Da redação
Não ouvir a voz do outro lado do telefone quando ligava todos os dias para pedir a benção é algo que nunca poderia imaginar. Queria para sempre aquela figura forte, amorosa, sábia e que ensinou a ele os valores e virtudes da vida. Sentir o seu olhar sobre si, o calor do seu abraço, mas a vida tem das suas e ceifou seus dias aqui na terra. Mas aquela mãe, mesmo tendo partido, renasce a cada dia dentro do seu coração quando mentalmente pede a ela sua benção e lá do baú precioso de sua memória ouve: ‘bença’, filho.
E hoje aonde podemos sentir tanta secura nos corações, Paulo Fernando Paes Landim, nascido em Jales, no dia 26 de janeiro de 1959, filho da Odette Lopes Paes Landim e de Valdemar Paes Landim, irmão de Roseli, Valdemar (Júnior) e Carlos é um homem raro. Por que chora? Não. Mas porque sua maior riqueza é a sua família. De onde vem a força que o faz levantar a cada manhã e a vencer as adversidades? Ele responde: Deus! Sua maior característica embora possa parecer redundante é ser humano.
Jales
Em Jales, Landim morou até os 16 anos. De uma geração de ferroviários, onde o avô, por exemplo, foi mestre de linha, morava numa casa da ferrovia rente à linha, onde o trem passava. “Era até gostoso, apesar de a gente ser bem pobre, filho de ferroviário, meu pai era manobrador. Não tinha banheiro dentro de casa. Era tipo de fossa. Era uma vida dura. Quando chovia a casa ficava toda alagada, mas para uma criança era uma aventura”, conta ele, acrescentando que a residência ficava perto do centro da cidade e que a brincadeira preferida era ir para um campinho brincar e jogar bola com os amigos. “Mas a minha mãe sempre foi um braço firme, preocupada com os filhos”.
Na época de sua adolescência, a ferrovia era EFA (Estrada de Ferro Araraquara) seu pai, manobrador de trens, foi transferido para Araraquara. A mudança foi até hilária, pois todos os pertences foram transportados por um trem de carga.
Landim veio para junto de seus pais depois de um mês, pois trabalhava em uma padaria.
E por falar em trabalhar, Paulo começou a trabalhar muito cedo, tinha uns 12 anos quando entrou nesta padaria que se chamava Pão Gostoso. Era balconista e entregador. Levantava às quatro da manhã para entregar pão. Naquele tempo tinha os carrinhos puxados por cavalos para entregar os pães, mas Landim usava uma daquelas bicicletas com suporte de cesto. “Eu tinha que ajudar. Meu pai ganhava pouco e eu era o filho mais velho”.
Para Landim, o caminho das pessoas está nas mãos de Deus e, ele acredita, que vir para Araraquara foi uma grande oportunidade. “Eu era um menino que gostava muito de estudar desde muito pequeno já tinha alguns sonhos”.
Quando tinha dez anos, em Jales, alguns coronéis da cidade costumavam fazer comícios nos sítios e tinha caminhões de pau de arara que levavam as pessoas para esses comícios e Paulo ia escondido de sua mãe para ver os candidatos a prefeito discursarem. Tinha o sonho de ser político. E sentia que tinha uma missão de ajudar o seu próximo, as pessoas mais necessitadas e isso era uma coisa da sua mãe que veio de uma família muito pobre. Ela lavava e passava roupa para fora e Paulo ia entregar. Até chegar aos 12 anos e ir trabalhar na padaria, já tinha trabalhado de engraxate e vendedor de maçã do amor quando o circo chegava à cidade.
Araraquara
Como a matriz da EFA era sediada em Araraquara, o pai de Landim o trazia para a cidade todo ano. Vinha receber o décimo terceiro, as férias. “Eu tenho marcas de Araraquara. Quando a gente chegava tinha o Bar da Coruja, hoje extinto, o Laticínio Morada do Sol, que tinha carrinhos puxados por cavalos e que entregava o leite em garrafas de vidro. Também me lembro da cavalaria daquele tempo e da qual eu tinha medo. Então quando cheguei na cidade eu já tinha uma impressão de Araraquara”, acrescenta contando que foram morar na colônia Paulista em frente ao campo da Atlética, Altos da Vila Xavier. “Era um mundo diferente. “Araraquara era uma cidade que quando você chegava as pessoas perguntavam de que família você era”. Filho de ferroviário, mãe dona de casa. Embora no norte tenha uma família tradicional de políticos, tem uma cidade que se chama Paes Landim e em Portugal um time com esse nome. Mas em Araraquara quem é Paes Landim?
“Então para buscar meus sonhos eu tive que lutar muito. Eu me lembro do senhor Antenor da Costa, pai do Antenor que jogou na Ferroviária e que nos acolheu muito. Minha mãe contava que se mudaram para uma casa que não tinha luz, então teve que fazer uma monte de coisa. Uma casa que só tinha três cômodos. A gente dormia na sala, pois tinha um quarto só. Tivemos que nos adaptar de uma forma muito forte e tivemos que lutar muito”.
Caminhando
Já em Araraquara Landim começou a fazer o curso técnico de assistente de administração. As aulas eram dadas alternadamente no EEBA e no Senac.
Também começou a trabalhar. Exerceu diversas funções como servente de pedreiro, ajudante de serralheiro no Bar da Estação (de trem) onde entre coisas, com um carrinho vendia biscoitos e pastéis. Ficou ali durante três anos, depois foi fazer tiro de guerra e faculdade de administração de empresas, na Fefiara, hoje Uniara. “Na estação, foi um universo muito gostoso. As pessoas viajam de trem. Tinha trens de luxo, dormitórios, vendedor de revista e restaurantes dentro dos trens. Tinha os três de primeira e segunda classe, onde muitas vezes viajavam nordestinos com sanfonas. Viajar de trem era uma festa. Ficou uma lembrança muito gostosa. Foi privatizado no governo Covas, mas não devia nunca ter acabado”.
Paulo também trabalhou na Mercúrio como ajudante geral. Trabalhar, estudar, ajudar em casa e pagar a faculdade foi uma fase muito difícil, mas se diplomou em administração quando tinha 23 anos.
Formado, conheceu o Sala e foi trabalhar no Banco Econômico onde entrou como contínuo e chegou a gerente.
Em nome do pai
O pai, um manobreiro da vida, faleceu há 32 anos num trágico acidente, mas vive no coração de Paulo; Um exemplo imortal; “Eu trabalhava no Banco Econômico quando meu pai morreu. Ele foi fazer uma manobra e foi prensado pelo trem. Tinha 49 anos. Tenho muito orgulho desse simples trabalhador. Um homem que nunca faltou um dia sequer do trabalho. No dia do enterro foi um vagão especial levar o corpo do meu pai para ser sepultado em Jales. Uma honraria para um homem que deixou como legado a honestidade, caráter. Ele dizia que ser pobre não era defeito, defeito era ser desonesto e que deveríamos sempre honrar o nosso nome. Era uma pessoa alegre que saia na ala da frente da escola de samba Unidos da Atlética e ganhou uma homenagem póstuma no jornal O Imparcial feita pelo saudoso Samuel Brasil na coluna “Você faz a história”. Em sua homenagem tem uma rua no condomínio denominada Valdemar Paes Landim e em outras localidades como Jales”.
E a vida foi girando e Paulo nesse ínterim ajudou a fundar o Sindicato dos Bancários. Depois do banco Econômico foi para o Banco Nacional atuar como gerente de empresas. Posteriormente foi para o Banco Mercantil.
Vale ressaltar que Landim foi presidente do Rotary Carmo e do Banco de Cadeira de Rodas.
Vida política
Paulo Landim é petista desde que nasceu e filiado ao Partido dos Trabalhadores há tantos anos que até perdeu a conta.
A convite do próprio Edinho Silva trabalhou em sua primeira campanha para prefeito como militante. Com a vitória do mesmo, entrou como gestor do Centralizado em seu segundo ano de mandato. Posteriormente na segunda vitória do Edinho foi coordenador da Rede Básica da Saúde e depois coordenador do Pronto Socorro do Melhado.
Vale lembrar que Paulo foi proprietário do Canecão da Alameda e quem sugeriu o nome para o empreendimento foi o saudoso diretor do jornal O Imparcial, Paulo Silva.
Na política, Landim coordenou a campanha do Dr. Antonino. Não ganhou, mas teve expressivos votos. Quando Márcia Lia foi candidata a prefeita, Landim foi candidato a vereador e foi terceiro suplente.
E nesse cenário político de sua vida uma das paisagens mais bonitas é sua saudosa mãe saindo de casa e indo de vizinho em vizinho pedindo voto para ele. “Todos os dias ela está comigo. Ela é meu caminho, minha luz”. Depois da suplência Landim foi ser assessor do Edinho Silva para deputado estadual e chefe de gabinete do Edinho no PT Estadual e quando este foi candidato a prefeito se candidatou a vereador sendo eleito com 889 votos. “Foi a maior felicidade do mundo. A gente não pode desistir dos sonhos. Se você tem um objetivo na vida tem que correr atrás e, para mim, esse dia chegou e foi muito importante, pois minha mãezinha já estava doente, com um linfoma e ela viu a concretização desse sonho. Ela foi a minha posse de cadeira de rodas e aquilo, para mim, foi a coisa mais linda do mundo. No fundo eu dediquei a minha vitória a ela, pois em tudo tinha uma parte dela”.
Família
Paulo casou aos 26 anos com Alaide que conheceu na igreja Nossa Senhora Aparecida, onde ambos participavam do grupo de jovens. Por conta de localização, se casaram na igreja Nossa Senhora das Graças. “Eu me casaria com ela novamente”, diz com convicção apaixonada.
Dessa união nasceram os seus maiores orgulhos: William, formado em ciências da computação pela UFSCar e Felipe formado em processamento da dados pela Fatec. O primeiro, casado, mora em São Paulo, onde é gerente de TI de uma empresa chinesa e o segundo está na Irlanda fazendo curso de inglês.
Para Paulo, sua a família é tudo. Um alicerce e quando olha pelo espelho retrovisor da vida vê que para chegar até aqui não foi fácil. Muitas vezes teve vontade de desistir, mas obstinado e com Deus no coração foi atrás dos objetivos, apesar de todas as adversidades, principalmente com a morte trágica do pai. Um filho de ferroviário que fez muitas conquistas, pois conseguiu se formar. E que diz sem prepotência que foi um guerreiro. “Sem Educação não se chega a lugar nenhum”.