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A Educação Lúdica

José Renato Nalini

Uma das constatações mais recorrentes é a de que a escola não atrai o aluno. As mães sabem pela experiência matinal de acordar o filho, que as aulas não constituem divertimento. Ao contrário: são uma obrigação desagradável, cansativa e rotineira.

Daí que alguns pedagogos proponham a educação “lúdica”. Baseada em atividades, em jogos, em dinamismo quase sempre ausente das repetitivas e maçantes preleções. Vende-se o “lúdico” tal como se fora novidade do século XXI. Mas já houve brasileiros que se preocuparam com ele, na primeira metade do século passado.

Um escritor esquecido, mas que deverá voltar à tona segundo alguns prognósticos, é Gustavo Corção. No seu livro “A descoberta do outro”, ele aborda o tema: “O senso lúdico, semente de vida eterna, germe de esperança, nos fala duma infância persistente. Carregamos em nós o absurdo de uma meninice que nos atropela os passos de professor e industrial pedindo um reflorescimento. A idade é um insulto, sendo o fenômeno que logicamente deveríamos suportar melhor, porque nos penetra devagar, de modo insensível, produzindo uma série de hábitos. Cada um de nós tem, indubitavelmente, os hábitos próprios da idade; mas ninguém tem em si a verdadeira e integral aceitação da idade. Às vezes, o desacordo atinge uma tensão trágica quando a velhice começa a nos enrugar a pele do rosto e a nos branquear os cabelos. Vemos diante do espelho aquela sombra que somos. Mudamos cada dia e sabemos que somos sempre os mesmos; justamente quando notamos as maiores mudanças é que sentimos de modo intolerável que não mudamos”.

Interessante essa ideia da persistência do menino, seja qual for a idade a que se chega. O senso lúdico é aquele que diz que somos vivos e que nascemos para viver e não para morrer. Segundo Corção, “nossa dignidade de seres vivos é insultada pela morte, e todos desejamos, de um modo extravagante, apesar da experiência secular do universo inteiro, das mil gerações que gemeram de dor, uma felicidade perene numa eterna infância”.

A infância deixa no ser humano o clarão povoado de sonhos, alimentados pela imaginação e estimulados pelos brinquedos. Notadamente os antigos, que exigiam uma efetiva participação do brincante, em lugar dos eletrônicos, que nos mantêm reféns, inertes e passivos espectadores daquilo que foi pré-programado.

Seja como for, os brinquedos antigos podem servir como resgate de uma era em que a participação infantil no aprendizado já foi mais importante. Brinquedo como exercício preparatório para a idade adulta, como uma espécie de manobra interna de desvio ou catarse ou fenômeno de transbordamento vital. Para que nos conservemos meninos, assim como Fernando Sabino, falecido em 2004 e que elaborou seu próprio epitáfio: “Aqui jaz, Fernando Sabino: nasceu homem, morreu menino”.

Redação

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