Início Araraquara Tiro de Guerra 02-002 completa 112 anos

Tiro de Guerra 02-002 completa 112 anos

Sede passou a ser denominada “Capitão Durval de Almeida Filho” em homenagem ao antigo comandante

Hamilton Mendes – Colaboração

O Tiro de Guerra 02-002, sediado em Araraquara, completou 112 anos de existência no último dia 10 de setembro. Criado como Linha de Tiro Cívica nos idos anos de 1911, o Tiro de Guerra araraquarense era até pouco tempo o único do Brasil com sua história reconhecida pelo Exército Brasileiro, o que aconteceu no ano de 2006, logo após o então comandante do TG local, sargento Rudi Bauer – falecido recentemente-, ter encaminhado a pesquisa realizada pelo jornalista Hamilton G. P. Mendes ao comando do Exército em São Paulo.

Anos depois, já em 2020, o atual comandante do TG 02-002, subtenente Brayner Rogerio Tavares de Araújo, encaminhou novamente a pesquisa para São Paulo – cujas informações, como portarias, datas e leis citadas serviram de base para a realização de outros estudos pelo estado e pelo País -, o que acabou gerando novas descobertas e pedidos de reconhecimento.

O estudo realizado em Araraquara está hoje publicado no portal do 2º Exército.

História

Tudo começou logo após o final do Império, quando se extinguiu o Serviço Militar Forçado no Brasil, cujas convocações eram realizadas pela Guarda Nacional, um organismo civil/militar (que nada tinha a ver com o Exército) criado logo após a partida de D. Pedro I para Portugal, com o intuito de formar reservas para proteger o território nacional de alguma eventual

invasão portuguesa.

Quase imediatamente após a Proclamação da República, no ano de 1889, começou a ganhar força pelo País um movimento capitaneado principalmente, por intelectuais e autoridades civis, que desejavam o restabelecimento do Serviço Militar, mas agora tento as forças armadas

à frente dos trabalhos.

Poucos anos depois, em 1908, o movimento colheu seus primeiros frutos, com a criação pelo Exército, na cidade de Porto Alegre, do 1º Tiro de Guerra do País. Logo depois vieram o TGs nº 2 e o nº 3, criados em São Paulo e Santos, respectivamente – importante ressaltar que o TG de

Santos foi criado pela Marinha.

Ainda sem uma política definida para o setor, os primeiros TGs implantados no País tinham sede nas capitais dos principais Estados do Sul e do Sudeste brasileiro, e em cidades litorâneas.

De início, os TGs envolviam tanto o Exército, quanto a Marinha.

História do Serviço Militar no País

Os anos 10 acabaram marcados pela adesão de Olavo Bilac ao movimento, e acontece o lançamento da Campanha Nacional Para o Restabelecimento do Serviço Militar no País, que resultou na imediata mobilização de líderes civis e no surgimento, nas cidades do interior paulista, das Linhas de Tiro Cívicas. Importante registrar que um dos primeiros municípios

brasileiros a engrossar o movimento foi Araraquara, cujos líderes criaram a Linha de Tiro Cívica da cidade em 10 de setembro de 1911).

Organizadas inicialmente como entidades associativas as Linhas de Tiro representavam o primeiro passo oficial que uma cidade deveria executar para receber um órgão oficial do Exército – depois de reconhecidas, as Linhas eram incorporadas pelo Exército, o que a elevava à condição de Linha de Tiro Federal. Feito isso, o órgão recebia uma designação numérica e passaria a convocar jovens para o Serviço Militar.

Com o movimento vitorioso no final de 1917, um decreto determinou o restabelecimento do Serviço Militar no País, agora, obrigatório, e não mais forçado.

A partir da incorporação pelo Exército, a Linhas de Tiro Federal passaram a realizar sorteios nas cidades onde existiam para a definição de quais jovens serviriam ao Exército.

Linha de Tiro Cívica de Araraquara

Em Araraquara, no início de 1911, alguns líderes locais começaram a se mobilizar no sentido de criarem a Linha de Tiro Cívica da cidade. Finalmente, em 10 de setembro de 1911 – em publicação levada a efeito no jornal O Republicano -, o Sr. Major Christiano Infante Vieira comunicava a fundação da Linha de Tiro de Araraquara.

Sua 1ª diretoria teve a seguinte constituição: Presidente – Major Christiano Infante Vieira; Secretário – Major Eulógio Pitombo; Tesoureiro – Coronel Luiz de Ulloa Castro.

A Linha de nossa cidade que passou a funcionar, efetivamente, no início do mês de outubro do mesmo ano, embora tenha sido organizada dentro das instruções baixadas pela Directoria Geral, funcionou como suas co-irmãs pelo interior, especificamente de forma cívica e com fundamentos associativos, com sócios pagantes.

Ficou assim até o ano de 1917, ocasião em que os procedimentos para a regulamentação das Linhas no interior do estado foram finalmente determinados, e os sorteios para a escolha dos jovens que deveriam servir ao Exército passaram a ocorrer também nas cidades do interior.

Linha Federal de Araraquara

A Linha de Tiro de Araraquara teve definida sua incorporação oficial pela Directoria Geral dos Tiros de Guerra de São Paulo em outubro de 1917. Com a decisão, o organismo araraquarense recebeu a designação numérica, 610, e teve o termo “Federal” incorporado a seu nome, passando a chamar-se Linha de Tiro Federal nº 610 de Araraquara.

A partir de então, pela primeira vez na República, os jovens araraquarenses passaram a concorrer ao Sorteio anual para o Serviço Militar.

O primeiro Sorteio a que concorreram jovens de Araraquara se deu no final de 1917 para o Serviço Militar de 1918. Pouco depois, em 8 de Abril de 1918, foi baixada pela Confederação dos Tiros do Brasil, a “Instrução para as Sociedades dos Tiros Incorporados”, em cujas disposições determinava a extinção do cargo de Director das Linhas e Tiros.

A Linha de Tiro de Araraquara, na época, contava com 166 sócios pagantes que recolhiam junto aos cofres da organização o valor de 2000$ mensais para ter o direito de fazer parte de seus quadros. Seu Presidente era o Cel. Luiz Pinto Ferraz.

Elevação à condição de Tiro de Guerra

Por Despacho de 19 de março de 1932, finalmente a Linha de Tiro Federal de Araraquara, que na ocasião já contava com cerca de 400 (quatrocentos) Reservistas, foi incorporada a Directoria Geral na condição de Tiro de Guerra.

Embora a luta fosse antiga, e tenha tido a participação de muitos líderes locais, o Sargento Mário Mariano, que prestava serviço há tempos na Linha araraquarense, foi considerado o grande responsável pela conquista.

O telegrama informando as autoridades locais sobre a decisão chegou à cidade no dia 20 de março daquele ano, e comunicava também, que a antiga designação numérica, 610, seria mantida, e pela sua nova condição, o organismo da cidade passaria a chamar-se Pelotão nº 610, ou Tiro de Guerra nº 610.

A grande notícia chegou à cidade e foi publicada pelo Jornal O Imparcial em sua edição de 27 de junho de 1932. A partir desta data acabaram-se os sorteios em Araraquara, com o Tiro de Guerra local organizando as convocações propriamente ditas, a fim de suprir a seu efetivo, que com sua elevação a condição de Quartel, passou a ter.

Ficou também assentada a manutenção do Sargento Mário Mariano a frente do organismo, agora na condição de Instructor do Tiro.

Revolução de 1932

Com a eclosão do Movimento Constitucionalista em 9 de julho de 1932, os jovens araraquarenses que integraram o primeiro efetivo do Tiro de Guerra local se viram envolvidos em um acontecimento que quase os enviou, sem qualquer preparo, para os campos de batalha.

Tal situação somente não ocorreu em razão da grande afluência de voluntários que se apresentaram na cidade pela causa (541 araraquarenses – uma mulher – seguiram para o front).

Além disso, o destacamento de polícia local foi enviado para reforçar as Forças que estavam se organizando em São Paulo e, por esse motivo, coube ao Tiro de Guerra-610, o policiamento da cidade, bem como, o desempenho de outras funções para a manutenção da ordem.

Alterações e Prontidão

Com as atividades de todos os Tiros de Guerra do Estado de São Paulo suspensas por ordem expressa do Governo Vargas, o TG de Araraquara permaneceu inativo até o ano de 1936, quando voltou a selecionar jovens, retomando suas funções em 1937.

Através do Decreto nº. 247 (18/06/1935) foram criados novos Tiros de Guerra onde antes existiam as Linhas de Tiro não homologadas pela antiga Lei.

Extinção do Nº 610, criação do Nº 06 e nascimento do 02-002

Pela Portaria Ministerial nº. 8.747 de 31 de outubro de 1945, todos os Tiros de Guerra existentes no país foram extintos e, pela mesma portaria foram criados seus substitutos.

No caso de Araraquara, foi extinto o Pelotão nº 610, ou Tiro de Guerra nº 610, e para seu lugar foi criado o Tiro de Guerra nº 06, instalado na cidade em 14 de novembro de 1945. Mais tarde, em 27 de março de 1979, o TG – 06 também foi extinto, nascendo a designação atual, TG 02-002.

Seu atual comandante é o Brayner Rogerio Tavares de Araújo, que realiza importante trabalho de fomento das atividades do organismo militar local, além de remodelar e recuperar – com apoio de empresários e da Prefeitura da cidade – as instalações do TG.

O Tiro de Guerra através de sua história funcionou na Rua do Comércio (hoje Rua 9 de Julho) nº 117, Avenida 15 de novembro, entre as ruas 5 e 6; na Rua Expedicionários do Brasil (Rua 8), esquina com Avenida Feijó, e funciona atualmente da Vila Xavier.

Homenagem

A celebração da Independência do Brasil no último dia 7 de setembro foi marcada por um ato cívico na sede do Tiro de Guerra de Araraquara, que reuniu autoridades civis e militares, entre elas representantes da Guarda Civil Municipal, do 13º Batalhão da Polícia Militar do Interior, Tiro de Guerra e Corpo de Bombeiros.

No evento, que foi aberto ao público em geral, foi realizada uma homenagem ao Capitão Durval de Almeida Filho com a denominação da sede do Tiro de Guerra 02-002, por indicação do vereador e vice-presidente da Câmara, Aluisio Boi.

O capitão Durval de Almeida Filho foi um exemplo de dedicação às políticas públicas voltadas ao esporte e um digno membro do Exército Brasileiro. Foi chefe de instrução do Tiro de Guerra 02-002 de 1971 a 1984 e Delegado da 4ª Delegacia de Serviço Militar de Araraquara no período de 1987 a 1994. Por ser um incentivador do esporte, foi convidado a assumir a função de presidente da Fundesport e da Secretaria Municipal de Esportes no período de 2001 a 2008, durante as duas primeiras gestões do Governo Edinho. Faleceu em 25 de junho de 2015, aos 74 anos.

Redação

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