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Desforra

Deu no UOL: “Em Pernambuco a Polícia indiciou na cidade de Vitória de Santo Antão o cidadão José Bezerra da Silva, de 44 anos por estupro da sogra de 101 anos. Esse ilícito é designado na jurisprudência por estupro, mas que o populacho no seu direito consuetudinário, numa epêntese fonética, adaptou-o em “estrupo”, de acordo com suas conveniências de morfemas curiosos que fogem ao léxico. Uma verdadeira heterodoxia gramatical, onde a ignorância desenvolve sua própria locução e o povo a acolhe de bom grado, pois a mesma vem de encontro às suas conveniências. Isso normalmente ocorre com palavras onde estão contidas certas consoantes juntas, como no exemplo dado ou na pronúncia de certos hiatos, quando distorcem-nos, como no caso da palavra “perpétuo”, onde passa a ser pronunciado “perpéuto”.
– Qual é o certo: tábua ou táuba?
– Na realidade as pessoas não falam “errado”, mas diferente. Elas utilizam o português não-padrão em suas variações que podem ser fonéticas, léxicas e semânticas, conforme as situações socioculturais dos falantes. Para o compositor Adoniran Barbosa, que letrava seus sambas como o povo falava, o certo seria táuba:
“que tristeza que eu sentia
cada táuba que caia
doía no coração”.
– Quer dizer que, neste caso, de acordo com português padrão, o certo é tábua?
– Certo, minha senhora.
– Se “tábua” é certo, então o nome de uma cidade situada no vale do Rio Paraíba está errado.
– Qual cidade?
– Taubaté. O certo seria Tabuaté.
– O nome dessa cidade é originada do Tupi-Guarani: Taba-Ibaté, onde “Taba” significa “casa” e “Ibaté” “alto”, ou seja, “casa que fica no alto”.
Mas voltemos ao Zé Bezerra. O que ele pensou antes desse ato, só um inquérito rigoroso poderá dizer. Teria sido uma atitude de vingança, a procura de fama, ou uma gerontofilia mórbida, se é que essa definição precisa ser adjetivada. Como saber? Vamos ficar com a primeira, que é mais consentânea com o humor. Se não for por esse ângulo a coisa fica pior. Vamos analisar o fato de uma forma mais light, além do insight. Senão, vejamos: precisou um nordestino, saído do agreste pernambucano, tal qual um Lampião redivivo, pleno de ódio e revolta para, não só se vingar da tirania da sogra, como também, vingar uma espécie humana, chamada de “genros”, que tem sido submetida à toda espécie de torturas e ofensas, com humilhações compulsivas.
Se o coitado do genro sai à noite para tomar umas cervejas no bar da esquina com os amigos, e volta as 11 da noite, exaurido pelas conversas moles que teve que ouvir, enquanto a esposa fica a ver novela, pronto! Quem o espera na sala, tal qual uma cascavel, chacoalhando seu guiso, avisando que ela está próxima e hábil para o bote fatal? A maldita da sogra, pronta para o sarau, numa catilinária que se estende madrugada a dentro: é de bêbado e vagabundo pra cima! Se o infeliz sai na sexta-feira de carnaval para pescar com os amigos e só volta na quarta-feira de cinzas, com confetes traiçoeiros a se mostrarem ostensivamente denunciantes pelo corpo, cansado daquela maldita pescaria, precisando de repouso; quem o espera na sala, com o discurso pronto? O tribofe da sogra. E tome sermão: é de traidor e canalha pra cima! Se o infeliz sai no domingo, logo após o almoço, para o futebol e só volta a meia-noite, infeliz com a derrota do seu time, quem está a esperá-lo, empunhando um cinto de grosso calibre, sempre ameaçadora e com a arenga pronta: “sacripanta, bem que avisei minha filha que iria casar com uma porcaria”. Sempre se impondo, a “maledetta da vecchia”.  Assim não há genro que aguenta! Ainda bem que inventaram o divórcio. Não o divórcio da esposa, mas da víbora da sua sogra.  A miserável se esquece que come e dorme às suas expensas!
Tudo bem que a revolta do Zé Bezerra foi um tanto esdrúxula, para não dizer bizarra, mas que se fazia necessária, fazia. E os direitos humanos dos genros? Ao Zé Bezerra a gratidão dos genros oprimidos por uma subjugação centenária e infindável.
Que a sua biografia seja reconhecida oficialmente e lida na TV na  voz do Cid Moreira.
O problema é se a sogra de 101 anos, gostou e pediu bis.
Se isso for provado, é um adeus às comemorações e à redenção

Redação

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