Luís Carlos Bedran*
Costuma-se todo fim de ano fazer um balanço do que aconteceu no período. Em caráter pessoal, relembrar de preferência os bons momentos junto com a família, com os amigos, os de lazer, tudo aquilo que nos deixou felizes, porque a felicidade, como se sabe, não consegue ser duradoura e sim passageira.
E os maus momentos? Será vantagem recordá-los? Li, não sei onde, que para darmos verdadeiramente valor à felicidade, não há como negar a existência dos problemas que nos assolam durante toda uma existência.
Então, a recordação das piores fases ocorridas num ano não deixa de ser importante, porque, em contraposição irá valorizar muito mais os momentos alegres, geralmente raros, mesmo porque sobrevivência é uma luta constante que nem sempre se consegue vencer. E aquele que não precisa lutar, se não se dedicar àquilo que mais gostaria de fazer, morre de tédio.
A imprensa, para não exigir muito dos jornalistas e de todos seus colaboradores — que também têm justo direito às festividades de fim de ano — costuma, numa edição especial, resumir as reportagens, os acontecimentos relevantes, para que os leitores possam recordá-los, pois, como não se desconhece, não fosse isso, tudo seria esquecido, porque não documentado. Pois o escrito é documento imperecível.
Embora a TV também faça isso, é diferente. Porque, tanto a visão do acontecimento, como as reportagens são imediatamente esquecidas, pois o espectador já está tão acostumado que elas costumam ser muito repetitivas.
O que grava mais na memória são os fatos que nos atingem diretamente e os outros, numa conversa social, até podem ser recordados, pois eles são comuns também ao círculo dos amigos e dos familiares que se reúnem nas festas de Natal e ano novo.
Então, quais seriam os eventos mais relevantes de 2023, tanto no mundo, quanto em nosso país? No mundo, geralmente conseguimos relembrar das desgraças. Mesmo assim são tantas, que poderia ser um exercício de masoquismo essa tentativa, como o massacre de judeus na Palestina, uma vergonha para a Humanidade; a continuidade da guerra da Rússia contra a Ucrânia que parece não ter fim; atentados terroristas em vários lugares; guerras civis nalguns países da África; assim como mortes em escolas com
armas nos EUA, quase que uma rotina; o êxodo de imigrantes na América Latina, na Europa, no Oriente, e sabe-se lá mais onde.
E no Brasil? O que houve de mais importante? No ponto de vista deste articulista, o que pôde recordar, com exceção das leis que o Congresso e o Executivo conseguiram fazer — o que foi uma vitória apesar de opiniões contrárias —, o que chocou o País foi o 8 de Janeiro.
Uma tentativa de golpe de Estado, data que ficará indelevelmente marcada nos anais da Pátria e que nunca deverá ser esquecida. Coisa essa que jamais se poderia supor que aconteceria nesses tempos democráticos, num país como o nosso. Onde vige a Constituição de 1988, de lá para cá sem sobressaltos, como já ocorrera noutros tempos.
Aliás, desde a proclamação da República…
*Sociólogo, advogado, jornalista, ex-vice-presidente da OAB/Araraquara, foi procurador do Estado de São Paulo