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Terreiro de Umbanda Cacique Pena Azul: 22 anos de jornada espiritual e luta contra o preconceito

O simbolismo da data de sua fundação é necessário ser ressaltado, visto que, a Independência do País é comemorada no mesmo dia

O dia sete de setembro de 2002, marcou o início de uma longa jornada espiritual e uma incansável busca por respostas que contribuíssem com a formação humana e espiritual dos frequentadores do Terreiro de Umbanda Cacique Pena Azul, data simbólica, pois data a fundação de um espaço um espaço de proteção da identidade negra, de fortalecimento das religiões de matriz africana e de conexão afetiva entre sujeitos que vivenciavam- e vivenciam- inúmeras formas de segregação material e simbólica no cotidiano de Araraquara.

O simbolismo da data de sua fundação é necessário ser ressaltado, visto que, a Independência do País que é comemorada no referido dia, completará 202 anos, porém, acerca de uma identidade nacional e da construção da ideia de povo brasileiro durante todo esse período, foi se construindo uma narrativa única de nossa história no que diz respeito à questão da religião no Brasil. Isto porque o processo de formação da sociedade brasileira foi e é marcado pela hegemonia do cristianismo de matriz europeia ocidental.

Diante disso, há 22 anos, tentamos também unir esforços e resistir ao Racismo Religioso, advindo da estruturação histórica e social que contribuiu para silenciar, invisibilizar, e até mesmo inviabilizar outras formas de religião que já eram praticadas no continente, ou que aqui aportaram. Neste caso, as religiões de matriz indígena que já existentes e as de matriz africana, trazidas pelos escravizados.

Da realização e desenvolvimento das atividades – Os fundamentos da Umbanda:

Considerando que a caridade na Umbanda vai além de simplesmente oferecer ajuda material, os adeptos da religião entendem que ela se manifesta através da compreensão, do acolhimento e da dedicação em ajudar aqueles que estão passando por dificuldades espirituais e emocionais, sendo um ato de amor incondicional e de compromisso em ajudar aqueles que mais necessitam.

Diante disso, para iniciarmos a nossa jornada espiritual, também contamos com apoio e os trabalhos que iniciaram no dia 07 de setembro de 2002, na mata, localizada na Rodovia Nelson Barbieri, tendo como referência o carvoeiro, existente até hoje no local. Mata essa, cedida por um casal de simpatizantes que se sensibilizaram pela causa e o projeto de nossa instituição. Dando ali, início com um pequeno grupo de filhos de fé e promovendo o atendimento caridoso e gratuito desde o início. Perdurando nesse endereço ao longo de 16 anos, onde o Terreiro teve a oportunidades de mostrar o verdadeiro valor da caridade e ao longo do tempo conquistar vários simpatizantes e amigos de fé. 

É importante destacar que a Umbanda ensina que cada indivíduo tem sua própria história e enfrenta desafios únicos ao longo da vida. Por isso, a caridade é praticada de forma pessoal, levando em consideração as necessidades específicas de cada pessoa. Pode ser expressa através de palavras reconfortantes, gestos de cura energética, orientações espirituais ou doações materiais. É uma demonstração de empatia e solidariedade.

Além disso, envolve valores como humildade, generosidade e gratidão. Os umbandistas reconhecem que ajudar o próximo não apenas beneficia a pessoa que recebe ajuda, mas também aquele que oferece. É uma oportunidade de crescimento espiritual, aprendizado e fortalecimento do vínculo com as entidades e guias espirituais que orientam a religião.

Depois de 16 anos, mais uma vez o grupo foi tocado pela sensibilidade de um novo casal, que passou a frequentar a casa e se comoveram com o trabalho realizado, mas em especial com a falta de recursos e estrutura funcional (falta de água, energia, sanitário, clima de frio, tempos intensos). E então, após uma conversa informal, o casal informou que teria uma chácara e poderia ceder por empréstimo, para o funcionamento da nova sede e que nesse local teria mais estrutura e flexibilidade de acesso.

São realizadas Campanhas do Agasalho (cobertores, roupas, meias e todo artigo em bom estado, que possa ser reutilizado)

Doações de Cestas Básicas;

Palestras de sensibilização sobre temas variados (saúde, violências raciais e de gênero, melhor idade);

Doações de kits de higiene;

Natal Solidário;

Dia das Crianças;

Páscoa Feliz;

Dignidade Menstrual – Distribuição de absorventes

Daí a importância de reforçar que a caridade na Umbanda, não se limita apenas às práticas religiosas ou aos locais de culto, é uma atitude que deve ser praticada diariamente, em todas as áreas da vida. Significa estar disposto a ouvir, compreender e ajudar sempre que possível. Envolve respeito e tolerância, reconhecendo a diversidade de caminhos e crenças.

Com essa nova possibilidade, os trabalhos foram remanejados para a nova sede social no dia 02 de setembro de 2018, onde se encontra localizada até os dias atuais, na Avenida Angelina Ferrari Zavanella 386, bairro Jardim Zavenella.Sendo assim a instituição filantrópica, sem fins lucrativos, não recebe nenhum tipo de recurso federal, estadual ou municipal. Vivendo e se mantendo da caridade dos membros que lá frequentam e acreditam no projeto do bem e de ajudar ao próximo.

Público Atendido:

Hoje o público estimado semanalmente no atendimento é de aproximadamente 80 pessoas (no dia de Gira e atendimento) e no decorrer dos anos, foi possível perceber que enquanto terreiro, é desempenhado um papel político, ao fazerem resistência à cultura eurocentrada, colonial e racista- como também realizam uma função de acolhimento psíquico às demandas subjetivas e familiares de seus frequentadores. Assim, o espaço torna-se uma referência já que muitos de seus frequentadores são pessoas que sofrem a precarização das condições de vida- desemprego e informalidade, violências, fragilização dos vínculos sociais, amorosos e familiares, produção e reprodução da exclusão- ou seja, são sujeitos expostos às diversas situações de riscos e vulnerabilidades, fruto de um processo histórico de dominação no qual a população negra e pobre encontra-se mais vulnerável e cabe ressaltar que muitos não acham no serviço público, como CRAS, PSFs e afins o acolhimento a altura do que procuram nesses espaços, porque o momento de escuta afetiva e orientação espiritual faz toda a diferença.  

Em resumo, a caridade é uma expressão de amor e compromisso com o próximo. É uma prática fundamental para aqueles que seguem essa religião, onde a espiritualidade se manifesta através da bondade e da assistência mútua. Ao praticar a caridade, os umbandistas não só ajudam os outros, mas também fortalecem sua própria conexão com o divino, contribuindo para a construção de um mundo mais solidário e harmonioso.

Breve histórico da condução do Terreiro Cacique Pena Azul

Com 22 anos de relevantes serviços prestados, no cunho social comunitário religioso, a comunidade orientada pelo Espírito do Índio Cacique Pena Azul, fez da natureza o seu livro sagrado. A partir disso, o Babalorixá Paulinho D’Ogum, usa do seu conhecimento e liderança para ser um multiplicador, compartilhando os conhecimentos repassados por aqueles que o antecedeu.

Tem como missão seguir e honrar o legado a ele deixado e dar continuidade ao trabalho realizado pela Yalorixá, Mãe Leondina de Oxum (in memória). Seu principal compromisso é louvar aos ancestrais, na Umbanda raiz, na Jurema, com simplicidade e coerência, pois tem como legado a ancestralidade indígena (a Casa de Caboclo) e honrar a herança espiritual.  

Para o Babalorixá Paulinho D’Ogum, seu orgulho são seus filhos de Fé, amigos e protegidos da aldeia, onde são milhares de seguidores por todo Brasil, com ritos de emoção, como manda a tradição.                                                                       

As portas do Terreiro estão sempre abertas para acolher todos os necessitados e que precisam da espiritualidade como forma de cura, ponto de equilíbrio e fé. Nunca houve lamento pela falta de recursos para alavancar os trabalhos de caridade, muito pelo contrário, com a fé que os ilumina sempre levaram avante as obrigações e com muito prazer em poder ajudar. Quando se trabalha operando a caridade é preciso ter em mente a motivação de contribuir com o progresso para se alcançar as graças de Oxalá.

Os Terreiros, roças ou templos sobrevivem por meios de doações, assim é importante pensar na construção coletiva.

Desde o dia 7 de setembro de 1822 até os dias de hoje muita coisa mudou. Mudaram os desafios e as formas de enfrenta-los. A lição que fica, é que não precisa ser tão difícil, tão doloroso e excludente. Podemos viver em um mundo onde as diversidades e diferenças existentes sejam pautadas pelo respeito.

Redação

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