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Frente Parlamentar Antirracista da Câmara de Araraquara emite nota sobre operação militar no RJ

Documento repudia ação que deixou mais de 120 mortos e relaciona episódio a práticas de racismo institucional no Brasil

A Frente Parlamentar Antirracista da Câmara Municipal de Araraquara divulgou, nesta quarta-feira (29), uma nota de repúdio à operação policial realizada no Rio de Janeiro na terça (28), considerada a mais letal da história do estado e que deixou pelo menos 121 mortos, entre civis e policiais. No documento, os parlamentares afirmam que “ninguém venceu”, destacando que a violência estatal recai de maneira desproporcional sobre territórios periféricos e majoritariamente negros. A nota denuncia o uso recorrente do aparato militar como solução para problemas sociais e reforça que segurança pública deve ser construída com inteligência, direitos e preservação da vida.

O texto também aponta que o racismo institucional está presente em diversas áreas e cita um caso recente ocorrido em Araraquara: a morte de Miguel, menino negro de 11 anos, após sucessivos atendimentos de saúde marcados por negligência, segundo relato da família. A Frente pede investigações rigorosas tanto na operação no Rio quanto no atendimento à criança e afirma que o Estado brasileiro precisa romper com práticas que naturalizam mortes de pessoas negras.

Criada por meio da Resolução nº 581/2025, a Frente Parlamentar Antirracista é uma Comissão Especial de Estudos da Câmara Municipal de Araraquara formada pelos vereadores Alcindo Sabino, Fabi Virgílio, Filipa Brunelli e João Clemente, com o objetivo de promover debates, acompanhar políticas públicas e propor ações concretas de combate ao racismo. Entre suas atribuições estão a fiscalização de políticas étnico-raciais, o estímulo ao diálogo com movimentos sociais e instituições públicas, a promoção de atividades de letramento racial e a elaboração de propostas legislativas que enfrentem o racismo estrutural e garantam direitos. A Frente tem duração inicial de dois anos e atua de forma integrada com a sociedade civil e órgãos governamentais na construção de uma cidade mais justa e antirracista.

A nota completa segue abaixo.

NOTA DE REPÚDIO

FRENTE PARLAMENTAR ANTIRRACISTA DA CÂMARA MUNICIPAL DE ARARAQUARA

Araraquara, 29 de outubro de 2025

A Frente Parlamentar Antirracista da Câmara Municipal de Araraquara manifesta seu profundo pesar e indignação diante da operação policial realizada nesta terça-feira (28), no Rio de Janeiro, que resultou na morte de pelo menos 121 pessoas, número que pode ser ainda maior. Trata-se da operação policial mais letal da história do estado, onde civis e policiais perderam a vida. Diante dessa tragédia, reafirmamos: ninguém venceu. Quando irmãos tombam, quando mães enterram seus filhos, quando a violência cala vidas e sonhos, toda a sociedade perde.

Os relatos de moradores e de organizações de direitos humanos apontam que as vítimas, em quase sua totalidade, eram pessoas negras e pobres.

A morte de pessoas classificadas como “suspeitas”, antes mesmo de qualquer investigação, expõe o que os movimentos antirracistas denunciam há décadas: o genocídio da população negra no Brasil.

É impossível ignorar que, quando o Estado decide usar sua força máxima, o alvo quase sempre tem cor, endereço e classe social definidos: pessoas negras, moradoras das periferias. Não há “sucesso” em uma ação que transforma territórios inteiros em cenários de guerra, que impede o socorro de feridos, que espalha terror e que arranca de mães e famílias seus filhos.

Não há justificativa que torne aceitável uma política de segurança baseada no extermínio, no improviso e na espetacularização de mortes. Segurança pública se constrói com inteligência, planejamento, educação, acesso a oportunidades e respeito à vida.

Casos de racismo institucional estão espalhados por todo o país. Recentemente, em Araraquara, acompanhamos a dor da família de Miguel, uma criança negra, autista, de apenas 11 anos, que morreu após ter seu sofrimento minimizado em sucessivos atendimentos de saúde. Mesmo com sintomas graves, a mãe relata ter sido tratada com descaso, ignorada nos pedidos de ajuda e até orientada a permanecer no corredor, enquanto seu filho agonizava. Quando a cor da pele determina o tipo de atendimento, o tempo de resposta, a escuta e até a credibilidade da dor, estamos diante de um racismo institucional que mata, silenciosamente, cotidianamente, sem que o país pare para enxergar.

A Frente Parlamentar Antirracista defende que haja uma investigação rigorosa, transparente e independente sobre as mortes (no Rio de Janeiro e em Araraquara), além da responsabilização de agentes públicos envolvidos, e que o Brasil se debruce em torno de políticas de Segurança e Saúde que garantam direitos e preservem vidas, rompendo com a lógica racista que sentencia territórios e populações inteiras.

Hoje, choramos pelas feridas deixadas pelo racismo estrutural em nosso país. Que essas feridas sejam curadas e a esperança nos fortaleça na certeza de que a vida é sagrada e que, no caso do Rio de Janeiro, o caminho da violência jamais produzirá justiça. Basta de racismo institucional. Basta de extermínio da população negra.

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