Então Jesus lhes disse-lhes: Mete a tua espada no seu lugar, porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.(Mateus 26:52)
O presidente da República Jair Bolsonaro conquistou boa parte dos seus votos defendendo o armamento da população. Com o Decreto 9685/219 insiste com a proposta, tirando a responsabilidade do Estado de nos proporcionar segurança. Para isso suportamos uma alta carga tributária.
Ao completar 10 anos do Estatuto do Desarmamento no ano de 2015, a “bancada da bala” no Congresso Nacional composta por parlamentares financiados pelos fabricantes de armas de fogo, propôs o debate sobre alterações no Estatuto para facilitar o armamento da população.
Em 2015 o coronel José Vicente da Silva, então comandante da Polícia Militar do Estado de São Paulo, criticou os que defendem a posse de arma para se defender de criminosos. Ele afirmou: “O bandido está pouco se lixando se você está armado ou não. No momento do assalto, ele está em uma posição de vantagem. A arma de fogo é um ótimo instrumento para atacar, mas é péssimo para se defender, pois quem porta sempre é pego de surpresa”.
No dia 24 de março de 2018, o mundo se emocionou com a marcha em Washington (EUA), que levou 800 mil pessoas às ruas, liderada por adolescentes e jovens. Destaque para a estudante Emma Gonzalez (18 anos), que se pronunciou pela restrição ao porte de armas e, portanto, contra a proposta do presidente Donald Trump.
Crianças e adolescentes, entre nove e 18 anos, fizeram intervenções. Criticaram a “epidemia” das mortes por armas de fogo e afirmaram ter dado início a uma revolução contra as vendas de armas nos Estados Unidos, especialmente de armas de guerra como os fuzis automáticos AR-15. O reverendo batista Martin Luther King Jr., de quem sou admirador, foi lembrado em várias intervenções.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defende o armamento da população, inclusive propondo fornecer armas aos professores para que se protejam de possíveis novos ataques às escolas. A manifestação de Washington o calou. Em minha opinião Trump precisa de tratamento psicológico.
Ao se manifestar sobre a tragédia de Suzano, com morte de 10 pessoas, o senador major Olímpio (PSL-SP) restabeleceu a proposta de Trump, sugerindo armar as(os) professores. O incrível é que mais de nove milhões de paulistas votaram neste militar. Será que se ele defendesse esta proposta na campanha eleitoral teria sido eleito?
A lista de massacres armados ocorridos nos Estados Unidos é grande e cada vez mais aumenta. Cito, por exemplo, a famosa matança de Columbine, cidade localizada no Estado de Colorado no ano de 1999, quando dois adolescentes armados assassinaram 13 pessoas, e o horror de Newton, Estado de Connedticut, onde um jovem no ano de 2012 assinou 20 crianças e seis adultos numa escola infantil. Lamentavelmente o massacre de Suzano foi mais uma tragédia imitando os péssimos exemplos vindos do país que mais exporta guerras no mundo.
O ex-policial Ronnie Lessa, suspeito de ter assassinado Marielle Franco, foi preso e confessou ser dono de 117 fuzis do tipo M-16, de fabricação norte-americana, usado nas guerras deste o Vietnã até o Iraque. O carregador deste destruidor de vidas tem 20 cartuchos num total de 300 balas. O preço nos Estados Unidos se aproxima de US$ 450,00 (R$ 1.800,00). Imaginem o que poderia acontecer se um dos jovens do massacre de Suzano estivesse com um M16?
O que me deixa indignado é que o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos parlamentares e boa parte da “bancada da bala”, insistem em seguir o péssimo exemplo americano de liberar o armamento da população. Eles não percebem, ou não querem perceber, as consequências de se ter o acesso a essa desgraça que mata milhões der seres humanos no mundo.
Penso que o Decreto 9685/2019, assinado pelo presidente Bolsonaro, que dispõe sobre o registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição é irresponsável. O decreto entra em contradição com o lema da sua campanha: “O Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”. Deus é amor, paz, harmonia e, de fato, está acima de todos sem a necessidade de armas para sermos protegidos. Precisamos desarmar o Brasil e o mundo.
(*) Walter Miranda é militante da CSP Conlutas, membro do Conselho Fiscal do Sinsprev-Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência do Estado de São Paulo e presidente do Sindifisco-Nacional-Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil, Delegacia de Araraquara