kassab, secretário de Governo e Relações Institucionais do Governo do Estado de São Paulo, estava presente Manoel Roberto Martins Filho.

Em seu pronunciamento, Edinho agradeceu as autoridades presentes e todos os servidores municipais envolvidos no projeto de implantação da Casa SP Afro Brasil. “Estou muito feliz de estar aqui hoje eternizando o Bogé neste espaço tão significativo. Estou dizendo neste espaço, porque o Bogé já está eternizado. Não é possível entender a história cultural do povo preto da cidade de Araraquara sem passar pela história do Bogé, por tudo que ele construiu em vida. O seu legado ficou e sua obra é imensa, porque ele foi um dos maiores fomentadores da cultura negra de Araraquara e instituiu o carnaval de rua de Araraquara. E, em nome da memória do Bogé, o carnaval de rua não vai acabar”, declarou o prefeito.

Sobre a ordem de serviço das obras de construção de vestiários e reforma do campo da Acaaar, Edinho reforçou a importância do Orçamento Participativo, lembrando que a obra foi uma demanda eleita na Plenária Temática da População Negra do OP.

“Para que a gente tenha dimensão do que ele representa, OP dá o poder de escolha ao povo. Não resolve todos os problemas, porque sempre escolhemos uma obra e acaba ficando outra. Mas é o processo de devolvermos o poder ao povo. A Acaaar é um símbolo da população preta de Araraquara.  Em outra plenária, foi eleito um espaço que valorizasse as religiões de matrizes africanas. E ele está lá sendo construído e vamos também inaugurar até o final do ano. E tem outro desafio, outra obra que vai acontecer por meio do OP, que é o memorial da população preta de Araraquara. Queremos fazer aqui pertinho; estamos negociando”, garantiu.

Alessandra Laurindo, coordenadora de Políticas Étnico-Raciais, vinculada à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Participação Popular, muito aplaudida pelos presentes, agradeceu o prefeito Edinho que, segundo ela, acreditou no projeto da Casa SP Afro desde o início e trabalhou por ele, assim como também aprovou imediatamente a homenagem a Bogé. Agradeceu nominalmente os secretários municipais e seus servidores envolvidos no processo, além Ivan Lima, presidente do Comitê de Gestão do LIDE Equidade Racial; Gil Clarindo dos Santos, presidente do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra; e Ana Flávia Nunciato, presidente do Comcedir (Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo), todos à frente, entre as autoridades na cerimônia.Também agradeceu a equipe do Centro de Referência Afro, o empresário e parceiro Claudio Claudino e a deputada Thainara Faria (PT), autora da iniciativa que garantiu recursos para o mobiliário da Casa.

Sobre o homenageado, Alessandra destacou a importância de Bogé, disse ser cria do Santana e, por isso, desfilou por 8 anos pela Estrela de Vila Santana com a família.

“É preciso valorizar nossa comunidade, nossa raiz. O mestre Bogé, o seu Osvaldo da Silva, representa a comunidade e não poderíamos ter um nome melhor para esse espaço. Seu Bogé faleceu recentemente, no último dia 3 de março, e a família ainda vive o luto. Por isso agradeço demais a família por ter nos dado essa oportunidade de estar aqui hoje”, enfatizou.

Entre as autoridades presentes no evento, também prestigiou a inauguração o Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Dimas Ramalho, que enalteceu a importância da iniciativa. “A Casa SP Afro Brasil representa um espaço de orgulho, resistência, de afirmação e tem que ser a casa de todos. E ninguém mais do que o Bogé para representar tudo isso”, defendeu.

A deputada estadual Thainara Faria  ressaltou em sua fala a importância da união de mulheres e homens pretos. “Só vamos continuar avançando, de fato, quando tivermos união na luta antirracista. Hoje temos aqui a celebração da união”, destacou.

Em nome da Câmara Municipal, o vereador João Clemente (PSDB), presidente da Frente Parlamentar Antirracista, saldou os presentes cantando no microfone o samba Sorriso Negro, de Dona Ivone Lara, acompanhado da plateia. “Muito obrigado a todos aqueles que estão comprometidos em fazer uma modificação na realidade do negro nesse país. O Brasil é preto”, afirmou, mencionando os demais vereadores presentes: Paulo Landim (PT), presidente da Câmara; Aluisio Boi (MDB), Edson Hel (Cidadania) e Fabi Virgílio (PT),

O homenageado

A homenagem a Oswaldo da Silva, o Bogé, abriu a solenidade, com um pronunciamento emocionado de seu filho Carlos Alberto Camargo, representando a família. Casado com Dona Ivone, Bogé teve quatro filhos – Carlos, Valquíria, Marli e Cláudia –, família que sempre o apoiou e o acompanhou na missão de manter viva a chama do samba.

Emocionado, seu filho Carlos destacou o legado do pai: “ Meu pai deixou seu legado vivo para seus filhos, netos e tataranetos, que é a honestidade, a simplicidade. Meu pai tirou muita gente da rua e formou muitas costureiras, além de muitos mecânicos dos carros alegóricos que quebravam antes de entrar na avenida.

Agradeço muito essa homenagem; meu pai também foi homenageado muitas vezes em vida, o que é muito significativo para todos nós. Agradeço demais esse momento, em nome da família Bogé, da qual também faz parte toda a nossa comunidade. Porque Bogé é uma comunidade, que não morreu”, declarou.

Durante toda a vida, Bogé foi pedreiro de profissão e sambista de coração. Seu envolvimento com a arte se deu quando formou e integrou o Trio Sumaré, com Chico e Titico, na década de 1960, que tocava marchas, sambas e outros estilos musicais da época. Com o trio, formou um bloco carnavalesco que cresceu e se transformou na escola de samba “Unidos do Carmo”. Em 1969, Bogé fundou a escola de samba Estrela de Vila Santana, que desfilou por mais de meio século. Em 1978, Bogé ainda fundou o Independente Futebol Clube, do qual assumiu a presidência

Em 2012, devido a problemas de saúde e dificuldades de locomoção, deixou a batuta da escola de samba. Bogé faleceu em 3 de março de 2023, aos 90 anos.

Ao final da solenidade, família e autoridades participaram do descerramento da placa de inauguração da Casa SP Afro Brasil Oswaldo da Silva “Bogé”.

Redação

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