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Araraquarense toma posse como vice-reitora da Unesp

A bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq, nível 1A, a professora Maysa Furlan é uma das cientistas mais reconhecidas em sua área no país. Integrante titular da Academia Brasileira de Ciências, fez graduação no Instituto de Química do câmpus de Araraquara da Unesp de 1978 a 1981 e, seis anos depois, voltou à Universidade como docente, após realizar mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo.

Recém-empossada como vice-reitora no último dia 14, Maysa Furlan exaltou em seu discurso de posse a diversidade multicâmpus unespiana e nesta entrevista, realizada no último dia 15, primeiro dia de seu mandato, voltou a valorizá-la. “A Universidade tem mapeado a sua diversidade e podemos ampliar isso”, diz. Presente em 24 cidades paulistas, a Unesp possui cerca de 39 mil alunos de graduação e 14 mil estudantes de pós-graduação (stricto sensu).

Portal da Unesp: Em seu discurso de posse, a senhora citou o movimento antivacina. Como o letramento científico pode ajudar a combater posturas negacionistas, como o movimento antivacina?

Maysa Furlan: Esse movimento antivacina é um movimento mentiroso. Está muito claro que temos que nos aproximar da sociedade de uma forma muito mais profissional, buscando o letramento científico. Isso é importantíssimo, porque as pessoas têm que ver a importância da ciência. Temos que encontrar mecanismos para informar a sociedade e fazer as pessoas começarem a entender o significado em algumas coisas que elas não enxergavam. Vamos encontrar canais para discutir isso. É a universidade que tem que criar uma estrutura para fazer essa tradução, esse letramento, e garantir que a informação científica chegue à sociedade de maneira adequada. É fácil? Não é. É um trabalho que vamos ter que construir conjuntamente, com outros pesquisadores. É preciso nos unir com a estrutura da USP, da Unicamp, das federais, etc. para criarmos algo robusto, com alcance social.

Portal da Unesp: Nos últimos anos, tivemos movimentos que ameaçaram retirar recursos públicos da área da ciência. A senhora acredita que quanto mais o cidadão enxergar a importância das universidades isso ajudará a neutralizar esse tipo de movimento?

Maysa Furlan: Claro. Tivemos que lutar contra o Projeto de Lei 529 (proposto pelo Executivo, que previa a transferência dos superávits das universidades para o Tesouro estadual) e depois houve aquela ameaça ao orçamento da Fapesp. Os cientistas e as universidades se manifestaram, mas precisamos ter a adesão da sociedade. As universidades (estaduais paulistas) recebem quase 10% do ICMS do estado. A pessoa tem que ter claro o que a universidade faz em prol da sociedade, o que ela é capaz de construir em benefício da população paulista e brasileira. Por isso temos que nos aproximar da sociedade, das pessoas. A universidade do século 21 não tem outra alternativa. Sou muito pautada em uma frase que uso sempre: se você não enxergar sentido em alguma coisa, você não vai defender nunca, porque aquilo não faz sentido para você. Se você entender que a universidade forma recursos humanos para atuar em diferentes setores e pode beneficiar a sociedade de diversas maneiras, que desenvolve pesquisa e tem um conhecimento acumulado que ajudam a população no momento de um desastre ou de uma crise sanitária… Se a pessoa entender isso, vai chegar à conclusão que a universidade tem um custo baixo para o estado, pois é capaz de pensar os problemas sociais e mostrar soluções. Veja agora: respondemos à Covid-19 de forma muito rápida porque temos uma ciência robusta acumulada, um conhecimento acumulado. Tenho certeza que, após esta pandemia, a sociedade olhará para as universidades de uma forma diferente.

Portal da Unesp: Como vice-reitora, a senhora vai presidir o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão Universitária (Cepe) da Unesp. Quais são os desafios acadêmicos da universidade atualmente?

Maysa Furlan: Os desafios acadêmicos são imensos, mas transponíveis. Vamos transpondo as barreiras. Já fiz parte de duas gestões como assessora da Pró-Reitoria de Pesquisa e vamos avançando e abrindo caminho. Na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, por exemplo, um dos desafios é que vamos ter creditada a extensão nos cursos de graduação. Isso é fantástico, está em discussão na universidade e vamos ter que discutir muito, junto com a Pró-Reitoria de Graduação. Como poderemos propiciar aos alunos que participem de projetos que façam a diferença para a sociedade? Temos que dar respostas. Gostaria de começar a discutir com o Cepe todas as questões relacionadas às diferentes dimensões acadêmicas na sua essência e onde podemos esgotar isso para abrir novas fronteiras. Por exemplo, nossos alunos têm que ser formados com uma base humanitária. Por isso, a área de Humanidades tem que ser transversal e ter uma certa transversalidade em todos os nossos cursos. Todas as áreas têm que ter este viés e podemos começar a trabalhar com isso.

Portal da Unesp: Como será o debate da creditação da extensão nos cursos de graduação?

Maysa Furlan: Isso vai acontecer. Não porque esta gestão está propondo. Vai acontecer porque é um projeto de lei. Vamos ter que fazer isso, as universidades vão ter que dar resposta a isso. Somos uma universidade multicâmpus. Imagine podermos ter projetos de extensão que vão participar da formação dos nossos alunos. Temos cursos espalhados pelo Estado de São Paulo todo, em diferentes áreas, e podemos ter projetos maravilhosos na área de Humanidades, nas áreas mais tecnológicas, nos cursos de engenharia, nas ciências da vida… Vamos ter possibilidades de permear isso pelo estado todo. Se você pensar, já fazemos isso com nossos cursos de licenciatura. Temos formação de professores e estágios dos nossos alunos com a rede pública. Formamos bons professores para a rede pública, formamos gestores em políticas públicas, gestores educacionais, isso não é pouco. A universidade pública tem o dever de formar bons quadros para atuar na nossa sociedade.

Portal da Unesp: A senhora trata a diversidade como indutora da criatividade e há no seu planejamento a criação de um instituto da diversidade na Unesp. Como se daria isso?
Maysa Furlan: Vamos aproveitar esse nosso potencial. A diversidade é a mãe da criatividade e não tem país mais criativo que o nosso. Um país que sofre com tantas crises econômicas, e agora uma sanitária, e encontra sempre possibilidade de abrir novos caminhos e encontrar respostas em um ambiente tão caótico. A nossa Universidade é uma das mais inclusivas no Brasil, é um modelo de inclusão. Diferentes opiniões, origens, histórias… Os olhares são muito diversos. Então você tem que captar essas experiências que as pessoas trazem e aproveitar isso para se criar novas perspectivas, novos caminhos. Já temos uma experiência na universidade, que foi o Educando para a Diversidade. Conversamos com eles, que já têm um material interessantíssimo. A Universidade tem mapeado a sua diversidade e podemos ampliar isso. Esse aspecto é um assunto para pesquisa maravilhoso e poderemos trazer dados concretos de como isso tudo se fomenta na Universidade. É a oportunidade de fazer isso de uma forma mais concreta, com dados etc. Inicialmente, criamos um projeto, que ficará com um professor que vai coordenar este processo e ficar conosco na Reitoria.

Portal da Unesp: No último semestre, a senhora lecionou sob o ensino remoto por causa da pandemia. Como foi essa experiência como docente e como você vê a questão?
Maysa Furlan: Vou começar dizendo o que penso sobre o ensino remoto, que pegou todo mundo de surpresa. Ninguém estava preparado. Nem o aluno, que tem uma facilidade incrível para a tecnologia e fica no celular o dia todo. Fomos todos surpreendidos e falo isso como docente. O ensino remoto foi necessário e importante, mas não vai se perpetuar como uma ferramenta única de ensino e aprendizagem. Ele não consegue substituir aquele contato pessoal que temos em sala de aula, com conversas e discussão de ideias. Tive uma experiência muito boa com os alunos (no ensino remoto), mas a discussão ficou um pouco prejudicada. Durante a aula remota, o que a gente vê: pequenos rostos dos estudantes na nossa tela, mas a interlocução não é a mesma. Mas há pontos positivos: conseguimos gravar a aula e o aluno pode ter aquela aula disponível e olhar aquele conteúdo no momento que desejar, por exemplo. É uma alternativa eficaz para introduzir novos conteúdos e para fazermos colaborações em disciplinas ou em conteúdos com outras áreas do conhecimento, com universidades do país e do exterior. Conseguimos dessa forma transpor as barreiras físicas que tínhamos… Todo processo novo assusta no início, mas abre perspectivas também, se tivermos a sensibilidade de visualizá-las. É uma alternativa eficaz, que pode enriquecer o saber, traz possibilidades para novos conteúdos e, de certa forma, rompe a rigidez das universidades em organizar disciplinas em colaboração.

Redação

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