Está criando muita polêmica o caso de Tifanny Abreu, a transexual que de homem se tornou mulher, passando a integrar um time de voleibol feminino com muito sucesso. Colegas e adversárias invejosas a acusam de vantagem indevida pois seu corpo adquiriu níveis elevados de hormônios andrógenos. Se são inegáveis diferenças que distinguem um ser masculino do feminino, verificáveis não apenas pelo físico, mas também ao nível cognitivo e psíquico, é verdade também que ninguém é 100% homem ou mulher. Há elementos de semelhanças determinados pela própria natureza: ao pênis de homem corresponde o clitóris da mulher; ao peitos volumosos desta os biquinhos de seios daquele.
Os antigos romanos diziam“natura non facit saltus”(a natureza não dá pulos), pois não existem gêneros ou espécies completamente diferentes. A língua latina, muito racional e mãe da maioria dos idiomas ocidentais, usava, além do masculino e feminino, também o gênero neutro para definir seres ou objetos que não tivessem um sexo determinado. Assim, por exemplo, o termo “mare” era declinado como gênero neutro, pois habitado por peixes machos e fêmeas. As línguas neolatinas, apenas por um critério aleatório, passaram a denominá-lo como masculino, no idioma português e italiano (o mar, “il mare”) e feminino, no francês “la mère”.
Se um ser humano não estiver satisfeito com o sexo de seu nascimento não seria justo tirar-lhe o direito da mudança, por tratamento hormonal e intervenção cirúrgica.O que não podemos admitir é a discriminação dos transexuais, o que está acontecendo não apenas nos esportes, mas também em outras corporações, especialmente nas Forças Armadas, onde militares sofrem pela intolerância. O preconceito chega a causar a colocação na reserva de gente que revela uma orientação sexual diferente. Caberia à ANTRA (Associação Nacional dos Transexuais) intensificar a luta pelo reconhecimento institucional da existência de um terceiro sexo, o “neutro”, intermediário entre o masculino e feminino, permitindo a opção desejada após avaliação médica.