Início Araraquara A guerra entre Rússia e Ucrânia e suas raízes históricas

A guerra entre Rússia e Ucrânia e suas raízes históricas

Artigo

Peterson Ruan

A crise entre Rússia e Ucrânia existe há um longo tempo. Porém, recentemente, o que estava apenas na ameaça e na troca de acusações entre os presidentes dos dois países, virou realidade na madrugada do dia 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia atacou a Ucrânia, por ar, terra e mar.

É importante frisar que a tensão entre a Ucrânia e os russos não é algo novo e, para entendermos o atual cenário, será preciso voltarmos no tempo.

Durante os séculos X e XI, o território da Ucrânia tornou-se o centro de um Estado poderoso e prestigiado na Europa, a Rússia de Kiev, o que estabeleceu a base das identidades nacionais ucranianas e das demais nações eslavas orientais nos séculos subsequentes. Diante disso, se conclui que o povo russo e o povo ucraniano tiveram origem comum na Rússia de Kiev.

Séculos depois, o território da Ucrânia fez parte do Império Russo um dos maiores da história. Após a Revolução Russa de 1917, seguiu-se a absorção da Ucrânia pela União Soviética em 1922.

Com o colapso do bloco comunista da URSS em 1991, a Ucrânia selou de vez a independência em um acordo no ano de 1994, sendo, portanto, uma democracia ainda muito jovem, através do Memorando de Budapeste sobre Garantias de Segurança.

Tal Memorando é composto por três acordos políticos idênticos, assinados em 5 de dezembro de 1994, durante a conferência da OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa) em Budapeste, Hungria, com o intuito de fornecer garantias de segurança por seus signatários em relação à adesão da Bielorrússia (Belarus), Cazaquistão e Ucrânia ao Tratado de Não Proliferação de armas nucleares. O memorando foi originalmente assinado pela Rússia, Reino Unido e Estados Unidos. China e França também deram garantias individuais, em documentos separados.

Como resultado, entre 1994 e 1996, Bielorrússia (Belarus), Cazaquistão e Ucrânia abrem mão de suas armas nucleares. Ressalte-se que a Ucrânia detinha o terceiro maior arsenal de armas nucleares do mundo.

Outro fato que ocorreu com o fim da URSS fora o fim da aliança militar dos países socialistas do leste europeu denominada Pacto de Varsóvia. Todavia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que é a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, não se extinguiu.

Muito pelo contrário, a OTAN expandiu as suas fronteiras para países do leste europeu como a Polônia e as ex- repúblicas soviéticas bálticas: Estônia, Letônia e Lituânia.

A Rússia, então, passou a ver tal movimentação como uma ameaça ao seu território, uma vez que esses países, incluindo a Geórgia, se encontram muito próximos das fronteiras russas.

Ao longo das últimas duas décadas, a Ucrânia vem tentando realizar movimentos de aproximação com a União Europeia e com a OTAN, resultando em diversas crises.

A crise mais recente estourou após a anexação da Crimeia, então território ucraniano, pela Rússia, em 2014. Os conflitos na fronteira leste da Ucrânia deixaram mais de 14 mil mortos desde então. A anexação viola o Memorando de Budapeste que fora fixado.

Ademais, as revoltas de separatistas pró-russos na região ucraniana de Donbass, em especial nas províncias de Donetsk e Luhansk, que recentemente declararam independência, já deixou um número incalculável de mortes.

É importante suscitar que, após o colapso da União Soviética em 1991, a Ucrânia se firmou como uma nação independente como já mencionado. Contudo, no leste, especialmente nessas províncias citadas, as minorias russas começaram a reivindicar mais autonomia política, algo que o governo central em Kiev resistia.

Ou seja, há uma divisão cultural: enquanto a parcela que vive a oeste de Kiev (capital do país) se enquadra mais aos costumes europeus e ocidentais, a outra parcela que vive ao leste enxerga mais proximidade com a cultura russa.

Em suma, a aproximação da Ucrânia com o Ocidente e com a OTAN é uma grande ameaça para a Rússia, pois a ex- república soviética está perdendo a influência do Kremlin.

Ao longo dos meses de janeiro e fevereiro deste ano, aconteceram diversas reuniões entre representantes do governo russo, da OTAN, dos EUA, da França e da Inglaterra, que buscavam medidas diplomáticas para a contenção da invasão russa à Ucrânia, para evitar o conflito armado.

Moscou exige que o país ucraniano não ingresse na Organização do Tratado do Atlântico Norte, sendo taxativo em tal exigência. Contudo, os países membros defendem que referida determinação viola a soberania do Estado ucraniano.

O ápice da tensão, como vimos, foi a invasão do país russo na Ucrânia na madrugada do último dia 24 de fevereiro de 2022, gerando a pior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial.

O Kremlin alega que quer combater um suposto genocídio russo promovido pelo Estado ucraniano, bem como combater o governo ucraniano que seria de cunho nazista com a invasão. Entretanto, a Rússia não apresentou nenhuma prova de tais alegações.

O fato é que, a Rússia não quer perder a sua influência sobre os países que eram ligados à URSS. Assim como, por exemplo, os EUA não iriam querer perder a sua influência sobre a América Latina.

Estamos diante de um jogo de poder entre duas potências, que buscam a hegemonia sobre os países do leste europeu, que pertenciam à antiga cortina de ferro do bloco comunista. E, infelizmente, quem mais perde é a população civil, condenada a se refugiar ou a morrer.

O Brasil, por meio do Presidente da República, não se manifestou sobre o assunto, alegando neutralidade, mas o embaixador brasileiro na ONU votou a favor de uma resolução que condena a invasão russa.

A presente questão deve ser resolvida logo, com diplomacia e de maneira pacífica, respeitando a autodeterminação dos povos e a soberania dos Estados, pois em uma guerra nunca há vencedores, só um enorme saldo de destruição e morte.

Redação

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