Walter Miranda
As matérias mais interessantes nos cursos de Ciências Contábeis e Econômicas são as voltadas para os setores públicos. Através delas aprendemos a identificar os principais problemas envolvendo a arrecadação e aplicação de dinheiro público. Das três esferas públicas de governo (Municípios, Estados e União), a maioria avassaladora dos recursos vai para a União.
O incrível é que, objetivando proteger os banqueiros e outros especuladores financeiros, os governantes nos últimos pelo menos 30 anos, têm afirmado que o problema do Brasil é o gasto com serviços públicos, como por exemplo, das áreas da saúde, educação, assistência e previdência social, o que não é verdade.
É uma armadilha muito perigosa pensar que a “corrupção” é o maior problema nos gastos públicos. O maior problema, de fato, é o gasto com o denominado “serviço da dívida pública”. Ele compreende os gastos com juros e encargos da dívida pública, algo em torno de 50% do montante. Tais recursos enriquecem cada vez mais os banqueiros e especuladores financeiros no Brasil e de outros países.
Acessando o site oficial “Portal de Transparência”, apurei que no período de 01 de janeiro a 20 de setembro de 2019 o governo Bolsonaro gastou R$ 1.892.589.489.268,17 (um trilhão, oitocentos e noventa e dois bilhões, quinhentos e oitenta e nove milhões, quatrocentos e oitenta e nove mil, duzentos e sessenta e oito reais e dezessete centavos).
Deste montante, destaco os gastos a seguir demonstrados:
Gastos
Juros e Encargos da Dívida – R$ 255.383.306.322,83
Ministério da Saúde – R$ 81.563.678.341,81
Ministério da Educação – R$ 81.562.791.938,84
Previdência Social – R$ 400.371.288.591,40
Outros gastos – R$ 1.073.589.489.268,17
Vejam que neste ano houve um gasto total no valor de R$ 163.126.470.280,65 com saúde e educação, contra gastos no valor de R$ 255.383.306.322,83, a título de pagamentos de juros e encargos da dívida pública.
Se o governo federal estivesse realmente preocupado com a educação e saúde, de maneira alguma deveria concordar com o quadro acima, ou seja, deixando de gastar com setores importantes como saúde e educação para destinar recursos para banqueiros e especuladores financeiros. Penso que qualquer governo responsável deveria, imediatamente, suspender o pagamento da dívida pública, realizar uma auditoria pública e só pagar e assumir o que for realmente devido, pagando juros em percentuais adequados à realidade social e econômica do país.
Quando se propõe a suspensão do pagamento da dívida pública para uma auditoria é porque, em decorrência das denúncias dos órgãos fiscalizadores, os endividamentos devem estar contaminados por falcatruas e corrupções e, portanto, não podem serem pagos, prejudicando os gastos com saúde, educação e outras despesas essenciais para a qualidade de vida dos brasileiros, principalmente para os mais pobres, vítimas da crise em decorrência da especulação financeira no Brasil.
Sem equacionar o problema da dívida pública e dos juros decorrentes, com certeza o Brasil não conseguirá sair da crise que tem acarretado grandes preocupações econômicas e sociais. O Brasil não pode continuar desviando recursos públicos para pagar absurdos juros aos banqueiros e outros especuladores financeiros nacionais e estrangeiros.