Bastante aguardado por ex-atiradores e autoridades locais, aconteceu no último sábado (14), o evento em comemoração aos 108 anos de fundação do Tiro de Guerra 02-002 de Araraquara, o mais antigo do país em atividade.
A data também ficou marcada pelo Encontro dos 30 anos da Turma que prestou o serviço militar no ano de 1989. Também denominado Toque de Reunir, o evento marcou o reencontro de ex-atiradores e amigos que há muito tempo não se viam. Eles mataram as saudades e relembraram passagens e muitas histórias vividas no TG local.
Nos anos 80, o Tiro de Guerra de Araraquara formava cerca de 300 jovens por semestre, divididos em três turmas, duas no período da manhã (5h30 e 6 horas) e uma no período noturno (19 horas). Eram pouco mais de 600 atiradores recebendo instrução no órgão militar durante o ano.
Mais tarde, já nos anos 90, com a drástica redução do investimento por parte do governo federal no Exército, os principais atingidos foram os TGs que, sem recursos, nada puderam fazer para manter seus trabalhos e reduziram seus efetivos. Nos casos mais extremos, alguns dos TGs deixaram de existir.
Importantes para a formação do jovem em uma idade onde muitos se perdem com drogas e outros vícios, os TGs ficaram politicamente um pouco à margem da sociedade nos últimos anos, mas continuaram seus serviços e seguem respeitados pela comunidade.
A falta de investimentos por parte do governo federal na estrutura dos TGs é algo difícil de compreender, especialmente pelo baixo custo de sua manutenção e o alto índice de aproveitamento que seu trabalho tem junto aos jovens e à comunidade.
Apenas para se ter uma ideia, no caso dos Tiros de Guerra, seus comandantes, que são o Sub. Tenente e o Sargento, militares responsáveis por dirigirem a unidade, são funcionários do Exército, e os fardamentos e armamentos também são de responsabilidade da força.
Ficam por conta da Prefeitura: a manutenção do prédio da unidade militar e seu funcionamento (água, luz, documentos de escritório, etc), além do aluguel das casas onde moram os dois militares cedidos pelo Exército para comandar a unidade do município.
Durante o ano de instrução, além de receberem noções de cidadania, civismo e hierarquia, valores fundamentais para se viver em sociedade, os jovens aprendem a trabalhar em grupo e participam de inúmeros eventos e campanhas de auxílio à comunidade.
O TG de Araraquara, que como dito acima já formou 600 jovens por ano, forma hoje perto de 100 atiradores no mesmo período, apesar do apoio e do interesse da Prefeitura e da Câmara Municipal.
Histórico
Fundado em Araraquara, no início de 1911, como Linha de Tiro Cívica, o TG local funcionou com sócios pagantes até o ano de 1917, quando foi definida sua incorporação oficial pela Directoria Geral dos Tiros de Guerra de São Paulo. Com a decisão, o organismo araraquarense recebeu a designação numérica, 610, e teve o termo “Federal” incorporado a seu nome, passando a chamar-se Linha de Tiro Federal nº. 610 de Araraquara.
A partir de então, pela primeira vez na República, os jovens araraquarenses passaram a concorrer ao Sorteio anual para o Serviço Militar. O primeiro Sorteio a que concorreram jovens de Araraquara se deu no final de 1917 para o Serviço Militar de 1918.
Pouco depois, em 8 de Abril de 1918, foi baixada pela Confederação dos Tiros do Brasil, a “Instrução para as Sociedades do Tiro Incorporados”, em cujas disposições determinava a extinção do cargo de Director das Linhas e Tiros. A Linha de Tiro de Araraquara, na época, contava com 166 sócios pagantes que recolhiam junto aos cofres da organização o valor de 2000$ mensais para ter o direito de fazer parte de seus quadros. Seu Presidente era o Cel. Luiz Pinto Ferraz.
A Conquista do Tiro de Guerra
Por Despacho de 19 de março de 1932, finalmente a Linha de Tiro Federal de Araraquara, que na ocasião já contava com cerca de 400 (quatrocentos) Reservistas, foi incorporada a “Directoria Geral” na condição de Tiro de Guerra.
O telegrama informando as autoridades locais sobre a decisão chegou à cidade no dia 20 de março, e comunicava também, que a antiga designação numérica, 610, seria mantida, e pela sua nova condição, o organismo da cidade passaria a chamar-se Pelotão nº. 610, ou Tiro de Guerra nº.610.
A partir desta data acabaram-se os Sorteios em Araraquara, com o Tiro local organizando as Convocações propriamente ditas, a fim de suprir a seu Efetivo, que com sua elevação a Tiro, passou a ter. Ficou também assentada a manutenção do Sargento Mariano a frente do organismo, agora na condição de Instructor do Tiro.
A boa notícia foi publicada pelo jornal O Imparcial em 27 de março daquele ano, depois que todas as diretrizes já estavam determinadas. Segue abaixo a transcrição de trechos do Comunicado Oficial da Directoria Geral dos Tiros de Guerra de São Paulo enviado para Araraquara.
Revolução de 1932
Com a eclosão do Movimento Constitucionalista em 9 de Julho de 1932, os jovens araraquarenses que integraram o primeiro Efetivo do Tiro de Guerra local se viram envolvidos em um acontecimento que quase os enviou, sem qualquer preparo, para os campos de batalha.
Tal situação somente não ocorreu em razão da grande afluência de voluntários que se apresentaram na cidade pela causa (541 araraquarenses seguiram para o front).
Além disso, o destacamento de polícia local foi enviado para reforçar as Forças que estavam se organizando em São Paulo e, por esse motivo, coube ao Tiro de Guerra-610, o policiamento da cidade, bem como, o desempenho de outras funções para a manutenção da ordem.
Alterações e Prontidão
Três anos depois da Revolução de 32, através do Decreto nº. 247 (18/06/1935), foram criados novos Tiros de Guerra onde antes existiam as Linhas de Tiro não homologadas pela antiga Lei.
No ano de 1945, pela Portaria Ministerial nº. 8.747 de 31 de outubro, todos os Tiros de Guerra existentes no país foram extintos e, pela mesma portaria foram criados aqueles que os substituíram. No caso de Araraquara, foi extinto o Pelotão nº 610, ou Tiro de Guerra nº 610, e para seu lugar foi criado o Tiro de Guerra nº 06, instalado na cidade em 14 de novembro de 1945. Mais tarde, em 1979, TG-06 foi substituído pelo atual, o 02-002.
Campanha
Logo após o termino na solenidade o comandante de instrução do TG, Sub. Tenente Cleitor de Almeida Paiva falou com a reportagem do O Imparcial e anunciou o lançamento de uma Campanha em benefício das entidades assistenciais da cidade.
Organizado pelos funcionários Delbon e Barbosa, com a supervisão do instrutor e 1° sargento Fábio Bezerra de Lima e coordenação do Sub. Tenente Cleitor de Almeida Paiva, a campanha envolve vários supermercados da cidade e visa arrecadar alimentos para o pleno funcionamento delas. Mas a coisa toda não foi feita de forma aleatória.
Segundo informado à reportagem, o TG fará a arrecadação, entrará em contato com as entidades e tomará ciência de suas reais necessidades. Só então é que os alimentos serão entregues. Ou seja: o Tiro de Guerra entregará aos interessados exatamente o que realmente estiver em falta.
Segue a lista dos supermercados apoiadores:
Supermercado Bombardi
Rede Sempre Vale
Rede Jaú Serve
Casa Deliza
Supermercado Paulistão
Vencedor atacadista
Casas assistenciais beneficiadas:
Vila Centino
Lar Otoniel de Camargo
Lar são Francisco
Lar Nosso Ninho
Hospital Caibar Schutel
Instituto do Cego
Orfanato Renascer
LBV
Fundo Social
Banco de Alimentos
Apoio logístico da Prefeitura Municipal