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Depressão não é só tristeza

Ariane Padovani

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) 800 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos em decorrência da depressão. Atualmente, o suicídio é a segunda principal causa de morte de pessoas com idades entre 15 e 29 anos. Por conta disso, 10 de setembro foi instituído como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) criaram, em 2015, a campanha Setembro Amarelo para conscientizar a população e alertá-la a respeito dessa triste realidade no Brasil e no mundo.

Segundo Camila Gama Mendonça, psicóloga da Multiterapia – Associação Integrada em Saúde e Bem-estar, não é fácil identificar se alguém está apenas triste ou apresentando um quadro de depressão, já que as pessoas confundem muito as duas situações. “Apesar de os sintomas serem bem parecidos, a depressão e a tristeza nunca devem ser vistas como a mesma coisa. A tristeza é um sintoma passageiro e normal em todos os seres humanos. Por exemplo, aconteceu alguma coisa hoje, você ficou triste e sem vontade de fazer nada, mas amanhã você já está bem e cumprindo a sua rotina normalmente. Eu costumo falar que é muito comum uma pessoa acordar triste e dizer que está depressiva. Precisamos tomar muito cuidado com isso, porque nem sempre essa tristeza é uma depressão”, explicou Camila.

 

Tristeza x Depressão

O tempo de duração dos sintomas é um dos principais fatores para diferenciar a tristeza e a depressão. “A tristeza só pode ser considerada depressão caso os sintomas sejam recorrentes e tenham duração de pelo menos duas semanas. É preciso saber que alguns sintomas de depressão aumentam com o tempo e podem não ser identificados em um primeiro momento. Alguns sintomas recorrentes da depressão são a irritabilidade frequente, dores crônicas em partes do corpo que medicamentos não aliviam, uso abusivo de álcool ou drogas, mudanças no apetite ou no peso, mudanças de hábitos, sentimentos de indecisão e culpa, sonolência ou insônia e baixa libido. Esses sintomas sendo constantes pode-se dizer que a pessoa está em um estado depressivo. Sempre fiquem atentos na duração dos sintomas, isso é o mais importante”, alertou a psicóloga.

 

Tratamento

Caso um profissional faça o diagnóstico desse quadro de depressão, o paciente pode receber indicação de psicoterapia, medicações e práticas de atividade físicas. “Independente da técnica ou da intervenção proposta pela psicoterapia, o foco do tratamento deve ser a melhora completa de todos os sintomas. E 50% das pessoas irão apresentar recaídas após o primeiro quadro depressivo, por isso que não se estipula um tempo para a alta das terapias, é preciso muita paciência e acima de tudo força de vontade para melhorar. Não é em uma sessão, não é em um mês e talvez nem em um ano que o paciente pode demonstrar melhora, depende muito mais do paciente do que da terapeuta, porque o profissional vai dar orientações e tratar o paciente, mas se ele não tem vontade de mudar e seguir as orientações, não vai adiantar, ele não vai ter melhoras. A alta só acontece quando o paciente não demonstra recaídas durante alguns meses e consegue lidar com situações que antes não conseguia”, informou Camila.

 

Depressão pós-parto

Um estudo feito por cientistas da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, mostrou que de 10 a 20% das mulheres sofrem com transtornos de humor significativos depois do nascimento do filho, o que interfere na capacidade da mãe de cuidar de si mesma e do bebê. O baby blues, como também é conhecido, pode ser difícil de diagnosticar, já que é facilmente confundido com a exaustão da nova maternidade.

“Perceba se a sua tristeza e falta de interesse pelas coisas normais do cotidiano estão tão presentes no dia a dia que a impedem de fazer suas coisas rotineiras, como cuidar de si mesma e do bebê. Se você está com essa dificuldade procure imediatamente o seu médico para orientações. Os principais sintomas da depressão pós-parto podem ser também extrema tristeza, choro que não cessa, insônia, sentimento de inutilidade e preocupação excessiva ou desinteresse pelo seu bebê. Nessa hora, a mulher precisa muito do apoio e compreensão dos familiares. Do mesmo modo que o recém-nascido necessita de um tempo para se habituar com o novo mundo, a mãe também requer tempo para se adaptar às mudanças e assumir fisicamente e psicologicamente o seu papel com o seu bebê”, advertiu a terapeuta.

 

Depressão na adolescência

O número de adolescentes com depressão também cresce a cada ano, assim como os casos de suicídio. Os sintomas da doença podem facilmente serem confundidos com as mudanças comportamentais naturais dessa fase da vida e atrasar os diagnósticos dos jovens.

“É bastante comum o adolescente passar por momentos de irritação, raiva, tristeza e desânimo, mas precisamos estar atentos se caso esses sintomas persistirem por duas semanas ou mais. Comportamentos agressivos, problemas de conduta, ansiedade constante, baixa autoestima, falta de concentração, insônia e, principalmente, ideias suicidas são outros sinais de alerta. É preciso prestar atenção se o adolescente estiver falando muito nesses sintomas e levá-lo a um profissional para ser diagnosticado. Familiares e amigos devem ser compreensivos e não julgar esse adolescente, evitar cobranças é essencial para o sucesso do tratamento, que pode incluir terapia familiar ou individual. Nas minhas terapias com os adolescentes faço trabalho com eles e sessões separadas com os familiares para dar orientações de como lidar com o adolescente nessa fase de depressão. Sempre fiquem atentos no tempo em que o adolescente vem apresentando os sintomas, muitas vezes não é normal o que está acontecendo com esse jovem”, preveniu Camila.

 

Apoio

Familiares e amigos têm um papel fundamental na melhora de uma pessoa com depressão. Dar apoio pode significar mais do que apenas oferecer um ombro para chorar. “Não olhe a depressão e diga que é frescura. Isso é uma das coisas que mais agravam o quadro de depressão da pessoa. Acredite no que ela está falando e esteja sempre junto demonstrando afeto e carinho. Seja proativo nos cuidados, fale sobre a depressão, incentive a prática de atividades prazerosas, saiba o momento de ficar em silêncio e só ouvir e incentive-a a procurar ajuda profissional. Temos que ter consciência de que o cuidado psicológico ou psiquiátrico é fundamental para a recuperação do indivíduo”, ensinou Camila. “A melhor forma de evitar o suicídio é através de diálogo e discussões que abordem esse tema tão importante para que a população consiga lidar e falar mais sobre isso”, finalizou a psicóloga.

 

Roda de conversa

 

Camila Gama Mendonça, Aline Toble, Ana Flávia S. Paschoalino, Juliana Negrini Piccoli e Ana Carolina Santos

 

A Multiterapia – Associação Integrada em Saúde e Bem-estar realizou no último sábado (14) uma roda de conversa e café da manhã com a presença das psicólogas Juliana Negrini Piccoli e Ana Flávia S. Paschoalino, além das fisioterapeutas Aline Toble e Ana Carolina Santos, para falar abertamente sobre depressão e suicídio com mulheres que sofreram, ainda sofrem ou tiveram algum parente com a doença.

A fisioterapeuta Aline Toble acredita que o alto índice de depressão e suicídio tornou-se um caso de saúde pública. “O mês de setembro é o mês em que nos unimos para propagar informações sobre os sinais e sintomas da depressão, a importância de detectar em si e no próximo esses sintomas e, principalmente, mostrar que a depressão tem cura e que o tratamento direcionado pode salvar uma vida. Eventos como este realizado na Multiterapia, em que permite a troca de experiências entre profissionais da saúde e pessoas que passam ou passaram por estas situações, podem sensibilizar e plantar uma sementinha de esperança no coração de quem passa por isso. Nosso objetivo aqui é que cada um dos presentes possa refletir sobre o assunto e propagar para os que não estão aqui presentes. Informação salva vidas”, falou Aline.

Se estiver se sentindo triste, desanimado ou com pensamentos suicidas converse com alguém. Ligue para a CVV no número 188 ou acesse o site www.cvv.org.br para apoio emocional gratuito.

Redação

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