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Dia nacional da Consciência Negra

Por Walter Miranda

 

…Eu gostaria de viver bastante, mas não estou preocupado com isso agora. Só quero cumprir a vontade de Deus, e ele me deixou subir a montanha. Eu olhei de cima e vi a terra prometida. Talvez eu não chegue lá, mas quero que saibam que nós teremos a terra prometida. Nada me preocupa, não temo ninguém. Vi com meus olhos a glória da chegada do Senhor” (Martin Luther King Jr)

As palavras acima fazem parte do famoso discurso com o título “I have a dream” (Eu tenho um sonho), proferido pelo líder negro americano Martin Luther King Jr. no ano de 1963, no encerramento da “Marcha para Washington”, movimento que contou com a participação de mais de 200 mil pessoas, objetivando conquistar os direitos civis para os negros e negras norte-americanos.

A escravidão dos afrodescendentes nos Estados Unidos, na sua forma, se assemelhou à do Brasil. Lá os primeiros escravos africanos foram introduzidos no ano de 1526 e a escravidão foi legalmente abolida no ano de 1863, portanto com duração de 337 anos. No Brasil os primeiros africanos chegaram por volta do ano de 1550 e a escravidão foi abolida no de 1888, com duração de 338 anos.

Por falta de leitura alternativa e crítica, a maioria da população ignora a verdadeira história da escravidão no Brasil. A elite dominante, na época e agora, impedia que as nossas crianças e adolescentes conhecessem as suas histórias, contaminada pela violência física, social, política e econômica. É preciso saber que:

  1. a) A verdadeira liberdade dos afro-brasileiros é devida à mais importante liderança negra na época, o quilombola Zumbi de Palmares, que foi assassinado no dia 20 de novembro de 1695 no Quilombo de Palmares. É por conta deste episódio que hoje comemoramos o “Dia Nacional da Consciência Negra”.
  2. b) As terras, constitucionalmente definidas pelo artigo 68 das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988, de propriedade dos quilombolas, não foram demarcadas até hoje. O objetivo da escravidão, naquela época, era a exploração da mão de obra para produção intensiva do açúcar exportado para Portugal e Inglaterra.
  3. c) Desde que nossos antepassados, trazidos da África, pisaram no solo brasileiro, nunca deixaram de lutar pela liberdade. Indicadores do IBGE demonstram que, atualmente, continuamos social e economicamente, em situação inferior ao branco em todas as áreas.

Ainda estamos distantes da democracia racial e da igualdade prevista no artigo 5º da Constituição Federal, que garante que todos são iguais perante a lei. É por isso que sempre defendi, e continuo defendendo a implantação das cotas nas universidades e nos serviços públicos, para reparação das injustiças sofridas pela população negra nos quase 500 anos de estada no Brasil.

Os afrodescendentes mais conscientes reconhecem que a luta de Zumbi de Palmares foi revolucionária. Ele liderou, à sua época, mais de 30 mil guerreiros habitantes do Quilombo de Palmares no Estado de Alagoas. Morreu lutando no dia 20 de novembro de 1695, portanto há 324 anos, vítima de uma embosca.

O movimento “Por que o senhor atirou em mim?”, está crescendo no Rio de Janeiro e aponta a quantidade de negros vítimas de tiroteios na cidade. De janeiro a agosto deste ano de 2019 foram 1.249 pessoas, sendo 62% afrodescendentes. O número é 23% maior do que o registrado no mesmo período no ano passado.

Nesta triste estatística estão seis crianças, todas negras. A última foi Ketellen Umbelino de Oliveira Gomes, de apenas cinco anos, morta no dia 12 de novembro. No mercado de trabalho no Brasil, o salário médio dos brancos, segundo o IBGE, é R$ 2.697,00, enquanto o dos negros é R$ 1.543,00. O valor é 42,79% inferior ao dos brancos.

Pesquisei na página da Prefeitura Municipal de Araraquara a programação do Mês da Consciência Negra. Encontrei, em destaque, o show do sambista Jorge Aragão. No entanto penso que a questão racial no Brasil continua crítica, razão pela qual o dia 20 de novembro não pode ser simplesmente ser comemorado, mas debatido com muita firmeza.

A luta de Zumbi de Palmares tem que ser relembrada todos os dias no Brasil, motivando os protestos diários contra toda forma de discriminação decorrente do preconceito e do racismo que vitima milhares de negros em todo país e em Araraquara.

(*) Walter Miranda é militante do PSTU-Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado e do coletivo “Quilombo Raça e Classe”.

Redação

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