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Divergências políticas geram tumulto em show de rock

Ariane Padovani

 

No último sábado (4), o Teatro Wallace Leal Valentin Rodrigues recebeu a Seletiva do Araraquara Rock, evento que contou com a apresentação de nove bandas que pleiteiam vagas na 18ª edição do festival marcado para acontecer em julho. Ao final das apresentações, foi realizado o show da Torture Squad, banda paulistana famosa no cenário do metal brasileiro. Mas o show que tinha a intenção de encerrar a noite com chave de ouro foi marcado por um tumulto causado por divergências políticas.

Segundo testemunhas, alguns militantes políticos do Partido da Causa Operária (PCO) de Araraquara levaram cartazes que pediam a soltura do ex-presidente Lula e iniciaram um coro com ofensas ao atual presidente Jair Bolsonaro. Um dos integrantes da banda, o baterista Amilcar Christófaro, pegou o microfone e afirmou que a banda protesta contra todos os políticos em geral e que “queria que todos os políticos desonestos morressem”.

O músico voltou a tocar. Após alguns minutos, o show contou com um período de paralisação para que os músicos fizessem alguns ajustes nos instrumentos e, neste intervalo, um dos militantes começou a ofender o baterista, que novamente se levantou e dessa vez rebateu as ofensas e pediu que os seguranças retirassem o rapaz. A segurança demorou a chegar, mas segundo relatos, ele não foi expulso do local.

Nesse momento, os militantes se aproximaram do palco, mas foram contidos por membros da organização do evento, enquanto outros membros da produção tentavam conter a exaltação dos músicos no palco. Foi aí que um dos manifestantes foi atingido por um objeto vindo do palco, que seria uma latinha de cerveja, que o deixou molhado, mas não o feriu.

No evento também havia algumas pessoas a favor de Bolsonaro e uma confusão maior quase foi iniciada, o que não ocorreu por conta da ação dos organizadores, que contiveram os ânimos. A banda voltou a tocar por cerca de 15 minutos, terminou sua apresentação e atendeu alguns fãs que buscavam fotos e contato com o grupo. Apesar do incidente que foi um fato isolado, as apresentações agradaram o público.

Ouvido pela reportagem, Flávio Plex, que participou da organização do evento, negou que a banda tenha alguma ligação com algum grupo político e, inclusive, um dos preceitos para a banda ser selecionada para participar do evento é que não faça apologia a qualquer tipo de preconceito ou que tenha viés partidário. “O baterista e o baixista foram chamados de fascistas, o que não é uma verdade, tanto que a banda tem um disco inteiro chamado ‘Esquadrão da Tortura’ que protesta contra a ditadura militar. E é uma banda que não tem nenhum histórico de defesas de algum político. A atitude do baterista obviamente foi ruim porque ele comprou as provocações do rapaz, mas ele pediu desculpas e justificou que perdeu a cabeça e que isso nunca tinha acontecido”, explicou.

Nota do PCO

O lado do militante foi explanado no Diário da Causa Operária, site do partido PCO. “Castor e Amílcar Christófaro se colocavam contra a manifestação política e fizeram de tudo para cerceá-la. Por isso, tomaram uma enorme vaia e, ao serem chamados de fascistas, bolsonaristas e coxinhas, pararam o show e atiraram uma lata de cerveja no rosto do militante Tiago, que estava assistindo o show e se manifestando em frente ao palco”, diz um trecho da nota publicada no jornal oficial do partido.

“É importante deixar claro que o público exercia a liberdade de expressão e manifestação política, o que vem ocorrendo em todos os espaços públicos pelo país. Diante da incapacidade de defender o governo neoliberal inimigo da população, Amílcar Cristófaro e Castor, verdadeiros fascistas travestidos de artistas, não titubearam em tentar calar o público com agressões e intimidações”, afirma outro trecho.

Banda se pronuncia

A Torture Squad emitiu uma nota falando sobre a situação. “Basicamente o que aconteceu foi que, em um certo momento do show, manifestações contra e a favor de políticos foram entoadas pelo público e por parte da banda não houve censura. E como registram nossas músicas, não defendemos ou temos políticos de preferência, que segundo a banda a própria história da política brasileira é a culpada disso, de ajudar a não construir uma confiança, e sim o contrário, ajudar a destruir qualquer tipo de crença nos políticos dos tempos modernos do Brasil”, diz um trecho da nota.

O baterista Amilcar Christófaro também falou sobre o incidente ao Whiplash, site especializado em rock. “A real intenção do que disse no show era de mostrar que aquele era um momento de celebração à música, e não de política, que já vivemos tanto no dia a dia das nossas vidas. Que o show era o momento de sairmos um pouco dessa realidade dura da política brasileira para se divertir e energizar com a arte da música. Verdade que peguei pesado quando falei que queria que todos os políticos morressem. Claro que foi o calor do momento, é pesado, e estou generalizando, está errado, e peço desculpas por isso, até porque não sou uma pessoa de generalizar, mas estou dizendo claramente sobre políticos desonestos e corruptos que só ‘fodem’ com a nossa vida há tempos, isso sim. Mas infelizmente, não foi assim que um dos manifestantes interpretou a mensagem e realmente não sei por que ele se sentiu tão ofendido, pois claramente queremos o mesmo para o nosso país, que é o bem da nação”, disse o músico.

A Prefeitura de Araraquara, que promoveu o evento, deve publicar uma nota sobre o assunto à imprensa nesta terça-feira (7).

Redação

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