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Sumbunhe N’fanda quer implantar ‘Bolsa de Estudos Afro’ até o final de sua gestão

O coordenador de Políticas Étnico-Raciais, o africano de Guiné-Bissau, Sumbunhe N’fanda, quer marcar seu trabalho pela capacitação

Por José Augusto Chrispim

Desde o início deste ano, a Coordenadoria de Políticas Étnico-Raciais do Município é comandada pelo africano Sumbunhe N’fanda. A reportagem de O Imparcial falou com o coordenador, natural de Guiné-Bissau, que é o primeiro estrangeiro a ocupar um cargo de coordenação no governo de Araraquara e um dos poucos do país. 
Junto de uma equipe de 10 funcionários, incluindo uma psicóloga, Sumbunhe desenvolve vários trabalhos na Coordenadoria que atende principalmente denúncias de racismo em Araraquara. “Desde o início do ano já atendemos 12 casos de racismo. Hoje mesmo tivemos uma denúncia de racismo contra uma menina, de 13 anos, em uma escola da cidade”, destacou Sumbunhe.

Ações da Pasta

O coordenador conta que, além dos atendimentos virtuais e presenciais da coordenadoria, várias palestras são realizadas por ele e sua equipe em escolas da cidade com temas que destacam as ‘referências intelectuais negras’, entre outros assuntos ligados à igualdade racial e contra o racismo. “Aqui a gente faz o acolhimento e o encaminhamento dos casos de racismo, mas, também fazemos atendimentos psicológicos com as vítimas, além de familiares e educadores envolvidos nos casos que, muitas vezes, não têm preparo para lidar com certas situações”, relata.

Casa SP Afro  

Em conjunto com a Coordenadoria, a Casa SP Afro desenvolve várias oficinas e cursos voltados para a população negra da cidade. Atualmente, o local oferece oficina de trança, aula de canto, hip hop, pilates, movimento vital expressivo, balé, capoeira e exercícios em geral. “Estamos procurando parcerias para a criação de cursos de inglês, francês e matemática básica, pois, vejo que muitas pessoas saem da escola com muita dificuldade nessas matérias quando vão participar de um vestibular ou um concurso”, relatou o coordenador.

Trajetória
Sumbunhe conta que teve uma infância humilde em uma família de 11 irmãos, na pequena cidade de Ingoré, Norte de Guiné-Bissau, país do continente africano. Foi através da Igreja Católica que ele teve a oportunidade de estudar na capital Bissau. “Quando eu tinha uns 11 anos já me destacava como uma liderança na minha comunidade e logo chamei a atenção de uma freira de uma igreja católica da minha cidade que passou a ajudar a minha família para me manter na escola. Aos 16 anos, formei um grupo de adolescentes na paróquia. Também com a ajuda da igreja, fui cursar o ensino médio na capital Bissau, na escola mais cara do país. Com a ajuda de amigos e familiares, consegui terminar os estudos e voltei para a minha cidade para assumir o Internato “São Gaspar”. Logo fui convidado para fundar uma Ong para auxiliar na obtenção de fundos para a infraestrutura de uma aldeia da minha região. Através da Ong, conseguimos ajuda para montar escolas nas aldeias e, assim, alfabetizar as crianças locais. Hoje, a Ong atende a quatro aldeias com compra de materiais pedagógicos e carteiras, entre outras coisas. Outro trabalho importante desenvolvido pela Ong é a identificação e encaminhamento de pessoas com altas habilidades. São crianças que têm potencial para dar voos mais altos na vida, então, procuramos dar oportunidades para que elas possam estudar e se desenvolverem. Um exemplo desse trabalho foi o jovem David que foi descoberto pela Ong e hoje é um formador dentro da Academia Militar de Guiné-Bissau. Um tempo depois, fui informado pela freira que teria que ir para a capital do país para cursar universidade para continuar no Internato. Na capital, com a ajuda de um amigo do meu pai que me abrigou em sua casa, fiz o curso preparatório para o vestibular, foi aí que surgiu uma oportunidade de vir estudar no Brasil através de uma bolsa de estudos que o governo federal brasileiro oferecia. Assim vim para Araraquara, onde cursei Administração Pública na Unesp. Aqui conheci minha esposa, Aline Cristina Adriano N’fanda, com quem tive meu filho Menelik N’fanda. Aqui também montei minha Ong onde, através de parcerias com o Rotary e empresas privadas, consigo recursos para manter o trabalho nas aldeias da minha cidade com envio de materiais pedagógicos, brinquedos, entre outros. No início deste ano fui convidado para participar desse governo e me senti muito feliz em poder contribuir com minha experiência”, resumiu Sumbunhe.

Projeto ousado
Com a ideia de fortalecer a igualdade racial não pelo lado do assistencialismo, mas dando oportunidades para que as pessoas possam crescer através de seu próprio esforço desde que tenham oportunidades iguais, o gestor tem a intenção de criar um projeto para identificar e preparar crianças com alta habilidades vindas da periferia da cidade. “Tenho um projeto, que espero colocar em prática nesses quatro anos de mandato, que é a criação de um ‘Internato para Crianças com Altas Habilidades’, com ensino integral para crianças bem-dotadas. Outro projeto que pretendo criar é a ‘bolsa de estudos afro’ para darmos um impulso na carreira desses jovens quando detectarmos essas habilidades. Eu acredito que igualdade racial se conquista assim, não apenas com assistencialismo. A capacitação é a marca da minha gestão”, finaliza Sumbunhe.

Guiné-Bissau

“Guiné-Bissau, oficialmente República da Guiné-Bissau, é um país africano localizado na região oeste do continente, tendo como capital a cidade de Bissau. Banhado pelo oceano Atlântico, o território guineense se estende por 36.125 km² entre sua parcela continental e diversas ilhas espalhadas ao longo da costa, dispondo de clima tropical e relevo moderado composto por planícies.

A Guiné-Bissau tem dois milhões de habitantes aproximadamente, e figura entre os países mais pobres da África. Considerada uma nação subdesenvolvida, a economia guineense depende do desenvolvimento da atividade agropecuária, principalmente na produção do cacau.” Sua língua oficial é o Português, mas a população também usa a língua nativa ‘Criolo’.

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