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Trabalhadores rurais retirados de acampamento prometem resistência

Da redação

A situação dos trabalhadores rurais que foram expulsos, através de ordem judicial, do Acampamento Novo Horizonte nessa terça-feira (19), é de desolação. Os acampados relataram para a reportagem de O Imparcial o total descaso por parte dos órgãos públicos tanto de Araraquara como de Matão.

De acordo com Luciano Chagas Sobrinho, que é coordenador do grupo, o sentimento de todos é de abandono por parte de quem prometia outra área para onde eles iriam ser realocados quando saíssem do Assentamento Monte Alegre. “Desde quando iniciamos as reuniões com o Itesp, eles nos prometeram outras terras para a gente se mudar, mas não cumpriram com a promessa e, ontem, quando cheguei à minha casa a porta tinha sido arrombada e estava tudo quebrado. Nós temos um laudo de uma vistoria ambiental que foi realizada no nosso acampamento em 21/09/2015, que comprova que a região que o Itesp diz ser uma área de preservação ambiental, era apenas um pasto abandonado. Além disso, não entendemos o porquê de a sentença de reintegração de posse ter sido dada por um juiz de Araraquara, sendo que o acampamento estava localizado no interior do Assentamento Monte Alegre III, que pertence à cidade de Matão. Inclusive temos um recibo do Cartório Oficial de Registros de Imóveis de Matão, registrado no dia 04/05/2018, onde está registrado que a área de reserva não sofreu nenhum tipo de desmembramento, como teria sido sugerido na ação de reintegração para alegar que a área pertence à Araraquara. Algum político ou alguém muito influente deve ter agido para conseguir a nossa retirada forçada do acampamento. A partir do momento que eu denunciei que havia nas terras dos assentados do Monte Alegre registrados pelo Itesp, uma grande porcentagem de áreas improdutivas e outras até alugadas, passei a ser perseguido e ameaçado de morte, tanto que tive que me retirar por um tempo do local. Funcionários da prefeitura de Araraquara juntamente com a deputada Márcia Lia foram várias vezes ao Assentamento levar cestas básicas para os moradores, mas nunca se preocuparam em perguntar se nós precisávamos de algum tipo de ajuda.

Mas nós vamos resistir e só sairemos daqui quando alguém conseguir alguma terra para podermos nos instalar”, ressaltou Luciano.

Fazendo uma analogia com a música ‘Morte e vida Severina’ do grande Chico Buarque, no final, o que cabe ao homem que quer trabalhar no campo é uma cova rasa, nem larga, nem funda, que é a parte que lhe cabe nesse latifúndio chamado Brasil.

Crianças fora da escola

Outro grave problema apontado pelos trabalhadores rurais foi o fato das cerca de 25 crianças do acampamento que estudavam na escola e na creche do Assentamento, terem sido desligadas automaticamente das unidades escolares. Elas não puderam assistir às aulas nessa quarta-feira (20), pois o ônibus escolar teria passado em frente ao acampamento e não as teria recolhido, segundo o trabalhador rural Domingos José da Silva.

De acordo com assessoria de imprensa da prefeitura, a informação não corresponde com a verdade. “Não há nenhuma criança fora da escola. A prefeitura sempre prestou assistência. Não seria diferente agora”, disse a secretária de comunicação Priscila Luiz à reportagem.

Ajuda da população

Ainda de acordo com Luciano, a única ajuda que o grupo está recebendo é da população de Bueno de Andrada e cidades vizinhas como Araraquara e Matão, que estão doando roupas e alimentos. Entre os desabrigados existem várias crianças, inclusive bebês de colo, que passaram a noite fria dessa quarta-feira abrigadas em uma barraca feita com uma lona rasgada.

“O que fizeram com a gente é desumano. Disseram que iriam guardar nossas coisas em um barracão, mas ninguém falou pra gente onde fica esse tal barracão. Os nossos bujões de gás sumiram e parte dos nossos móveis foi destruída pelos tratores. Nós fomos jogados das nossas casas e agora vamos ficar aqui até conseguirmos outra terra para plantar”, concluiu o trabalhador rural.

 

Nota da prefeitura

A Prefeitura de Araraquara informa, através da Secretaria Municipal de Comunicação, que prestará, por meio dos diversos setores municipais, a assistência e cuidados possíveis às famílias do então acampamento Novo Horizonte, que passou pela reintegração de posse, após sentença emitida pelo Poder Judiciário, por conta de ação movida pelo ITESP, órgão do governo estadual.

É válido lembrar que, embora as famílias estivessem numa área localizada no município de Matão, sempre foram assistidas pelos programas da Prefeitura e atendidas na EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Maria de Lourdes Silva Prado, no CER (Centro de Educação e Recreação) Irmã Maurina Borges da Silveira e na USF (Unidade de Saúde da Família) “Dirce Ragassi Cândido”.

Vale lembrar também que no dia de ontem, durante reintegração, a Prefeitura cumpriu as determinações que constavam na ordem judicial e também atuou no sentido de ajudar essas famílias oferecendo escuta, orientação, alimentação, entre outras assistências.

A maioria delas foi encaminhada à cidade de Matão para casas de familiares. Outras, que precisaram, a própria Prefeitura de Araraquara entrou em contato com a Secretaria de Assistência de Matão e também foram acolhidas naquela cidade.  Até o final da reintegração de posse, nenhuma família encontrava-se no acampamento e/ou em Bueno. Hoje, porém, algumas voltaram a Bueno, num novo movimento de resistência.

A Prefeitura de Araraquara se solidariza com a situação e reforça que sempre se colocou à disposição para dialogar. A reintegração de posse é de responsabilidade do Itesp, órgão vinculado ao governo do estado, autor da ação.
Fotos : O Imparcial

Redação

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